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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira crítica de Cinema, e specialista em Comunicação Lançado nos cinemas este mês, Beatriz ...

Beatriz (2015)





Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação




Lançado nos cinemas este mês, Beatriz é uma coprodução Brasil e Portugal dirigida por Alberto Graça e conta com atores dos 2 países, com tomadas em Lisboa e Madri e falado em português e espanhol. A fotografia de Rodrigo Monte representa um estilo elegante ao drama romântico e oferece, além da qualidade visual e temporal, um olhar que aproxima o público à metalinguagem entre o teatro, o Cinema e a Literatura.


A história enfoca o relacionamento passional entre Beatriz (Marjorie Estiano) e  Marcelo (Sérgio Guizé). Ela abandonou a carreira no Brasil e mora com ele em Portugal. Ele se dedica a escrever contos eróticos para uma revista Lisboeta. Bastante apaixonados e intensos no sexo,  a relação tem a química para manter o público curioso, e a possibilidade de que eles realmente sejam felizes em outro país. Entretanto, tanto fogo catalisará uma boa energia afetiva ou problemas à vista?






Beatriz é a musa inspiradora do marido. Os escritos de Marcelo são alimentados pelo tempero sexual que eles colocam na relação como transas em lugares públicos, jogos e fantasias eróticas. Quando Marcelo recebe uma proposta para escrever um livro que, paralelamente, será exibido no teatro, a relação começa a tomar um rumo tóxico, com um desequilíbrio nas vontades e desejos do casal. Neste processo, Beatriz faz sacrifícios em nome do amor e do ofício literário do marido.


O argumento da história tem potencial, considerando que o amor e a paixão são combustíveis de muitas histórias cinematográficas, principalmente as de teor passional com ciúmes, obsessão, vingança. O problema é a execução em si que, ao mesmo tempo que transita entre cenas do cotidiano do casal , do processo criativo literário e do processo teatral que representariam um material rico a ser desenvolvido, não convence em nenhum momento. O filme acaba se tornando enfadonho e arrastado na maioria das cenas.


Sob uma perspectiva bem feminina, o amor realmente vale muitos sacrifícios. Como diz o filme Moulin Rouge, "A coisa mais importante que você pode aprender é amar e ser amado de volta".  Na sua natureza primitiva, a mulher tem as virtudes de ser flexível, acolhedora e apaixonada nas relações. Mesmo a mais racional das mulheres, aposta no homem que ela escolheu para estar ao lado, entretanto, a maioria das mulheres não se anula nos dias de hoje como Beatriz faz no filme. Neste aspecto, o longa deveria ter sido mais verossímil e à frente do seu tempo.







Beatriz é uma mulher forte, característica que entra em contradição com o desenvolvimento do personagem nos mais de 1 h 30 minutos de projeção. O roteiro, para o bem ou para o mal feito por muitas mãos ( 4 roteiristas), escorrega neste desenvolvimento pois apresenta uma mulher com personalidade e a enfraquece na projeção sem enfatizar muito e de maneira significativa a sua força.


Com isso, apenas a expressão usada pelo diretor como "loucura a dois", um transtorno psicológico e psiquiátrico na relação de Marcelo e Beatriz pode explicar esse filme. Ainda assim, o transtorno não é dramaturgicamente bem tratado nos diálogos e situações, na verdade, muitas são clichês sobre sexo. A intensidade  emocional do relacionamento dos protagonistas não é  bem transferida para a misè-en-scene, o que enfraquece o drama.


Assim, Beatriz saí da sua natureza que, no início da narrativa, parecia ter mais personalidade e maturidade, para fazer demasiadamente as vontades do marido. Ele precisa escrever um livro, mas coloca totalmente a responsabilidade nas costas da esposa. Sua inspiração para a obra vem de Beatriz e da relação. Ela se envolve em caminhos mais tortuosos na sua sexualidade. Mesmo sentindo tesão em situações apimentadas, ela também desce ao fundo do poço, como aborto, drogas e sexo pelo sexo com estranhos. 







Inevitavelmente, dois dos melhores atores de suas gerações, Marjorie Estiano e Sérgio Guizé, não têm muito espaço para fazer a diferença na forma como o roteiro se apresenta. Marjorie é a que mais tem êxito, não apenas pelo seu papel de maior responsabilidade que dá título ao filme, como também por ser uma atriz com frescor, concentração e experiência no Cinema.


Já Sérgio não consegue expressar a complexidade do personagem. Um homem como Marcelo é daqueles que pensa que a mulher deve fazer tudo que ele projeta na relação. Isso explica a tagline de Beatriz : "Como te amar sem me odiar"? Para tornar a relação mais tóxica, Marcelo não consegue buscar inspiração em outras searas e nem exercer seu talento sem uma muleta de apoio, desta forma, jogar a responsabilidade nas costas da mulher e da relação o torna um homem bem desinteressante, desprezível.






Se analisado sob uma perspectiva contemporânea sobre gênero,  Beatriz é um filme útil como ideia central para uma reflexão pós sessão. Ele ajudará as mulheres como refletir sobre essas ações apaixonadas e limites que temos e que nos fazem perder tempo com homens extremamente egoístas e que nada acrescentam. O mesmo pode servir para homens que estão em relacionamentos tóxicos. 


Como toda ficção romântica e sua relação com a vida real, é natural o desejo humano de viver a paixão e o amor, em menor ou maior grau de intensidade, mas não a ponto de anular nossos egos em troca de algumas migalhas de afeto e uma boa transa. Apoiar o(a) parceiro(a) pessoal e profissionalmente é uma coisa, anular-se em nome de uma loucura requer autoconhecimento, ajuda médica  e especializada.



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