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Mostra SP: Assassinato Sob Custódia (A Dry White Season, 1989)

 




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Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Assassinato Sob Custódia: O Preço da Verdade em Tempos de Apartheid




O filme Assassinato Sob Custódia (A Dry White Season, 1989), dirigido por Euzhan Palcy, surge como um poderoso registro da brutalidade do Apartheid na África do Sul, expondo a violência e a corrupção institucional que operavam com naturalização pública da violência.




A jornada de Ben du Toit (Donald Sutherland) é menos um arco de redenção individual e mais um processo de humanização forçada, imposta pela dor e pela perda. O professor, que vivia alheio aos horrores do Apartheid, só consegue despertar para a realidade brutal do racismo ao confrontar a crueldade física na morte do filho de seu jardineiro, Gordon. O arco de Ben é a representação do custo que a luta contra o racismo exige de todos, manifestado no ônus da sua vida privada, no abandono da esposa e no distanciamento da filha, provando que a luta é um compromisso coletivo.












A desintegração da família de Ben du Toit funciona como um espelho atemporal e amargo da sociedade. Com exceção do filho pequeno, a esposa e a filha adulta são retratadas como preconceituosas, elitistas e com um notório problema de caráter. O filme, assim, reforça a tese de que o racismo é uma falha de caráter e moral, alimentada pela banalidade do mal e pela normalização do racismo cotidiano, que não poupa ninguém, independentemente do privilégio. No entanto, Palcy insere um eco de esperança na figura do filho mais novo de Ben, que simboliza a pureza e a inocência das novas gerações, que podem ser mais inclusivas e éticas.





A escalação de Marlon Brando, um ícone do star system e dos direitos civis, funciona como um elemento de visibilidade estratégica. Embora sua atuação seja "pé no chão" e pudesse ser substituída, sua presença era, talvez, a única forma de o sistema escutar o filme. Idealmente, Palcy teria escalado um ator negro de peso, mas o cenário era limitante. Denzel Washington só alcançaria esse status no início dos anos 90. Assim, a escolha de homens brancos e famosos no elenco principal é uma forma inteligente de a diretora Palcy reforçar que a luta contra o racismo é, fundamentalmente, uma responsabilidade de toda a sociedade, inclusive dos brancos.










A estrutura da obra funciona mais como um thriller de investigação política do que um drama de tribunal tradicional. As cenas de julgamento são rápidas e rasas na sustentação oral, o que torna evidente a impossibilidade de haver repertório para a defesa do povo negro naquele regime. De certa forma, a narrativa enfoca no arco de Ben du Toit, que é ajudado pela jornalista Melanie Bruwer (Susan Sarandon) e pelo ativista Stanley Makhaya (Zakes Mokae). Essa tríade improvisada representa uma aliança interseccional: jornalista, ativista e cidadão branco como símbolo da luta coletiva pela verdade.










A direção de Euzhan Palcy, uma cineasta martinicana, manifesta-se através de uma câmera que não poupa cerimônias. Em um ato de audácia autoral para a época, ela escolhe mostrar o massacre e a violência gratuita contra os negros de Soweto com clareza chocante. O fato de Palcy, como uma mulher negra, expor essa brutalidade sem concessões já é, em si, um gesto inspirador de coragem e um contraponto direto à omissão de Hollywood. Seu trabalho é um olhar de reparação e testemunho autêntico, que, merecidamente, levou ao seu reconhecimento na 49ª Mostra SP com o Prêmio Humanidade. Palcy não apenas filmou a dor, ela a transformou em denúncia e legado.









(3,5)

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