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  Sobreviventes, último filme de Barahona, reinventa uma convivência entre brancos e negros em uma ilha após naufrágio #Drama #História #Mem...

Sobreviventes (2024)

 



Sobreviventes, último filme de Barahona, reinventa uma convivência entre brancos e negros em uma ilha após naufrágio


#Drama #História #Memória #Escravidão #CinemaPortuguês #CinemaBrasileiro #CinemaLatinoAmericano #Pandorafilmes


Em cartaz nos Cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador. 

Lançamento: 24 de Abril



Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação

 



Último longa-metragem do cineasta luso português José Barahona, Sobreviventes (2024)  coloca o espectador em um cenário de análise e reflexão acerca das tensões entre brancos e negros, reflexos da escravatura e da memória histórica. Após o naufrágio de um navio negreiro no século XIX, um grupo encontra em uma ilha deserta a possibilidade de sobrevivência, porém para que isso ocorra, têm que lidar com as marcas colonialistas e diferenças étnico sociais entre eles.







Bastidores. Divulgação Foto @AnaFigueira_David & Golias





Falecido em novembro de 2024, Barahona construiu seu Cinema com um forte senso da importância coletiva para compreender a História e suas consequências no presente. Por meio de um constante diálogo entre a ficção e o documentário e utilizando a memória como um lugar de identidade e pertencimento, assim como reinvenção e mudança, com Sobreviventes, o cineasta deixa um legado para que o público reflita se é reprodutor de exclusão social ou não.







Bastidores Equipe Sobreviventes. Divulgação Foto@AnaPaganini





Estrelado por grande elenco, a coprodução Portugal e Brasil, traz Miguel Damião, Allex Miranda, Anabela Moreira, Roberto Bomtempo, Zia Soares, Paulo Azevedo, Ângelo Torres, Kim Ostrowskij, Hugo Narciso. Para o roteiro, Barahona buscou as referências literárias com um significativo nome do meio, o escritor Angolano José Eduardo Agualusa, escritor que tem repertório mundial com obras como Nação Crioula, O Vendedor de Passados e Teoria Geral do Esquecimento, além de prêmios com o Independent Foreign Fiction Prize e o Prêmio Literário Internacional de Dublin. Para completar o time, a trilha sonora original é assinada por Philippe Seabra, da banda Plebe Rude e participação de Milton Nascimento.







A parceria Barahora-Agualusa traz uma excelente coerência entre experiências cinematográficas e literárias como construção de uma narrativa honesta, tendo em vista que as dores e cicatrizes deixadas pelo Colonialismo e escravidão jamais serão apagadas. Felizmente, o tempo é contínuo e não pode ser silenciado, como cidadãos devemos buscar refletir qual é nosso posicionamento sobre essas cicatrizes e ecos no mundo contemporâneo. 







Belíssima fotografia do ator Ângelo Torres. Divulgação.






Seria fácil se calar diante das atrocidades da escravatura e do permanente racismo estrutural na sociedade atual, entretanto, o Cinema é um dos melhores aliados para dar voz às histórias apagadas e caladas e permanece como lugar de reflexão e crítica, assim, que Barahona deixa um filme compacto e relevante para os diálogos e intervenções decoloniais.







O Padre e a senhora do Engenho, respectivamente, os atores Paulo Azevedo e Anabela Moreira. Personagens mais ambíguos.







A respeito da narrativa filmada em preto e branco em um cenário isolado, ela se aproxima a um experimento social, no qual brancos e negros situados em um local para o qual não têm para onde fugir, devem se tolerar. A questão nevrálgica é que, antes do naufrágio, eles já eram inimigos nos seus devidos papéis sociais com opressão e violência. Em cena, para sobreviver terão que conviver em um processo de empatia e aceitação que, às vezes é natural, às vezes não. Afinal, fica uma reflexão clara aqui: se você está com fome e alguém que você detesta acabou de pescar um peixe, você seria falso com ele apenas pela comida ou o mais sensato seria ambos colaborarem coletivamente? Em Sobreviventes, a convivência é tolerada em determinadas cenas, basta ver o comportamento do padre Franciscano interpretado por Paulo Azevedo,  que transparece um homem hipócrita e duvidoso.







Seu posicionamento antirracista existe ou você foge do assunto?
Você vai reinventar a história ou vai reproduzir o passado?
Perguntas comuns ao assistir Sobreviventes





Assim, Barahona não influencia uma visão tão otimista de convivência, ele apenas deixa fluir os comportamentos já esperados e os que surgem naturalmente, ora mais tolerantes, ora mais reativos. Ele dá o benefício de que eles façam a diferença a partir da humanidade que ainda lhes resta. A pergunta recorrente: é possível agir diferente dos valores e preconceitos enraizados? Diante dessa incógnita, os personagens carregam suas ambiguidades. Cada comportamento depende de cada identidade, vivencia e perspectiva, do que ganham ou perdem, do que lhes é mais espontâneo ou não. Nessa jornada, alguns personagens são mais coerentes, outros surpreendem pelo contrário. Em todos eles, fica claro que o ser humano tem uma natureza complexa e ambivalente.







Miguel Damião e Allex Miranda. Divulgação Foto @HugoAzevedo





Como um filme que o cineasta está aberto a investigar a História e seus ecos no presente e futuro, o diferencial de Sobreviventes é que o cineasta cria esse ambiente de convivência para reinventar o que aconteceria se os papéis de opressor e oprimido se invertessem. Em alguns momentos parece uma utopia, já que brancos jamais abrirão mão de seus privilégios. Por outro lado, personagens como o negro livre (Allex Miranda) e o branco que decide libertar os escravos (Miguel Damião) dão uma noção de que é possível mudar a história e ter alguma esperança. Para o espectador, o pulo do gato é refletir como exercemos na prática a nossa consciência e nosso combate decoloniais e antirracistas.












Fotos cedidas pela Pandora Filmes e assessoria para a divulgação e crítica do filmes. 

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