Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Remakes transitam entre o necessário e o desnecessário no Cinema. Ainda hoje, eles são capazes de despertar a curiosidade ou a indiferença, tudo depende de qual obra, elenco e diretor(a) envolvidos. Se olhar o copo cheio, verá que o remake pode ser vantajoso em determinados contextos e suportes ao possibilitar que as pessoas conheçam obras que, muito provavelmente, não conheceriam se dependessem do acesso ou da pesquisa aos filmes originais.
É o que acontece com o suspense "O Culpado" (The Guilty, 2021), produzido e protagonizado por Jake Gyllenhaal sob a direção de Antoine Fuqua. Lançado na Netflix, o filme é baseado no Dinamarquês "A Culpa" (Den Skyldige, 2018) que foi pré-indicado ao Oscar e exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2018. A parceria com o serviço de streaming viabiliza a democratização da obra considerando que a massa de espectadores tende a buscar filmes americanos, com atores já consagrados ou, no mínimo, conhecidos.
Antoine Fuqua é um diretor adepto de filmografias que envolvem algum contexto ou tipo de violência e mantem trabalhos colaborativos com excelentes atores como Denzel Washington, Ethan Hawke e Peter Sarsgaard. Em seu último trabalho com Jake Gyllenhaal, Nocaute (Southpaw, 2015), a dinâmica desportiva do boxe é o centro de outros conflitos bem maiores que cercam o drama do protagonista. Com O Culpado, a parceria retorna com a vantagem de que, como em Nocaute, muito da responsabilidade dramática depende de Jake Gyllenhaal.
Para quem não conhece a história original, assistir ao remake Americano compensa porque o ponto de virada é a melhor atração. Assim, este é um filme que exige muito mais que o espectador o desconheça por completo. O personagem Joe Baylor (Jake Gyllenhaal) é um policial que, após ser afastado do campo, está readaptado a atender chamadas de emergência. Em uma das ligações, ele tem contato com uma vítima e faz de tudo para mantê-la viva e esperançosa. Ele apenas não imaginava que essa ocorrência despertaria diferentes gatilhos emocionais nele e traria à tona conflitos internos com seu passado misterioso.
O diretor mantem a mesma estrutura espacial e temporal do original: é claustrofóbica, limitada no espaço, com a atuação de um homem só como base da narrativa. Joe fica aos telefone em grande parte da história, portanto, a atuação facial e as distintas gradações de fala acrescidas ao desespero e angústia dos personagens fazem a diferença na qualidade do longa. Tanto as atuações do protagonista como do elenco de voz são boas, entretanto, para quem já assistiu ao original, muito desse efeito pode vir a se perder, dependendo de cada percepção.
Em comparação ao original, O Culpado perde ligeiramente espaço considerando que o Cinema Dinamarquês tem uma característica de profunda expressividade da dor humana, ou seja, consegue conceber muito bem os dramas mais dilacerantes que pesam no indivíduo como a raiva, o medo, a tristeza, entre outros; desta forma, a dinâmica do original tende a ser mais sufocante, brutal, pesada. O ator Jacob Cedergren que performa o protagonista no filme Escandinavo tem a qualidade de ser um ator dramático muito crível e com nuances interpretativas que permeiam a violência, a fúria e a melancolia. Por outro lado, Jake Gyllenhaal ainda leva o jeito carismático e vulnerável de um eterno jovem. Essas diferenças interpessoais e culturais entre os atores são notáveis na experiência com o filme, ainda que as atuações sejam compatíveis.
Como todo gatilho emocional que provoca desdobramentos surpreendentes, aqui não é diferente. Joe Baylor é um personagem em conflito e com uma personalidade mais emocional que racional. O centro da narrativa é a sua culpa que entrecruza o passado e o presente. Ao final, ele tem o benefício de aprender com a situação. No geral, o interessante da história é ter acesso completo a estas emoções em um espaço reduzido e sob pressão que apreende a atenção do público. O espectador tem a ampla visibilidade dos altos e baixos de Joe Baylor à medida que ele tenta salvar uma mulher assim como pode observar se ele realmente enxerga as coisas como são.
Como toda boa história que revela a vulnerabilidade humana e a força que há em assumir as fragilidades, O Culpado é um suspense imperdível que se destaca como um dos melhores lançamentos da Netflix em 2021.
0 comentários:
Caro (a) leitor(a)
Obrigada pelo seu interesse em comentar no MaDame Lumiére. Sua participação é muito importante para trocarmos percepções e opiniões sobre a fascinante Sétima Arte.
Madame Lumière é um blog engajado e democrático, logo você é livre para elogiar ou criticar o filme assim como qualquer comentário dentro do assunto cinema e audiovisual.
No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.
Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.
Saudações cinéfilas,
Cristiane Costa, MaDame Lumière