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Tradicional bairro do Bixiga, quilombo urbano em São Paulo, na luta contra o apagamento histórico Em cartaz de 03 a 09 de Abril em São Paulo...

O Bixiga é nosso! (2024)




Tradicional bairro do Bixiga, quilombo urbano em São Paulo, na luta contra o apagamento histórico


Em cartaz de 03 a 09 de Abril em São Paulo,

no Espaço Petrobras de Cinema 



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 


Se valorizamos o Cinema a serviço da cidadania, seguramente, temos que celebrar o gênero Documentário. Muito mais do que mostrar determinada realidade, ele funciona como uma ponte para ideias, relatos, experiências e afetos para que as pessoas possam enxergar além de suas realidades cotidianas e territoriais e compreender onde se dão os encontros de suas histórias, vivências e liberdades, afinal, o mundo é grande demais para caber em uma curta visão.






O coletivo feminino Negro Ilú Obá de Min faz a lavagem da escadaria na rua 13 de Maio, 

como símbolo da falsa abolição, e abre o documentário com sua beleza e potência





O Bixiga é nosso! (2024), longa documental de Rubens Crispim Jr, é um daqueles filmes necessários em uma cinematografia realista que acompanha as mudanças contextuais e as lutas da população ao longo do tempo em diferentes espaços urbanos. Com um brado simbólico de que o Bixiga é do povo e, por meio das narrativas de vários grupos de resistência, o diretor revela um documentário pulsante de como o Bixiga em São Paulo é um quilombo urbano vivo que resiste ao apagamento histórico.









Historicamente, desde a década de 80, o Bixiga passou por um processo de tombamento patrimonial que, ainda que celebrado como direito à sua existência e preservação, não garantiu que o bairro estivesse inteiramente protegido das ambições de empresários e do Estado. Tradicional e único em sua essência e valorizado por sua cultura, arquitetura e gastronomia, o Bixiga foi construído pelas mãos de trabalhadores, na sua maioria imigrantes italianos, negros e nordestinos. Assim, ele é um patrimônio erguido por aqueles que lutam para não serem silenciados. Uma luta contínua pela permanência, ancestralidade e pertencimento.




O documentário aborda exatamente essas questões, trazendo alguns contextos que, articulados com diferentes vozes, narram que a resistência é ativa; caso contrário, certamente o bairro será dominado pela especulação imobiliária e pelas mudanças ambientais provocadas pelo desenvolvimento urbano. Entre esses contextos principais, temos a menção ao conflito entre o Grupo Silvio Santos e o saudoso diretor teatral Zé Celso, do Teatro Oficina, que se estenderam em um processo judicial para que o empresariado não ocupasse a área do futuro Parque do Rio Bixiga, além das recentes obras da criação de mais uma linha de metrô na Praça 14 Bis que levaram à identificação de vestígios antropológicos do quilombo urbano de Saracura.









Tais evidências ajudam a compreender que as tentativas de apagamento histórico do Bixiga realmente acontecem com uma força empresarial e política muito influente, entretanto, mais forte do que essa elite está a existência de uma comunidade unida e consciente de seu valor, poderosa em sua ancestralidade e tradição artística e bastante empoderada em diferentes áreas e saberes: História, Arquitetura e Urbanismo, Música, Gastronomia,  Artes cênicas, Cultura Popular, entre tantos outros. Com uma comunidade atuante que não desiste do seu lar, o Bixiga se torna mais apaixonante e revela que há amor em São Paulo, mesmo que as línguas amargas digam o contrário.







"'O Bixiga é nosso!' joga luz em diversos grupos de resistência articulada no território do Bixiga", resume o diretor Rubens Crispim Jr. "Acredito que esses movimentos sirvam como estímulo e ensinamento para diversos outros grupos espalhados pela cidade e pelo país. O Bixiga precisa ser estudado!", conclui (fonte: press kit)




Assim, uma das grandes alegrias do documentário é observar que há cidadãos apaixonados pelo Bixiga, multifacetados, experientes, generosos e combativos. Além do Bixiga ser a casa da escola de Samba Vai Vai, bastante conhecida nacionalmente, há uma diversidade riquíssima de vidas corajosas que acreditam no diálogo, construção e justiça. Por meio desse belo documentário, o público poderá conhecer mais sobre a importância do coletivo, do aquilombar-se para poder resistir e existir.










Ainda, sob uma perspectiva educacional, o documentário é imprescindível para alunos do Ensino Fundamental ao Médio, universitários de Jornalismo, Artes, Arquitetura, História, Geografia, Ciências Socias,  Pedagogia e Licenciaturas, Políticas Públicas, professores e gestores. Uma de suas alavancas para estudos e discussão está em abordar a pauta dos territórios e ocupação do espaço urbano. Dessa forma, em uma jornada de aprendizagem, conhecer, fortalecer e defender o próprio bairro deveria ser um exercício diário, porém, muitos cidadãos estão ocupados demais, vivem um dia a dia ligados no automático ou são consumidos pelo trabalho exaustivo. O problema é que, a própria vida moderna torna os indivíduos cada vez mais individualistas, logo, a prática do coletivo fica em segundo plano. Mas nunca é tarde para mudar o comportamento!




No geral, essa perspectiva é aplicável a outros bairros de São Paulo e tantos outros no país, trazendo as seguintes reflexões: É possível conciliar desenvolvimento e tradição? Individualidade e coletivo? Futuro e ancestralidade? Vulnerabilidade e resistência? Com certeza é possível, e muito mais após assistir a O Bixiga é nosso! 









Imagens do filme autorizadas pela assessoria de imprensa para divulgação do longa. crédito olé produções. Patricia Rabello Assessoria.

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