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Classificação do filme para faixa etária: 16+ anos
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Na década de Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992), cultuado thriller erótico de Paul Verhoeven, o diretor lança Showgirls (1995), outro longa-metragem controverso ambientado em Las Vegas, cidade Americana com fama de paraíso financeiro e sexual e conhecido pelos night clubs e cassinos. Diferente do primeiro, que tinha Sharon Stone e Michael Douglas no auge do estrelato em uma química bombástica, Showgirls é lançado com uma protagonista menos conhecida, Elizabeth Berkley, que interpreta Nomi Malone, uma jovem dançarina que chega a Las Vegas para conquistar uma posição nos grandes shows.
Na história, Nomi Malone começa a dançar em um clube barato gerenciado pelo cafetão Al Torres (Robert Davi), realizando strip teasers e danças privadas aos clientes. Seu sonho é ser dançarina e fugir do seu passado obscuro e misterioso. Ao conhecer Cristal Connors (Gina Gershon), principal dançarina no show business que namora o empresário Zack Carey (Kyle MacLachlan), ela desenvolve uma tensa relação de repulsa e aproximação de Cristal, com uma potencial atração sexual e envolvimento entre elas, além da oportunidade de ser sucessora de Cristal no show da Deusa.
Em toda a narrativa, o diretor não economiza corpos semi nus, olhares, gestos e insinuações eróticas, violência e muita dança e sedução. Embora o roteiro traga temáticas realistas sobre as dançarinas nos clubes noturnos em Las Vegas como sobreviventes e sonhadoras, a jornada é protagonizada por Nomi com o apoio da amiga Annie (Ungela Brockman). Nomi tenta manter sua integridade feminina em boa parte da projeção, se esquivando de ser tratada como uma mulher qualquer. Mesmo com homens desejando levá-la para a cama como o dançarino e amigo James Smith (Glenn Plummer), seu chefe e outros homens da companhia, ela se preserva até se envolver com Zack Carey.
Showgirls traz muita diversão como uma comédia com um roteiro que funciona muito bem para a proposta dos shows de Las Vegas, mostrando os bastidores dos clubes com os ensaios e apresentações, os conflitos e atração entre Nomi e Cristal, os desafetos e afetos por trás dos palcos. A intenção do cineasta nunca foi retratar algo pesado tão diretamente, ainda que, no último ato, a violência contra a mulher tome um rumo desproporcional em relação ao início e meio do roteiro. Isso não quer dizer que não há violência no longa: há muito abuso partindo da premissa de como as mulheres são tratadas como objeto e apenas corpos sensualizados (e sexualizados).
Nomi constrói sua jornada com determinação, beleza e sedução, mas também não é totalmente politicamente correta na sua busca e sobrevivência, ou seja, nos seus desejos mais íntimos, ela não tem problema algum em tirar o lugar de outra competidora, transar com o chefe ou bater em algum agressor, afinal, o filme não é uma fantasia para princesas. Aos poucos, Nomi se posiciona como uma estrela que, para sustentar seu espaço, tem o desafio de ver o alto preço para se manter como estrela do show.
A atuação de Elizabeth Berkley é positiva ao reunir autoconfiança, firmeza e sedução. Nomi é dócil mas não é ingênua, especialmente no jogo de atração e repulsa por Cristal no qual elas se provocam. Esta faceta da personagem possibilita observar algumas nuances instigantes, como por exemplo, qual é seu passado e se ela é bissexual. Paul Verhoeven usa e abusa das sugestões sobre a bissexualidade das personagens, sendo que, no caso de Cristal, ela assume sua atração por mulheres desde o princípio. Até aqui, o diretor apenas reforçou seu entusiasmo pelo tema pois Instinto Selvagem já havia mostrado cenas lésbicas.
O diretor se diverte em Showgirls e resta ao público rir com ele, inclusive revivendo algumas cenas de Instinto Selvagem que se assemelham a uma paródia de suas obras, por exemplo, na forma que Nomi move loucamente o seu corpo ao realizar um strip tease para Zack e Cristal e ao transar na piscina com Zack. Ele também capricha nas coreografias do show Deusa, uma das melhores partes do filme, que demonstra o esforço da equipe para criar um show artístico com corpos esculturais.
Com uma filmografia irregular que, nos anos 80 e 90 destacou excelentes obras como Robocop, O Vingador do Futuro e Instinto Selvagem, o lançamento de Showgirls provocou um fenômeno de ame ou odeie, desta forma, o longa tem fama de trash por parte das pessoas que o consideram vulgar ou resultado do vício polêmico do diretor em abordar o sexo pelo sexo. Este pensamento é radical porque, essencialmente, Paul Verhoeven trata muitos planos de seus filmes com humor, utilizando uma lógica subversiva para criticar a sociedade.
As críticas estão todas no roteiro e o diretor trabalha com um texto sem papas na língua exatamente para mostrar os bastidores inspirados na realidade. São constatações e decepções contínuas nas quais mulheres são abusadas, violentadas, usadas e tratadas muito mal. O linguajar de "puta", "vadia" etc parte, inclusive de mulheres para mulheres, oferecendo uma visão de que a sociedade foi construída de forma violenta até dentro do mesmo gênero. Homens que pedem por sexo oral ou para mulher tocar os seios e, nem ao menos, tem qualquer relacionamento com ela. Famosos e empresários que pensam que podem comandar, possuir e dominar mulheres. Todas estas são evidências da violência e vulgaridade deste patriarcado.
Mesmo com tanta linguagem grosseira, o filme é divertido em boa parte do tempo, com exceção do terceiro ato no qual a violência contra a mulher provoca revolta e deixa o clima pesado. Enfim, ainda é um clássico cult imperdível apesar de ter recebido prêmios de pior filme! É uma mistura de sonhos, frustrações, música e dança. É uma jornada semelhante à própria vida na qual, por trás do palco, da beleza e do brilho, nem tudo são estrelas. Muitas vezes é bom chegar ao topo para ver que aquele ali não é o melhor lugar.
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