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De 21 de Outubro a 03 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Nas premiações do Festival de Berlim, é perceptível como eles apreciam entregar prêmios para filmes excêntricos que parecem ter sido feitos, exclusivamente, para Festivais. O longa Canadense Higiene Social (Hygiène Sociale, 2021), de Denis Côte, é um exemplo de vencedor "diferentão" como melhor Direção na seção Encounters. A incógnita que permanece é: como este filme conseguiu o prêmio?
Antonin (Maxim Gaudette) é um tipo de dândi pobretão que vive de oportunismos. Hedonista de carteirinha, ele realiza roubos, engana mulheres, dorme no carro do amigo. Mesmo com habilidade nos seus discursos e ideias, exercendo o poder da palavra com astúcia e charme, ele é um trapaceiro e fracassado. Apesar do talento, Antonin é o homem falador e angustiado que não deu certo na sociedade e não se esforça para lidar com os problemas. Com tanta retórica e tempo, ele encontra 5 diferentes mulheres: a irmã, a esposa, a coletora de impostos, a mulher que ele deseja e outra que ele roubou pertences. Todas rebatem o seu discurso, desafiando suas palavras e postura.
A ideia não é ruim e o texto muito menos, porém a execução é tediosa. A história é ambientada em diferentes áreas do campo com cenários minimalistas que priorizam a natureza, basicamente espaços verdes e o céu, com fotografia levemente embaçada em certos pontos. Não há crise em dividir paisagens bucólicas para essa higiene social e mental, entretanto, para 75 minutos de projeção, priorizar apenas uma tela "papel de parede" e personagens dialogando como um exercício de retórica não diferencia esta direção. O filme se torna entediante.
Como é um longa que utiliza o texto como muleta básica, não se pode negar que as palavras têm um efeito reflexivo com contemporâneas preocupações e ideias, e humor em determinados fragmentos. Também é compreensível porque o diretor foi enxuto nos cenários. Ele não quis inserir distrações cênicas e mantem o distanciamento social como na pandemia, logo, o público precisa somente prestar atenção na oralidade dos personagens e suas relações. Em época de Covid19, o filme mostra que o ser humano é ainda difícil de se relacionar e necessita evoluir muito.
Há filmes que funcionam para uns e não para outros e "Está tudo bem!". Pessoas, conhecimentos, experiências e emoções variam entre os indivíduos e devem ser compartilhados no coletivo como forma de amadurecimento e evolução. Antonin é elegante, charmoso e sábio para uns e um preguiçoso, imaturo e pseudointelectual para outros. Os dois lados do público vão aprender alguma coisa positiva com essa narrativa. No geral, o longa funcionaria melhor em um teatro ou simplesmente como texto.
Ainda que de forma experimental, o Cinema funciona melhor com poucas palavras e/ou silêncios do que com verborragia. A junção audio + visual é necessária no que ela tem de mais autêntico. Sabe aquele dito popular de Confúcio: "uma imagem vale mais do que mil palavras"? É exatamente isso! Se é a palavra que importa mais para essa higiene social, ela pode ser concebida na Literatura e no Teatro. Com certeza, a experiência com estas linguagens será mais agradável, intensa e catártica para esse argumento.
Fotos, uma cortesia divulgação Mostra SP
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