Novo filme de Anne Fontaine, Bolero: A Melodia Eterna, traz o processo criativo e pessoal por trás do clássico Bolero de Ravel Lançamento de...

Bolero: A Melodia Eterna, 2024




Novo filme de Anne Fontaine, Bolero: A Melodia Eterna, traz o processo criativo e pessoal por trás do clássico Bolero de Ravel


Lançamento de 17 de Abril. Distribuição #MaresFilmes

#BoleroAMelodiaEterna



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 


O Cinema é um dos mais vibrantes palcos para a Música Clássica em todo o seu poder de extravasar as emoções muitas vezes silenciadas pelo amor não correspondido, pelo luto e saudades de um ente querido, por uma doença incurável, pelo desejo de viver e de expressar os mais complexos sentimentos. Nas filmografias universais, as grandiosas peças musicais emocionam fortemente, conectando vivências com a ficção e biografias.










Um dos compositores mais expressivos e lembrados da História da Música Clássica é, sem dúvidas, Maurice Ravel. Basta lembrar que, em Batman: O cavaleiro das trevas ressurge (The Dark Knights, 2012), uma das suas mais belas composições, Pavane pour une infante défunte, domina o ambiente com uma inegável melancolia que combina perfeitamente com o heroi. Outro clássico, Bolero, agora homenageado pela cineasta Anne Fontaine, aponta para o legado magnífico de Ravel conhecido pela delicadeza estética e por um estilo impressionista ao captar as nuances da música.












Estrelado por experiente elenco, Bolero: A Melodia Eterna (Bolero, 2024) apresenta Ravel interpretado por Raphaël Personnaz, ator de "Karenina" e "O Palácio Francês". Ambientado na Paris de 1928, a famosa bailarina Ida Rubinstein (Jeanne Balibar) encomenda uma peça musical a Ravel para compor seu novo baile. Assim nasce Bolero, uma das principais obras do compositor e pianista. A trama acompanha seu processo de criação impactado pela crise existencial, as memórias da guerra, o amor não vivenciado por Misia Sert (Doria Tillier), a amizade com a pianista Marguerite Long (Emmanuelle Devos) e, por fim, a doença cerebral degenerativa que acometeu o gênio.













Antes de qualquer expectativa sobre esse longa, é importante considerar que, desde o princípio, o roteiro assinado por Anne Fontaine, Claire Barré e Pierre Trividic, realiza um claro recorte sobre o que será desenvolvido: é um filme sobre a referida peça musical. Para criá-la, se fez necessário explorar sutilmente algumas nuances deixando ao público construir a própria memória sobre Ravel. Nesse sentido, a atuação de Raphäel Personnaz vem a atender o caos existencial do brilhante compositor que, por diversas vezes, duvidou da própria obra, com claras evidências de que, ao ter muita criatividade musical aprisionada em sua mente, não escondeu suas vulnerabilidades e não viveu todo o potencial que poderia ter vivido. 










Ravel se mostra um homem muito agradável, porém de personalidade tortuosa. Bastante inseguro com as mulheres a ponto de visitar prostíbulos e não vivenciar o prazer carnal, dessa maneira, também aprisionado a um amor impossível por sua amiga Misia Sert que, mesmo tendo outros homens, encontrava em Ravel um homem acanhado sem atitude para amar. Com isso, essas nuances da trajetória de Ravel demonstram que ele tinha a música como sua principal paixão. Cercado de mulheres, da mãe à amiga, aparentava um bloqueio nas relações, voltando-se bastante às dúvidas sobre seu processo criativo. 













Dada a experiência de Anne Fontaine com cinebiografias e com uma câmera cheia de sutilezas para revelar discretamente os desejos e emoções muitas vezes incompreendidas ou ocultas, mais uma vez, ela se conecta visualmente bem ao personagem por meio dos closes e silêncios. Por outro lado, o roteiro tem a peculiar contradição de realizar o recorte de Bolero mas ao mesmo tempo tentar compor uma visão ampla com as pinceladas sobre o compositor. Em determinado momento da experiência com o filme, pode dar a impressão de que um aprofundamento nas relações, mais intensidade  e paixão pela música seriam bem vindos, porém, tal falta pode ser o reflexo da própria vida de Ravel, imerso em incompletudes.










A partir dessa constatação, o filme funciona mais pelo talento e competência de Raphäel Personnaz em transitar nos aspectos de um gênio e um homem vulnerável. Com a maestria da câmera de Anne Fontaine, a obra é um retrato convidativo de que, há grandes obras, sejam elas musicais, cinematográficas, literárias, artísticas, entre outras, que nascem a partir de vivências dolorosas e/ou ansiosas pelo idealismo, pela perfeição, pela plenitude, mas nenhuma vida é perfeita. Nenhuma! É natural que um vazio existencial seja completado pelo sensível dom da criação. Um dom iluminado com o qual o ser humano é capaz de transformar suas emoções mais complexas e difíceis  em expressiva beleza.





(3,5)





Imagens cedidas pela assessoria de imprensa para divulgação e crítica do filme

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