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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Normalmente o Cinema Dinamarquês tem...

Culpa (Den Skyldige, 2018)




Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Normalmente o Cinema Dinamarquês tem a virtude de contar histórias reais ou tão próximas à realidade com uma aparente naturalidade que, logo mais, leva ao choque. Em um mundo cada vez mais caótico e perverso, chocar-se com o desdobramento de uma história violenta não deveria ser novidade, entretanto, no Cinema produzido pela Dinamarca, a dinâmica é levar o espectador a uma compreensão de determinados dilemas morais que, por mais chocantes que sejam, fazem parte do cotidiano de muitas famílias e ainda surpreendem na ficção.








Em "Culpa" (Den Skyldige, 2018), filme dirigido por  Gustav Möller, vencedor de prêmios nos Festivais de  de Rotterdam e Sundance, pré indicado ao Oscar e destaque na Mostra SP 2018, o excelente ator Jakob Cedergren (de "Submarino") é o policial Asger Holm que, após ser afastado da atuação em campo, atende chamadas de emergência na delegacia.  Ao receber uma ligação de uma mulher sequestrada, ele passa de um envolvimento racional com a vítima para uma determinação bastante emotiva. Começa a corrida contra o tempo para salvá-la.


É um filme bastante interessante na forma como foi dirigido, com uma clara limitação de espaço e tempo para a ação do protagonista, o que favoreceu o resultado da obra. O personagem central fica bem restrito ao telefone e as impossibilidades de ir atrás da vítima, como consequência, o público é jogado em uma tensão entre a situação vivenciada pelo policial, seu histórico profissional e o sentimento de culpa e as dúvidas sobre a mulher sequestrada e seu caráter.  


A experiência de Cedergren como um ator dramático, bem seguro na atuação, possibilita uma melhor conexão do público com sua interpretação. Além do mais, foi uma grata surpresa ver o seu retorno ao Cinema. Ele não realizava longas desde  o excelente "Submarino", drama premiado que realizou com Thomas Vinterberg. Em "Culpa",  considerando que ele realiza uma atuação com pouca transição entre espaços e tempos, sem muita interação com coadjuvantes e com uma câmera continuamente em close up no seu rosto, certamente, seu retorno é um presente aos apreciadores de um bom drama.






O thriller criminal do começo ao fim é envolto em um iminente descontrole do policial. Ao mesmo tempo que ele deseja ajudar a vítima, ele  começa a fazer suposições impulsivas em uma relação mais próxima com a sequestrada, que já ultrapassa o código racional que há em situações como esta, assim , ele realiza julgamentos que, certamente, o público também realiza. Em muitos momentos, questões como : "o policial está exagerando na tratativa do caso"?, "essa vítima é realmente uma vítima"?, "quem é esta mulher e seus segredos"? são comuns. Tudo isso torna a experiência mais envolvente, na qual o público também sente a pressão em tempo real.


A escolha de realizar um suspense no qual um policial estabelece uma conexão mais emotiva com o crime como se fosse um membro da família ou um amigo próximo da vítima também ajuda a criar uma conexão com o policial. Muito mais do que o ofício, tentar resolver algo por telefone chega a ser doloroso para quem observa toda essa angústia. Esta é uma dor necessária à história. Sem essa tensão à distância, o filme não teria qualquer diferencial.


Como o bom Cinema Dinamarquês, nem tudo é o que parece. Há bastante pressão no protagonista, confinado à uma sala, em um trabalho econômico de câmeras que ajuda a criar um clima de forte tensão e mistério. Cabe ao espectador acompanhar esse conflito com várias incógnitas pelo caminho. Nesse aspecto, Jacob Cedergren foi um elo eficiente. O filme é dele, bem apoiado por uma direção jovem, competente e focada na proposta.





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