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  Imperdível suspense litúrgico sobre a escolha do novo Papa Com roteiro de primeira grandeza, vencedor de melhor roteiro adaptado no Globo ...

Conclave (2024)

 



Imperdível suspense litúrgico sobre a escolha do novo Papa


Com roteiro de primeira grandeza, vencedor de melhor roteiro adaptado no Globo de Ouro, BAFTA e Oscar



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 


É muito revelador e catártico quando o Cinema nos apresenta um filme com coragem para desmascarar a sede de poder que faz parte da natureza humana, especialmente, quando mostra que nenhum homem, por mais temente a Deus ou qualquer outra força superior, não abandonará os seus desejos mais profundos. Com adaptação da obra de Robert Harris, direção e roteiro de Edward Berger, Conclave (2024) retrata um dos processos mais privados da Igreja Católica: a eleição de um novo Papa quando o Sumo Pontífice falece ou renuncia ao cargo.









Na trama, com o falecimento do Papa, o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) fica responsável por coordenar o processo de escolha de um novo papa, com a premissa de ser um eleição privada e sagrada dentro dos critérios formais e orientações éticas da Igreja. Com uma postura respeitosa, Lawrence se confronta com diferentes perfis e interesses ideológicos dos demais cardeais, principalmente os que têm maior favoritismo para a vitória, entre eles: Tremblay (John Lithgow), Bellini (Stanley Tucci), Adeyemi (Lucian Msamati) e  Tedesco(Sergio Castellitto). Com a chegada do cardeal Benitez (Carlos Diehz), experiente em conflitos no Oriente médio e a enigmática Irmã Agnes (Isabella Rossellini), a narrativa percorre os bastidores da Alta Cúpula da Igreja Católica, pouco a pouco revelando os egos, intenções e máscaras dos Cardeais.









A forma como o roteiro manifesta cada ego e interesse, articulando com um clima de suspense dramático coopera para formidável qualidade da história. Também ressalta a habilidade dos roteiristas em ampliar a análise humana e, ao mesmo tempo, atentar-se aos detalhes dessa rotina. É como estar dentro da Igreja em Roma, observando o Conclave como um jogo tenso e misterioso. Em uma primeira camada, ele é uma eleição com todas as características comuns: influências, estratégias, crises, conflitos e confrontos, entrecortadas pela ambição dos considerados "Príncipes da Igreja", dessa forma, o roteiro não poupa ninguém. 









Em outras camadas, o espectador pode inclinar-se para uma indignação com os cardeais inflados pela possibilidade de obter o supremo poder ou uma constatação de que qualquer Igreja é uma instituição política por mais que há vias que afirmam que ela é plural e imparcial. Na verdade, com a divisão de posicionamentos entre os Cardeais fica claro que um dos desafios da Igreja Católica é como ela se conecta com a contemporaneidade e a diversidade. A Alta Cúpula está preparada para lidar com o caótico contexto atual no mundo? Almeja a modernização aderente ao espelho da sociedade ou continuar o conservadorismo? São apontamentos essenciais que partem dessa narrativa complexa e provocativa.









A cada cena mais controversa, não há como deixar de observar que, ainda que uma igreja seja consciente de seus valores e prática litúrgica, ela é feita por homens falhos, alguns tementes a Deus, outros perversos e ocultos por trás de uma fina aparência. Conclave revela particularidades que poucos têm coragem de abordar, exatamente porque revelar que a Igreja está perdida, dependendo da denominação, tem se tornando algo recorrente nos dias atuais. Basta lembrar que há grandes líderes de igrejas Católicas e Evangélicas que, em algum momento, caíram e mostraram a verdadeira face. Com a dinâmica de conquista do poder e lucro desenfreado a partir da fé alheia, os egos denunciam a essência cruel dessas pseudo lideranças.




Com isso, Conclave utiliza a Igreja Católica como esse ambiente de disputas, mas esse roteiro cabe em tantas outras denominações religiosas, principalmente em um país como o Brasil que está dividido pelas polarizações e tem misturado a política com a religião em um Estado leigo. Ademais, como nem tudo é obscuro e pessimista, a história entrega um Cardeal mediador, Lawrence, que com a excelente atuação de Ralph Fiennes em um belo papel mostra que a Igreja precisa de mais homens íntegros e corajosos. Homens que terão que lidar com conflitos e passarem por uma jornada de aceitação e, ainda assim, serão capazes de conduzir decisões com maestria.










Como um dos melhores filmes nos últimos festivais, entre eles o de Toronto e do Rio, além de um merecido vencedor nas premiações (Globo de Ouro, BAFTA, Oscar, AFI e outros), Conclave é uma joia cinematográfica a ser vista e revista. Lida com um ambiente complexo que mistura santidade e carnalidade, certezas e inseguranças, acertos e erros. Coloca em pauta o próprio medo da Igreja Católica com escândalos, condenação e renovação.  Provoca e dá conta do que propõe; afinal, calar-se não é uma opção diante da fé que move o ser humano e suas ações.










Imagens via assessoria de imprensa do filme e distribuidora Diamond para divulgação do filme pela imprensa.

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