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De 21 de Outubro a 03 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Cinema é uma linguagem fértil e precisa para expor as injustiças sociais devido ao seu amplo alcance em realidades geográficas e culturais muito distintas. Com a reflexão proposta pela obra, abrange denúncias universais. Temas como imigração, infância e família têm sido comuns em produções cinematográficas Europeias tendo em vista o envelhecimento, as desigualdades socioeconômicas, a xenofobia e o fluxo migratório. Adaptados de histórias reais, estes filmes tendem a chocar ao mostrar a rigidez com que imigrantes são tratados na Europa. É a denúncia do esvaziamento da humanização.
Formada em Cinema na London Film School, a cineasta Portuguesa Ana Rocha de Sousa aproveitou sua experiência de 11 anos como imigrante no Reino Unido para estrear na direção de longas-metragens com o tema imigração. Normalmente, o argumento de um(a) cineasta independente surge de um incomodo natural com realidade social que o cerca. Em Listen (2020), ela aborda o retrato de uma família de imigrantes Portugueses que lutam incansavelmente para não perder os filhos para o serviço social Britânico. A batalha atinge uma maior complexidade porque uma das filhas é deficiente auditiva.
Toda a narrativa está enfocada no cotidiano desta família e suas interfaces com o serviço social e na busca de soluções legais e alternativas para reaver os filhos. Assim, a história gira em torno de um conflito com a Justiça cuja aplicação de lei visa ao favorecimento de famílias adotantes de crianças imigrantes. Neste contexto, os pais Bela (Lúcia Moniz) e Jota (Ruben Garcia) sofrem abusos morais e têm seus filhos arrancados de seu lar após um problema no colégio da filha surda.
É esperado que o serviço social de qualquer país proteja a infância e a adolescência contra qualquer negligência e violências, através da aplicação de mecanismos legais, dando espaço para as famílias apresentarem suas narrativas e argumentos, porém, em Listen, a situação é bem diferente em função de que a família Portuguesa não é tratada como cidadã. Ela é considerada inferior e ilegal até a "segunda página", deste modo, muito interessa ao sistema Britânico aplicar a lei que convém para assegurar a adoção de crianças imigrantes por famílias locais em uma Europa envelhecida.
Esta importante temática diz respeito a um escândalo de proporções globais em países que retiram filhos de imigrantes, com ou sem detenção dos pais. São práticas abusivas e forçadas que se assemelham a uma "legalização" do tráfico humano. No roteiro, a cineasta mostra a dificuldade que os pais têm para visitar seus filhos e realizar qualquer comunicação efetiva com eles. Além disso, Ju (Maisie Sly) é tratada com preconceito e descaso por causa de sua deficiência auditiva. Diante disso, o serviço social está mais interessado em impor seu poder à força do que zelar pelo bem estar da criança e realizar um processo multidisciplinar de Saúde, Inclusão social e Educação Especial.
Com sensibilidade e resiliência, a excelente Lúcia Moniz se apropria bravamente do papel de mãe desesperada que precisa se recompor para defender os filhos. Seu grande momento de clímax é preenchido por espontaneidade e humildade excepcionais que comove muito mais, principalmente em um cenário tão hostil e aprisionante como o imposto a estas famílias imigrantes. Além disso, como muitas vezes é preciso usar as mesmas armas do inimigo, o filme não é politicamente correto. Ele traz também a realidade da ilegalidade nas ações, principalmente de pessoas que se arriscam a ajudar os imigrantes, e assim, adiciona ao drama uma ótima camada de suspense.
Merecidamente vencedor do prêmio de melhor longa-metragem de estreia e do prêmio especial do júri da Seção Horizontes no Festival de Veneza, Listen é um drama sensível que encontra força na vulnerabilidade de uma família imigrante. Como espectador (a), é revoltante presenciar uma realidade tão injusta que tenta silenciar esta família, mas o Cinema é um espaço de denúncia e de superação. Enquanto houver filmes como Listen, poderemos ser ouvidos.
Fotos, uma cortesia Mostra SP para divulgação da crítica.






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Cristiane Costa, MaDame Lumière