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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Um curta metragem  visceral, vi...

Passion Gap (2017)






Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Um curta metragem  visceral, violento e pessimista resume "Passion Gap", filme produzido pela África do Sul, escrito por Jason Donald e Matt Portman. Relacionando o passado e o presente de violências sofridas por Elani (Marguerite Van Eeden), o curta enfoca um fragmento da vida da jovem no qual ela tem um relacionamento tóxico com o traficante Sunday (Aaron Jacobs). O curta abre espaço de debate e reflexão sobre a violência de gênero, sonhos despedaçados pelo crime  e por relacionamentos abusivos e más escolhas.



Juntos há 1 ano, Elani vê em Sunday uma esperança de sair da decadente vida  no submundo de Cape Town e se empenha em manter o humor do namorado sob controle. Sunday tem um ego gigante e instável e deseja alcançar uma posição de destaque no mundo do tráfico.  Ao lado do amigo Mikey (Shuraigh Meyer), outro tão desequilibrado quanto ele, o casal percorre uma noite inteira durante a qual precisam realizar negócios e ter um boa relação com a organização para qual trabalham. Nesta noturna jornada, o curta mostra desilusões, fracassos e agressões que reproduzem os mesmos padrões de violência que a jovem experiencia no bairro e na família.





Passion  Gap tem um doloroso retrato para as mulheres quando se observa o desespero e o auto-engano de Elani. Na verdade, por falta de melhor opção, má escolha e carência, ela reproduz um padrão que acontece com algumas jovens que se envolvem com criminosos e outros bad boys: ela acredita que terá ganhos, afeto, respeito e mudança de vida. É bem provável que Elani saiba que não chegará a lugar algum com uma pessoa tão tóxica como Sunday, um homem que não a respeita nem mesmo em uma balada e que a trata como uma vagabunda. Pelas suas expressões no filme, ela sabe do fracasso e decadência que isto representa, ainda assim , seu desejo de sair desta triste realidade é maior.



O título do curta se refere à "lacuna da paixão", que são quando os dentes da frente são extraídos e dizem que, sem eles, beijos e sexo oral são mais prazerosos. Na narrativa, essa expressão deixa mais claro a objetificação do corpo feminino, a violência contra a vontade da mulher, o desejo masculino de ter prazer com mulheres que têm o passion gap


A relação abusiva entre Elani e Sunday é disfarçada como uma frágil ilusão. Ele diz a ela que ela é a "garota número 1", ela o chama de "amor" e tenta motivá-lo.  São pequenos fragmentos de falas que são comuns no cotidiano dos relacionamentos tóxicos. A qualquer momento, essa relação pode implodir como uma bomba relógio. Assim, fica mais claro que as lacunas da paixão não são preenchidas nem pelo prazer e nem pelo amor mútuo, mas pela violência contra o outro. As lacunas permanecem como espaços vazios sem qualquer afeto.





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