Estreia nos Cinemas - 09 de Outubro.  Imperdível! #Memóriaafetiva #Juventude #Nostalgia #ComingofAge #Amadurecimento #CinemaBrasileiro #Fill...

O Último Episódio (2025)




Estreia nos Cinemas - 09 de Outubro.

 Imperdível!


#Memóriaafetiva #Juventude #Nostalgia #ComingofAge #Amadurecimento #CinemaBrasileiro #FillmesDePlástico #CinemaFamília #AmizadeVerdadeira #OÚltimoEpisódio #Lançamentos2025


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



O Último Episódio: Nostálgico, Afetuoso e Único, com Sabor de Doce Mel



Há filmes que atravessam memórias afetivas profundas como uma genuína celebração dos ritos que nos ajudam a encontrar aspectos essenciais de quem somos. O encontro com a própria existência. O recém-lançado longa-metragem brasileiro O Último Episódio, produzido pela excelente Filmes de Plástico e dirigido por Maurílio Martins, é um desses filmes que me fazem despir múltiplas camadas, enquanto gestos sinceros e afetuosos me abraçam. Atravessar essa experiência foi tão dócil e leve que, de forma rara, decidi escrever essa jornada com uma escolha estilística: escrever esse texto em primeira pessoa do singular.



É provável que o diretor e eu tenhamos idades parecidas, pois sou a garota que poderia ter inspirado Cristiane/Cristão (Tatiane Costa), personagem que carrega meu nome e minha época. Certamente eu era mais tímida do que ela, mas vivi a época do longa, 1991, na minha adolescência, e era aficionada pelo desenho Caverna do Dragão, uma obra muito mais que nostálgica, uma preparação para os ritos de passagem, inclusive, na minha visão, de natureza junguiana, com uma contínua busca pela individuação, entre ciclos em minha existência.







Nessa experiência nostálgica e, por ser também educadora, me percebo dentro desse filme, numa jornada descontraída, mas profundamente reveladora, que passa por lembranças como o hit Losing My Religion do R.E.M., o Doce Mel da Xuxa, os bolos grandes e recheados de aniversário, as garrafas de Coca-Cola e Fanta, aquele lado pop de se vestir com cores vibrantes, e aquele primeiro amor platônico que mal olhava para minha cara. É nesse universo de amadurecimento que o espectador poderá encontrar em O Último Episódio um abraço amigo, fraterno. É um filme de memórias lindamente bem executado, com a delicadeza e competência que a Filmes de Plástico tem ao lidar com histórias humanizadas, elenco jovem e a escola como elemento narrativo essencial.



Nos anos 90, minha relação com o cinema era muito mais caseira e afetiva. Eu era uma garota televisiva, entre os 11 e 13 anos, vivia entre novelas, programas da Xuxa e desenhos como Thundercats, He-Man, She-Ra, Changeman e Caverna do Dragão. O cinema, para mim, existia na tela da TV. Só mais tarde, com a ajuda da minha família, especialmente meu irmão, que adorava assistir fitas de DVD, descobri o prazer de ir à locadora. Escolher um filme, levar pra casa, rebobinar a fita: tudo isso fazia parte de um ritual que me ensinou a amar as histórias e a imaginar mundos. O Último Episódio me fez lembrar desse tempo com carinho, como se cada cena fosse uma fita rebobinada da minha própria memória.







Na história, Erik (Matheus Sampaio), com 13 anos, tem um amor platônico por Sheila (Lara Silva). Encantado pela garota e dividido entre a timidez e a ousadia, ele deseja apresentar o último episódio da Caverna do Dragão, uma forma de se aproximar da amada e beijar seus lábios pela primeira vez. Ambientado no bairro de Laguna, na periferia de Contagem (MG), local onde o diretor e roteirista cresceu, a trama acompanha a amizade de Erik com Cristiane (Tatiane Costa) e Cassinho (Daniel Victor), que juntos o ajudam a lidar com essa aventura em busca do último episódio.



A ideia de Maurílio Martins de trazer esse elemento da cultura pop dos anos 90 a um longa contemporâneo é incrível. Sabemos que, pela história, o episódio final de Caverna do Dragão não foi lançado a tempo do cancelamento da série. Então, além da narrativa dos jovens em busca do retorno ao lar ser um clássico da busca pelo amadurecimento, essa intersecção narrativa, feita de forma sensível e gentil, é uma profunda reflexão sobre o amadurecimento, com todos os seus medos, inseguranças, amores, traumas e desafios. Em variados momentos, Erik representa muito de nós: um garoto que vive com uma família batalhadora, de origem humilde e com um coração gigante que acolhe suas vulnerabilidades e dúvidas. Assim, me vi em cada um deles: desde a coragem de Cristiane, a inteligência de Cassinho, à sensibilidade de Erik.



O Último Episódio despertou em mim uma profunda gratidão por ter vivido uma juventude cheia de esperança e amor por tudo que eu fazia, cada música, cada dança, cada brincadeira de rua. Sentir essa saudade não me paralisa, pelo contrário: ela desperta em mim a vontade de não desistir diante das dificuldades do presente. É como se o filme me lembrasse que a beleza da vida está nas pequenas coisas que nos fizeram inteiros.







