Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Adaptado do romance homônimo de Mel...

A Síndrome de Berlim (Berlin Syndrome, 2017)






Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Adaptado do romance homônimo de Melanie Joosten, A Síndrome de Berlim (Berlin Syndrome, 2017) utiliza a experiência da autora como mochileira em suas viagens pelo mundo, na qual ela traz à luz algo bem realista sobre as aventuras: a gente nunca sabe qual estranho encontrará em nosso caminho.  Ainda que seja uma inspiração cuja ficção é levada ao limite do horror e da violência psicológica e física contra a mulher, o filme dirigido com muita competência por Cate Shortland, é um aviso sobre os perigos e desilusões ao se envolver afetivamente com qualquer estranho, seja no mundo real ou virtual.






É correto afirmar e enfatizar que viajar sozinho (a) é muito bom. Não devemos ter medo de se descobrir como viajantes solo. Além de descobrir o mundo e a si mesmo, é um passo para vivenciar a liberdade e refletir sobre desejos, vontades e decisões.  É uma oportunidade de conhecer pessoas novas, envolver-se em aventuras apaixonantes e libertárias, e simplesmente deixar as coisas acontecerem. Por outro lado, viajar tem um forte elemento de solidão, ainda que oculto ou disfarçado. É quando queremos ficar um pouco sozinhos e tomar um fôlego novo, mas também precisamos do outro, da socialização, das descobertas a partir dos amores, amizades, paixões.






A Síndrome de Berlim não aborda as delícias mas os horrores de uma viagem mal sucedida ao conhecer um estranho sedutor e inteligente. Aquela chama da paixão, do desejo de ficar e ter prazer com ele é incontrolável como descobrir um fantástico ponto turístico, mas, ao fim, a pessoa não era exatamente aquilo que projetava.  


No roteiro, uma jovem fotojornalista Clare Havel está cansada de sua vida enfadonha  na Austrália e viaja para a Alemanha para um recomeço. Amante da Arquitetura, Berlim se torna um excelente destino.  Ao chegar à cidade, encontra o bonito professor de inglês, Andi Werner, que desperta nela um intenso desejo de ficar com ele. Muito rapidamente eles flertam. Após uma noite de sexo, ela é presa no apartamento dele, que a mantém como refém. Clare  está encarcerada, sem contato telefônico. Ela entrou em uma terrível roubada.






A historia tem dois atores bem talentosos que encarnam seus papéis com uma consistência precisa, colaborando para o êxito do longa: Andi é Max Riemelt, conhecido ator alemão que já realizou trabalhos em ótimos filmes e séries como "A queda livre", "A onda", "Sense 8", e Clare é interpretada por Teresa Palmer, atriz australiana que, pela primeira vez, tem a chance de realizar como protagonista um drama denso, desafiador e violento. A escolha da dupla é um dos diferenciais do filme, sem dúvidas.


O título faz referência à Síndrome de Estocolmo, transtorno no qual a vítima, após um tempo de intimidação e agressão, acaba desenvolvendo um tipo de afeto e/ou tolerância pelo agressor. Clare percorre vários tipos de emoções e atitudes com seu agressor: a paixão, a raiva, a rejeição, a negociação, a dissimulação etc.  Colocada em um apartamento sem chance de sair, ela praticamente não tem a quem recorrer para ajudá-la. Em certo ponto, encarna o papel de dona de casa e esposa fazendo as vontades de Andi, mesmo que seu desejo seja matá-lo e se libertar.


Considerando que o filme é sobre sequestro e cárcere privado, restrito a um apartamento no subúrbio, em uma época de inverno no qual não há quase nenhum vizinho e movimentos do lado de fora, a realidade vivenciada por Clare é de um sofrimento infindável. É puro sadismo cinematográfico! Mas, há que assumir que é um sadismo bem executado em cena.  



Parte significativa da competência da direção de Cate Shortland se dá por dois quesitos: levar o filme a quase duas horas de projeção com a maioria das cenas realizadas entre Clare e Andi com diversas nuances perturbadoras de horror psicológico, e a direção de atores que reafirma sua excelente parceria com dois protagonistas que têm um espaço muito amplo para desenvolver seus personagens. 






Na atuação de Max Riemelt é possível perceber as várias nuances de um serial killer, psicopata. Bastante sádico, ele tira fotografias friamente da violência pela qual é responsável. É um do seus maiores prazeres e Clare não é a primeira vítima. Ele acredita que ela é sua posse e que toda essa "vida familiar" é um relacionamento. O roteiro não deixa escapar o fato de que ele é um típico "cidadão de bem", um professor dedicado, um cidadão comum que ninguém imaginaria que fosse um homem perigoso e violento. Como citado em variados livros de psicologia a respeito do padrão dos psicopatas, a maioria deles é bonito, sedutor, inteligente e jamais aparentam ser o que efetivamente são.






Com a responsabilidade de ser crível na atuação como mulher vítima de violência em vários sentidos, Teresa Palmer realiza uma atuação impecável, ao mesmo tempo, frágil e forte, buscando uma solução para escapar do cativeiro. Nas cenas que busca estabelecer um diálogo e conexão com Andi, ela tem uma dedicação exemplar em mostrar as nuances entre o medo e o controle emocional mais racional. Esta performance é bastante violenta em si, afinal, como olhar para o algoz e ter que fingir para garantir a própria sobrevivência e alguma esperança de liberdade? 


Assim como em "The room" de Tommy Wiseau, filmado em espaço reduzido, A Síndrome de Berlim é um thriller-drama-horror imperdível que encontra sua qualidade na atuação destes jovens atores e na sua capacidade de levar até o limite uma situação de cativeiro com uma abordagem extremante sádica e desesperadora.






0 comentários:

Caro (a) leitor(a)

Obrigada pelo seu interesse em comentar no MaDame Lumiére. Sua participação é muito importante para trocarmos percepções e opiniões sobre a fascinante Sétima Arte.

Madame Lumière é um blog engajado e democrático, logo você é livre para elogiar ou criticar o filme assim como qualquer comentário dentro do assunto cinema e audiovisual.

No entanto, não serão aprovadas mensagens que insultem, difamem ou desrespeitem a autora do blog assim como qualquer ataque pessoal ofensivo a leitores do blog e suas opiniões. Também não serão aceitos comentários com propósitos propagandistas, obscenos, persecutórios, racistas, etc.

Caso não concorde com a opinião cinéfila de alguém, saiba como respondê-la educadamente, de forma a todos aprenderem juntos com esta magnífica arte. Opiniões distintas são bem vindas e enriquecem a discussão.

Saudações cinéfilas,

Cristiane Costa, MaDame Lumière