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De 21 de Outubro a 03 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Vencedor do Tigre de melhor filme no Festival de Roterdã, Pedregulhos (Pebbles, 2021) tem direção do jovem Indiano P.S. Vinothraj em seu primeiro longa-metragem. Filmado no Sul da Índia, em região conhecida pelo grupo étnico e idioma Tâmiles, o diretor aborda os conflitos familiares em torno de Ganapathy, pai que tem problemas severos com alcoolismo e violência doméstica.
Em razão dos desafios financeiros para viabilizar a produção do filme, P.S. Vinothraj articula uma narrativa econômica que aproveita o cenário da miserável região. Os personagens andam a pé, permanecem em seus vilarejos ou no meio da isolada paisagem. Nas cenas de maior movimentação, o diretor utiliza um ônibus caindo aos pedaços ou uma motocicleta simples para três pessoas. Desta forma, o mérito da direção está em utilizar meios modestos para rodar seu longa de estreia.
Com relação ao roteiro, não é tão atrativo como a cenografia e o jogo de cintura do diretor porque não há muita comunicação na família disfuncional com um protagonista bem raivoso e insuportável. Ganapathy anda de um lado para o outro determinado a reencontrar a esposa. Totalmente fora de controle, age como um selvagem de raras palavras. Os outros personagens coadjuvantes se assemelham ao protagonista pois não têm diálogo e afeto. As tentativas de qualquer aproximação entre familiares e parentes terminam em gritaria e agressão. O único integrante que traz uma camada dramatúrgica à narrativa é o pequeno filho, porém, o mesmo encontra dificuldades na relação.
Independente do comportamento abusivo do personagem, o filme provoca um mal estar constante, no qual a raiva é o mecanismo de comunicação do protagonista com o público. Mesmo com as paisagens silenciosas e solitárias do Sul da Índia e os elementos da cultura local como a sobrevivência a qualquer custo, como espectador, fica difícil estabelecer qualquer empatia com ele e com a família, salvo ver a miséria levada ao extremo. Como consequência, a pobreza é o que comove e incomoda, muito mais do que o vício do alcoolismo e a violência física.
Personagens como Ganapathy desgastam a experiência fílmica pois são como cães raivosos e descontrolados, cuja violência não se deve apenas ao alcoolismo. Na forma como o roteiro se estabelece, os conflitos familiares são colocados em ação através dos recursos cênicos e sua movimentação. A dramaturgia não é desenvolvida com equilíbrio, logo, a energia da raiva toma o controle da narrativa. É como se, a qualquer momento, o protagonista fosse ter um infarto ou um derrame. Nem mesmo as cenas com o filho pequeno conseguem atingir um clímax emocional. Sendo assim, ele é um personagem atormentado, incapaz de se comunicar minimamente como ser humano.
Por fim, Pedregulhos apresenta um retrato social bastante hostil, difícil de assistir, afinal, encarar a pobreza é dilacerante. É trágico do início ao fim, chegando ao ponto de levar à reflexão como é possível ter famílias tão pobres como essa: miserável no sustento, na comunicação, no afeto. Desolador!
Fotos, uma cortesia divulgação Mostra SP
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