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O Protocolo de Auschwitz (The Auschwitz Report, 2021)





Imperdíveis dicas Streaming MaDame Lumière 

Filme da @A2filmes disponível nas plataformas online



#Guerra #CinemaEuropeu #CineMundi
 


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



Dirigido pelo roteirista e cineasta Peter Bebjak, O Protocolo de Auschwitz (The Auschwitz Report, 2021) utiliza fontes históricas sobre o Holocausto e a denúncia das atrocidades ocorridas no campo de extermínio de  Auschwitz-Birkenau, possibilitando que o público conheça os horrores do Terceiro Reich que visava por fim às vidas de prisioneiros da Segunda guerra. Baseado na obra "What Dante did not see", de Alfréd Wetzler, o drama conta a história de Freddy e Rudolf, dois jovens judeus eslovacos que, após um plano de fuga corajoso, escapam do campo de concentração em abril de 1944. 













Quem carrega o peso do protagonismo para mostrar o real drama dessa jornada arriscada e resiliente é o ator Noel Czuczor que interpreta Freddy. Ele mostra um comando maior em cena durante a fuga, bem respaldado pelo companheiro Rudolf Vrba (Peter Ondrejicka). Muito do interesse de Czuczor para interpretar esse personagem real está no compromisso de trazer para o presente um passado que nunca ou raramente foi contado nas escolas da própria Eslováquia.






Alfréd Wetzler e Rudolf Vrba não foram apenas sobreviventes de guerra, mas também heróis que se arriscaram em montanhas tenebrosas, sob a constante ameaça dos nazistas. Eram judeus movidos pela esperança e tinham como objetivo trazer à luz da população as informações de extermínio de judeus e salvar outros que seriam deportados. Trata-se de liberdade com voz para denunciar o genocídio sistemático em Auschwitz-Birkenau.










"eu li tudo que pude, incluindo o romance de Wetzler, e assisti
a documentários e entrevistas com sobreviventes. E, além de visitar
Auschwitz pessoalmente, tive a chance de conversar com a senhora
mais incrível, uma sobrevivente de Auschwitz, Srta. Laura, que tinha
96 anos de idade na época. Mas nem mesmo todas essas informações
me deixaram mais perto de compreender totalmente como deve ter
sido. Eu me senti preso por um longo tempo - todas as coisas que
aprendi estavam apenas se acumulando dentro de mim. E então um
dia voltei ao livro de Wetzler e de repente percebi que estava tudo lá
- cada pensamento seu, cada sentimento, cada dúvida."
(Ator Noel Czuczor, sobre preparação para o papel)







O roteiro segue um caminho bem autoral para esse tipo de narrativa de memórias de guerra, sendo dividido em três principais momentos: a fuga com o apoio dos colegas, o percurso de sobrevivência nas montanhas e o encontro com a resistência e Cruz Vermelha seguido da elaboração do relatório sobre o funcionamento do campo. Há certa peculiaridade nessa estrutura narrativa considerando que, logo no início, o foco não é precisamente os dois protagonistas. O diretor opta por enfocar o medo, sofrimento e resistência dos prisioneiros que ficaram e cobriram a fuga de Freddy e Rudolf. Esse é um aspecto bem interessante na direção que não segue um padrão, lembrando o excelente húngaro "O filho de Saul", de Lászlo Nemes.








A visão do inferno que Dante não viu. 
Palheta de cores quentes na linguagem cinematográfica e fotografia






Nesse primeiro ato, entra em cena a competência da direção de fotografia de Martin Ziaran, que trabalha as nuances da paleta de cores mais esfumada, aterrorizante e claustrofóbica, alternando entre cores quentes como o inferno na terra ou frias como o clima cinzento e brutal de um campo de extermínio.  Nesse desenvolvimento inicial, os recursos de linguagem cinematográfica como som e trilha sonora (de Mario Schneider), enquadramentos  e close ups bem planejados e ênfase na atuação do elenco coadjuvante traz uma unidade tensa, melancólica e desesperadora para a narrativa. Esse clima de violência sádica se torna mais brutal quando fica perceptível a naturalidade de como os nazistas agiam e silenciavam a morte e sofrimento alheios. É a visão da tortura normatizada pela História. Algo difícil e nauseante que o tempo não apaga.














Na segunda parte, Freddy e Rudolf percorrem a jornada de de coragem, força e superação em caminhos arriscados, contando com a ajuda de estranhos.  Aqui temos uma visão visceral da luta pela sobrevivência, da fome e miséria humana. Por outro lado, a generosidade de uma mulher que entrega-lhes um pão, por exemplo, demonstra que, apesar dos perigos que cercam a fuga, os dois jovens não desistiram de seus propósitos.  Em todo o percurso, o cineasta se dirige mais ao esgotamento físico e mental dos heróis, uma superação a qualquer custo, realizando movimentos de câmera mais lentos, ora próximos ora mais distantes, e enquadramentos icônicos como realistas pinturas da guerra. 







Freddy e Rudolf certamente sabiam que inúmeros judeus poderiam ser salvos se eles conseguissem cruzar as fronteiras e chegar às autoridades aliadas e Ocidente. O Relatório Vrba-Wetzler era uma arma contra os assassinatos em massa autorizados e defendidos por uma ideologia genocida como a de Hitler. A direção subjetiva mostra esse peso dos personagens.  "Queríamos permitir que o público passasse pelas mesmas coisas que nossos personagens principais estão passando, em um mundo onde não existem padrões ou regras, um mundo onde o medo e a morte são seus únicos companheiros, um mundo onde você está fraco, doente e impotente, um mundo que está louco. Isso é o que estávamos tentando encontrar e alcançar", desabafa o diretor.











Por fim, o desfecho é o momento mais aguardado mas também ligeiramente frustrante. O cineasta se apressa na sua finalização, o que decepciona pela expectativa criada.  Em filmes sobre  memórias da guerra baseado em caso real, por mais que o espectador suspeite que há esperança para alguma justiça, nem sempre as conclusões otimistas ocorrem de forma  fluída. Aqui não seria diferente. O anti-clímax é visível em comparação ao desenvolvimento dos dois primeiros atos. Pensando sob a perspectiva de um cineasta contador de história dos horrores da guerra, essa decisão é compreensível. As dificuldades encontradas por Freddy e Rudolf fazem parte da vida como ela é. Uma vida cheia de angústia que muitas vezes quem luta por justiça tem que provar o óbvio.










Nesse sentido, um dos melhores aprendizados com essa história real é a constatação de que o passado deve ser lembrado porque ele pode se repetir no presente e ser absurdamente destrutivo às pessoas; assim, temos que tomar cuidado com as personalidades que estão no poder agindo como "Hitlers".  Como diz o diretor Peter Bebjak " As pessoas mais influentes na política geralmente são aqueles que a criam. São suas realizações, sua retórica, sua abordagem. Se alguma dessas coisas for odiosa, sempre haverá pessoas que irão, talvez por frustração, se voltar para políticas como essa. Isso está acontecendo em todo o mundo, onde o populismo é a forma de governança. E em tempos de crise, econômica ou moral, as pessoas tendem a se refugiar em ideologias extremas. Foi assim que Hitler ganhou seu poder e também como nascem as ditaduras.




Nos créditos finais, isso se confirma como uma necessária mensagem às nações e cidadãos.  Os boçais estão por aí , com suas falas populistas e neonazistas, com o avanço dos imbecis, extremistas e racistas, desse modo, os erros brutais do passado não podem ser mais aceitos e muito menos cometidos.











Fotos e citações do diretor e do protagonista, uma cortesia A2 filmes para divulgação via veículos de comunicação credenciados.

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