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De 21 de Outubro a 03 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
O Cinema é uma das linguagens mais poderosas e reveladoras para explorar os simbolismos culturais de povos e regiões que são desconhecidas ou foram esquecidas na linha do tempo. Ainda que surjam como simbolismos estranhos ou incompreensíveis para diferentes contextos e realidades pessoais, o Cinema possibilita um outro tempo, o da suspensão, no qual o público observa como as experiências e culturas estão próximas umas das outras em relação a temas universais.
Dirigido por Ainhoa Rodríguez, Um Forte Clarão (Destello Bravío, 2021) é peculiar e desconcertante como fragmentos de uma natureza humana em processo de deslocamento, morte e mudanças. Ambientado em uma região rural do sudoeste da Espanha, a diretora articula forte identidade cultural, tradicional estrutura social presente na comunidade com simbolismos que trazem, ora vivências angustiantes e moribundas, ora devaneios libertários e fabulosos. Sua direção prioriza um elenco feminino que se choca com a realidade provinciana e dos novos tempos de globalização.
Os distintos núcleos femininos estão fragmentados com narrativas de mulheres, de diferentes idades e classes sociais, que expressam muito do contexto provinciano de regiões Espanholas desenvolvidas em um sistema patriarcal. Entre elas: a mulher de meia idade que tem espírito livre, infeliz no relacionamento e mal falada na cidade; a mulher elitizada que realiza encontros com outras amigas; a filha isolada que mora com mãe. São histórias em pedaços que se fundem com uma linguagem fantástica.
Em uma Espanha de maioria católica, o roteiro coloca a comunidade na comemoração da Páscoa, assim, esses festejos cristãos em homenagem à ressureição, no plano onírico, cercam os moradores com a morte simbólica, aproximando a linguagem cinematográfica a um cenário de tradição pagã, de fins, assombros e recomeços. São novos tempos que sopram no mundo e os moradores da Extremadura ficaram perdidos, como desfalecidos ou mortos.
É interessante notar que, sendo seu primeiro longa-metragem, Ainhoa Rodriguez resgata a memória, a ancestralidade, o feminino, a velhice e outros aspectos desse meio rural que são representados como fantasmas de um tempo fadado ao esquecimento. Em diferentes planos, os idosos já estão estagnados, as mulheres angustiadas e ignoradas ou em um processo de deslocamento e libertação. A cineasta realiza uma execução muito pessoal e fica bem à vontade na decupagem e montagem, tendo em vista que sua família pertence à Extremadura, além do projeto ser um desdobramento de oficinas na região.
Como parte do processo de oficinas com não-atores, ela realiza uma narrativa mais feminina com uso de mulheres comuns, mas igualmente universal sob a perspectiva de que até ponto as raízes ancestrais são mantidas e respeitadas em um mundo globalizado e cosmopolita.
Fotos, uma cortesia Mostra SP de divulgação do filme.
O filme é muito interessante, tal vez seja necessário rever algumas cenas para enteder melhor. Vale à pena assistir.
ResponderExcluirEnquanto à crítica, achei a melhor das que li, mas mesmo que fosse a única considero muita boa e enriquecedora.
O filme é muito interessante, tal vez seja necessário rever algumas cenas para enteder melhor. Vale à pena assistir.
ResponderExcluirEnquanto à crítica, achei a melhor das que li, mas mesmo que fosse a única considero muito boa e enriquecedora.