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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Dan Stevens (de "O hóspe...

Um outro olhar (The Ticket, 2016)






Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação





Dan Stevens (de "O hóspede") é um daqueles atores que guardam muito mais mistérios do que seu olhar marcante. Ele deveria realizar mais filmes dramáticos.  Muito mais do que sua beleza e charme britânicos, ele é o tipo de ator que, se bem dirigido em bons roteiros, poderá surpreender o público. "Um outro olhar" (The Ticket, 2016), longa americano com direção de Ido Fluk, é um exemplo de drama que ofereceu um bom espaço para atuação de Stevens, porém, ainda se estabelece como um filme que não entregou o suficiente dentro do potencial que a história tinha. 






O ator interpreta James, um homem cego, casado com Sam (Malin Akermane que tem como melhor amigo, Bob (Oliver Platt), também com deficiência visual. Certo dia, James volta a enxergar como se fosse um milagre. A partir do restabelecimento de sua visão, ele começa a ficar em êxtase, mas  um pouco deslocado no ambiente e entre as pessoas ao redor. À medida que a história avança, sua mudança comportamental dá uma virada de 180 graus e ele passa a atingir um regresso nas atitudes, mascarado por seu crescimento de carreira e uma ganância a qualquer custo.






Quando dizem que a "ganância cega", ela realmente cega e representa um atalho com duras perdas pelo caminho e, até mesmo, um caminho sem volta. Assim, essa história é sobre a relação da cegueira como símbolo da ganância no caráter, exposto nas mudanças comportamentais do protagonista que , de tão perversas e dissimuladas, de tão preocupadas com a beleza, o sucesso e o status que seus olhos testemunham, desejam e veneram, vão demonstrando que, se uma pessoa não tomar certo cuidado, ela passa a abandonar amigos e familiares quando ela finalmente "ganha um bilhete de loteria". 


James é exatamente aquele homem interesseiro que ninguém deseja ser ou ter por perto. É aquele que remove a máscara quando começa a se dar bem na vida e descartar pessoas do dia para a noite. A imagem dele como personagem principal é construída de forma bem negativa e mostra o quão superficial ele se torna, por mais inteligente que seja no seu emprego. Então, um bom contraponto é perceber a perda de valores do protagonista, valores que talvez ele nunca realmente teve para si. Esse "outro olhar" é o que ele desenvolve quando recupera a visão, mas também nós, como espectadores,  temos a chance de desenvolver um nova perspectiva sob o personagem. Aliás, um olhar que não é muito otimista.





Dan Stevens realiza uma interpretação crível que reforça seu potencial para novos trabalhos de maior natureza dramática. Seu personagem muda da água para o vinho. Ao mesmo tempo, ele se torna mais belo, sedutor e bem sucedido, por outro lado, a facilidade com que ele abandona coisas importantes na vida o torna um homem desprezível, ou melhor, um coitado que está mais cego do que antes e que pode se dar muito mal na vida.  Desse modo, o filme tem grande valor como reflexão de quem realmente somos ou quem podemos nos tornar quando somos bem sucedidos, mais endinheirados e/ou desejados e apreciados socialmente. 


Apesar do esforço de Dan Stevens, é importante considerar que o filme tem problemas exatamente porque faltou desenvolver melhor os conflitos, além de apresentar um ritmo muito lento para as ações presentes. Ao colocar muito foco no protagonista, os conflitos que ele tem com a esposa, com o amigo e em outras cenas não são bem desenvolvidos gerando, assim, lacunas na história, um desperdício para a potência psicológica do tema. Como o diretor não é um expert em dramas e nem o roteiro é fenomenal, temos aí um filme que se posiciona na fronteira entre o bom e razoável e deixa uma sensação de vazio, a de que ele poderia ter sido bem melhor.








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