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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Catherine Deneuve , icônic...

Tudo o que nos separa (Tout nous sépare, 2017)








Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Catherine Deneuve, icônica diva do Cinema Francês, é aquela atriz que, mesmo participando de alguns filmes bem abaixo de seu talento, consegue dar um peso de qualidade dramática a qualquer cena e atinge a intenção emocional que a história persegue. É o que acontece em "Tudo o que nos separa" (Tout nos sépare, 2017) suspense dirigido por Thierry Klifa baseado em uma mãe que protege a filha após um homicídio.






Louise Keller (Catherine Deneuve) e a filha Julia (Diane Kruger) moram em Sète, cidade afastada dos grandes centros Franceses, com subúrbios e criminalidade nas redondezas. Com uma aparente vida pacata, Louise cuida da filha que, após um acidente, tem sequelas pelo corpo e  apresenta um comportamento problemático. 


Julia é bastante perturbada, viciada em drogas para tirar as dores físicas e emocionais e não faz absolutamente nada para viver melhor.  Ao se envolver em um relacionamento tóxico com Rodolphe (Nicolas  Duvauchelle), um malandro que tem dívidas com o tráfico de drogas local e extorque dinheiro dela, Julia comete um assassinato por motivo torpe. O comparsa de Rodolphe, Ben Torres  (o rapper Francês Nekfeu), começa a chantagear Louise e é pressionado pelos traficantes locais a pagar uma alta dívida. Um onda de chantagens contra o tempo tira o sossego das Kellers. 





Este é um filme sobre chantagem e extorsão. Sua fragilidade está em não tornar crível e humanizada a relação de proteção familiar, com isso, o que o roteiro apresenta são mais cenas objetivas e rasas de violência psicológica, com um criminoso mandão a gritar e dar ordens para uma senhora do que propriamente camadas psicológicas da relação mãe e filha, o que fatalmente enfraquece o longa e a participação de duas atrizes talentosas.







O personagem de Diane Kruger tem uma superficialidade que dificilmente é encontrada em personagens perturbadas e drogadas do Cinema Europeu. Normalmente, narrativas que apresentam uso de entorpecentes, sequelas físicas e psicológicas após traumas, violência e preconceitos de gênero, entre outros, são melhor aprofundadas com personagens que vivem o drama com uma visceral densidade. Não é o que ocorre neste longa. Kruger fica restrita a chorar e lamentar pelo crime cometido, entre um copo de bebida alcoólica e muitas pílulas. Ainda que a intenção da história seja mostrar a mulher problema, o drama pelo qual ela passa tinha potencial de ser explorado pelo diretor.


Outra falta do longa é a não exploração consistente da criminalidade das periferias Francesas e como extrair os problemas sociais e a humanidade entre as desigualdades. O roteiro pincela essa diferença que existe entre a classe média e o pobre e periférico e aproxima os universos de Ben e Louise, mas os personagens não são colocados em situações que os façam desenvolver os dramas sociais presentes na Europa contemporânea.






Cabe às interações entre Louise e Ben manter a atenção do espectador. Nekfeu é um rapper que faz o bad boy  e não tem experiência em atuação, assim , sua participação se restringe a gritar com a personagem Louise e mostrar a intenção do roteiro no desfecho. Felizmente, Catherine Deneuve tem muita facilidade em adicionar nuances maduras e confiáveis na interpretação, mesmo com este roteiro limitado para seu brilhantismo e sólida carreira. Frustrando todas as expectativas da justiça, ela trata o bandido como um ser humano e há um motivo sentimentalista e apelativo para isso que o espectador poderá observar, gostar ou não. 


Em certo ponto, embora Ben é o tipo que não mereça piedade, a humanidade da história está  nesta relação vítima x agressor que o filme propõe e que,  por incrível que pareça, é desenvolvida em meio a chantagens e extorsões.






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