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Quando Hitler roubou o coelho cor de rosa ( Als Hitler Das Rosa Kaninchen Stahl, 2019)

 


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Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira crítica de Cinema, especialista em Comunicação



O Cinema é um grandioso palco das memórias afetivas que circulam na nossa sociedade ao longo de séculos, tanto por parte dos contadores de histórias como pelo público. Continuamente é uma honra conhecer sobre biografias que apresentam esperança em tempos sombrios. É uma maneira de permanecer firme e resistente diante das mazelas da vida que nunca serão controladas em sua totalidade. 














Nessa ampla gama de produções cinematográficas que utilizam a memória como um dispositivo sensível, entrelaçando a História e sua relação com outras áreas como a Literatura, a Infância e a Educação,  Quando Hitler roubou o coelho cor de rosa  (Als Hitler Das Rosa Kaninchen Stahl, 2019) de Carolina Link, se destaca como um drama familiar contado sob a perspectiva de Anna (Riva Krymalowski), uma garota judia-alemã de 9 anos que vivia em Berlim em 1933. Com seus pais (Oliver Masucci e Carla Juri) e irmão (Marinus Hohmann), ela abandona a Alemanha para viver na Suiça, e depois na França e Londres. O percurso da família começa como consequência da perseguição de judeus pelo Nazismo e todo o clima de medo e insegurança da época.





Adaptado do romance homônimo e semiautobiográfico da escritora e ilustradora Judith Kerr, o longa cativa pela narrativa delicada sob a perspectiva da inteligente Anna e mistura elementos da Literatura Infanto-juvenil na forma como é desenvolvida. Em momento algum, o terror da guerra é mostrado de uma maneira abertamente violenta, sangrenta. Entretanto, tais estratégias do roteiro e direção não significam que não há violência. Ela existe nos deslocamentos dos personagens, nas dificuldades de moradia, emprego e autoestima, na incerteza e no medo.
















A família Kemper está fugindo mas o inimigo não está em cena. Como na guerra, eles podem estar ocultos no cotidiano, assim, eles têm que lidar com a invisibilidade do inimigo e também ser invisíveis ou, no mínimo, discretos. O pai Arthur é jornalista e, como um anti nazi e homem da palavra, ele é perseguido e vive a tensão entre a responsabilidade pela família, a falta de trabalho e o medo de ser descoberto.  A mãe Dorothea é do lar. Ao perder a antiga empregada Heimpi (Ursula Werner), tem que reaprender a comandar a casa, cozinhar e apoiar o marido. Max, na faixa etária adolescente, perde as referências de amigos e grupos e se vê bem sozinho. Com isso, Anna é a garotinha esperta que protagoniza o arco dramático. Das cenas fofas aos questionamentos do amadurecimento, é Anna que move a história.











Considerando a Literatura Infanto-Juvenil e seu potencial pedagógico nas adaptações para o Cinema, o drama entrega uma boa experiência que proporciona uma conexão com a empatia e o carisma. A família Kemper é agradável, bastante pé no chão e ciente das mudanças, dessa forma, não haverá altos e baixos emocionais e reviravoltas muito dramáticas. O ritmo tende a ser lento, possibilitando mais a observação e contemplação dessas mudanças familiares.





Nesse sentido, é um roteiro que preserva bastante linearidade nas ações apesar dos deslocamentos e situações novas vivenciadas pela família. Em alguns momentos, falta um pouco da inserção de elementos históricos externos e gatilhos para movimentar as cenas e os conflitos. Por outro lado, o drama ganha pelas sutilezas com belos momentos de ternura entre pais e crianças e uma direção que explora bem as locações e design de produção. Carolina Link, vencedora do Oscar por "Lugar nenhum da África" opta por uma direção humanista, equilibrando as pontas entre a realidade histórica e a ficção literária.












Para quem aprecia filmes como  "A viagem de Fanny", "Os meninos que enganavam nazistas", "O menino do pijama listrado"  e a "A menina que roubava livros", certamente, gostará desse drama. Todos eles trazem a realidade cruel da guerra e/ou do Holocausto, protagonizadas por crianças que vivenciaram esses dramas e tiveram que amadurecer além do convencional. Histórias duras que, no mundo ideal e fantasioso, deveriam ter sido experienciados apenas por adultos.





De fato, um de seus pontos altos é observar a fusão entre a Literatura a partir da perspectiva da criança e a linguagem cinematográfica no desenvolvimento da narrativa. O filme tem um carater educativo ao mesclar essas dimensões na forma de contar histórias que, se fossem contadas arduamente, não seriam bem compreendidas por crianças e jovens. Com isso, apresenta-se como uma bela história de uma família que permaneceu unida e corajosa. Independente qual foi o seu destino, eles foram muito fortes. 





Por uma coincidência ou não, o sobrenome da família Kemper lembra muito a sonoridade da palavra Kampf (em alemão "luta") que dá título a uma obra de Hitler.





(3,5)



Fotos do filme, uma cortesia A2filmes para divulgação em veículos credenciados.

Um comentário:

  1. "O Cinema é um grandioso palco das memórias afetivas que circulam na nossa sociedade ao longo de séculos, tanto por parte dos contadores de histórias como pelo público."

    Uau...que palavras. Esse primeiro parágrafo nos obriga, individualmente, a reflexão sobre a arte e sua simbólica representação.

    Anotado para assistir.

    Adaptações são complexas como a vida real...E na escolha prefiro, quase sempre, a arte.

    Renato Alves

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