Também me despertou o desejo de andar de mãos dadas com a minha própria criança interior. Aquela que dançava, sonhava, criava mundos com brincadeiras de rua, bolinhas de gude e fitas cassete. Percebi que ela ainda vive em mim: como um arquétipo, como os próprios personagens de Caverna do Dragão, que representam fragmentos da minha coragem, da minha força, da minha magia. Lembrar disso por meio do filme me fortalece na fase adulta, como se cada memória fosse uma centelha de potência que insiste em não se apagar.



Quando o filme mostra os alunos se organizando para uma feira de cultura na escola, fui tomada por uma lembrança doce: eu gostava de estudar. A escola era uma referência de aprendizagem, de desenvolvimento, de encontros, mesmo que eu não fosse a popular do colégio, e sim a mais estudiosa. Foi no colégio que escrevi e dirigi minha primeira peça de teatro. O Último Episódio me fez lembrar que a escola pode ser um lugar de afeto e formação, onde professores, diretores e colegas ajudam a moldar quem somos. Ao trazer a escola como personagem, o filme também me despertou um desejo: que crianças e jovens possam transformar a Educação para as próximas gerações, ao lado dos educadores, gestores e da sociedade. Porque educar é também ajudar a individuar, a descobrir os fragmentos de coragem, sensibilidade e potência que habitam cada um de nós.



Houve dois momentos no filme que me emocionaram profundamente. Um deles me fez lembrar dos bolos decorados e enormes que existiam na época: aqueles que podíamos repetir sem culpa, com fartura e alegria. No meu aniversário de 15 anos, um dos mais simples e belos que vivi, meu saudoso pai estava comigo e havia um bolo desse tamanho. Minha mãe, mesmo sem ser confeiteira profissional, era uma boleira de mão cheia e fazia bolos até para casamentos. Essa memória veio como um abraço inesperado durante a projeção. A lembrança da avó também é muito afetiva. A atriz Rejane Faria interpreta com ternura Dona Judite, vó da Cristiane, presença que reforça o calor familiar e a memória das mulheres que cuidam, ensinam e acolhem.






O outro momento foi quando um colega ajuda outro na escola, mesmo tendo todos os motivos para agir com egoísmo. Essa escolha, tão silenciosa e generosa, me tocou profundamente. É esse tipo de gesto que revela caráter, e é exatamente esse tipo de formação que a escola pode oferecer: sujeitos que olham para o coletivo, que escolhem o afeto, que transformam o mundo com pequenas atitudes.



No entanto, para mim, que sou uma aficionada, por alguns momentos, senti falta de viver mais intensamente o lúdico referencial de Caverna do Dragão. Talvez uma ou outra cena pudesse ter trazido esses arquétipos junguianos de forma mais explícita: como guia de sabedoria, sombra ou até como metáfora visual. Para os mais aficionados, como eu, fica um gostinho de quero mais. Ainda assim, o filme capta com maestria a essência da série: a busca, o amadurecimento, o desejo de voltar para casa, que, no fundo, é voltar para si.



E qual é o orgulho de ver uma obra 100% brasileira como essa? Ela celebra a brasilidade, com um profundo afeto pela memória da juventude e a belíssima potência de inspirar outras crianças e jovens, mostrando como a vida pode ser bem mais bonita do que a mera fixação em telas de redes sociais e jogos.



Eu, como um exemplar da juventude dos anos 90, posso lhes assegurar: que saudade sinto de mim mesma, daqueles tempos que não voltarão em um passe de mágica, mas que posso evocar essa magia ao acessar filmes como o de Maurílio Martins e lembrar de Caverna do Dragão, He-Man, Thundercats e até aquele vinil com capa de novela ou banda que era um grande companheiro das tardes e fins de semana. Que filhos, sobrinhos, primos, alunos, afilhados, de todos os brasileiros, também possam conhecer um pouco mais sobre essa época tão efervescente, que toca profundamente a alma de um tempo saudoso.






Um dos encantos da história está em como cada detalhe da fotografia e cenografia revela o carinho da produção com sua própria história. A construção do longa realizou um formidável trabalho desde a concepção (2009), o roteiro (2010), o formato de longa (2015) e a filmagem em 2021. Essa gestação marcada por diferentes anos culmina na entrega de uma cápsula vívida e emocional do tempo. Com a montagem criativa que mistura memória, ficção, documentário e animação, o filme merece ser assistido por cada brasileiro que, direta ou indiretamente, viveu essa época.



Em muitas das cenas, vi as ruas do bairro, o interior da sala de aula, aquelas filmagens ou fotografias dos aniversários e casamentos dos anos 90: tudo é muito nostálgico e afetivo. E a experiência é vivida com um sorriso nos lábios durante a projeção, pois lembrar do guaraná Taí de garrafa, dos discos de vinil, daqueles tocadores de fita e das bolinhas de gude (que davam medo de engolir) é, sem dúvida, um prazer existencial.



Ao final do longa, o sentimento é que a existência é um presente. O amadurecimento dói, sim, bastante, mas olhar para si não precisa ser um último episódio. O filme da nossa vida segue em exibição, com a esperança de um doce mel.







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