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De 21 de Outubro a 03 de Novembro
Por Cristiane Costa, Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação
Os estados de espírito em viver em um confortável lar na Floresta Negra Alemã e em partir para a autodescoberta em uma solitária viagem a Hong Kong são bem mais próximos do que o imaginado. É o caso de Anke Bak, uma senhora sexagenária e recém-aposentada que decide passar as férias de verão com os filhos. Porém, muda o rumo da viagem depois que seu filho Max, que vive em Hong Kong, não pode passar as férias no Mar Báltico. Anke parte para visitar Max. Nos primeiros dias, enquanto ele resolve um compromisso de negócios, ela perambula sozinha pela cidade.
Hong Kong é apresentada em meio a protestos e a pandemia, nesse sentido, a solidão de Anke é intensificada devido a tensão entre o isolamento e os protestos, entre a ausência do filho e a exploração da cidade. Anke sai do lugar comum da mãe que já criou a prole e entra em um mundo de escape conduzido por si mesma. Como será sua vida daqui pra frente? Mesmo discreta, ela enfrenta com coragem um local desconhecido como uma estrangeira no estrangeiro.
Em seu primeiro longa-metragem, o diretor Alemão Jonas Bak dirige um filme intimista, solitário, calmo. Inspirado pela sua avó, a maternidade, a relação pais e filhos e o envelhecimento, o jovem cineasta demonstra sensibilidade e tato para equilibrar as dimensões de familiaridade com a protagonista e a execução de um roteiro universal e contemporâneo.
Ainda que motivada a visitar o filho, a viagem de Anke surge como um mundo de possibilidades e descobertas pessoais como deve ser, sem florear a velhice, a solidão e o ócio. A narrativa reserva a uma senhora um momento privado e realista, na qual ela explora a cidade como dormir em um quarto compartilhado em um hostel ou almoçar com o porteiro do prédio. Nada é planejado como férias meticulosamente organizadas para Anke. Ela improvisa, se coloca como uma ouvinte e observadora, aceita a solidão do momento, está aberta às pequenas gentilezas e pessoas.
O cineasta é multifacetado como várias diretores(as) em festivais que estão na luta por um espaço. Ele atua como diretor, roteirista e montador. Aproveitou muito bem suas vivências em Hong Kong como diretor de Fotografia para compor belos planos de Anke e a cidade, explorando prédios em áreas internas e externas, as regiões ao ar livre, a comunicação de Anke com os estranhos, o fervor da aglomeração. A linguagem cinematográfica utiliza a fotografia e montagem como principais fatores estruturantes do longa, além da excelente atuação de Anke Bar como uma pessoa comum, acessível, tranquila e educada.
O diretor realiza um obra bem equilibrada para a proposta e acerta em não inventar diversos artificialismos para reforçar a solidão da velhice. Muitos filmes que abordam o assunto tentam dramatizar ao máximo um movimento natural da vida. Envelhecer, sentir-se deslocado(a) e entrar em mais uma crise existencial não é fácil, mas é preciso considerar que cada ciclo da vida é uma jornada de autoconhecimento, consciência e desapego.
Amores, filhos, netos, amigos e colegas nem sempre permanecem ao lado nesses diferentes ciclos; muitos desaparecem como previsíveis ingratos e ocupados, logo, partir para uma viagem de autodescoberta e crescimento é o melhor a se fazer. Viver importa enquanto há tempo, e em um mundo caótico, muito mais silenciar a alma e viver bem na própria companhia.
Fotos, uma cortesia Mostra SP para divulgação do filme.
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