Uma das obras clássicas da Literatura com temática adúltera foi adaptada para o Cinema Brasileiro em 2007, com a filmagem de O Primo Basílio do escritor português Eça de Queiroz, dirigido pelo experiente Daniel Filho e um elenco global que une Débora Falabella, Fábio Asssunção, Reynando Giannecchini e Glória Pires. Ao lado de Madame Bovary, romance Francês de Gustave Flaubert e Dom Casmurro, clássico da Literatura Brasileira de Machado de Assis, Primo Basílio forma o triângulo amoroso da Literatura que enfoca, comparativamente, o adultério nas três obras. Esse romance Português teve bastante influência de Madame Bovary, na incorporação de certos valores sem que se perdesse, da parte influenciada, a autenticidade. Ambos os romances têm como heroínas duas mulheres jovens e casadas, respectivamente Emma e Luísa, que se aventuram em relações de adultério e, ambas, têm uma personalidade frágil que encontra ressonância no caratér frágil da burguesa da época.
Nesse longa-metragem, Luísa (Débora Falabella) é a típica mulher romântica, sonhadora e vulnerável, parte da pequena burguesia vislumbrada para a qual qualquer acontecimento notável a tiraria do tédio. Enquanto o seu dedicado e apaixonado marido Jorge (Reynaldo Giannecchini), engenheiro, está ocupado com a construção da capital Federal, Brasília, Luísa é uma desocupada. Certo dia, ela encontra o seu atraente e galanteador primo Basílio (Fábio Assunção) e eles se envolvem sexualmente reavivendo os flertes do passado, com direito a cenas calientes típicas de novela global, promessas de fugirem juntos para Paris e encontros em quartos baratos. Só que nenhum adultério é perfeito. Luísa é uma mulher ingênua e "cabeça de vento" que costuma maltratar a empregada Juliana (Glória Pires, em formidável e assustadora atuação) que descobre a traição de Luísa e começa a chantageá-la a contar tudo para Jorge e entrega-lhe a incumbência de realizar os pesados afazeres domésticos. Juliana é uma personagem-chave para denunciar não só a traição e a fragilidade de Luísa mas também a situação decadente de mulheres como ela, meros empregados sem qualquer perspectiva social. Para entender melhor o filme como legado de uma crítica literária social, é necessário ler o livro e compreender porquê Daniel Filho elaborou uma adaptação brasileira que mais parece um folhetim com cara de minissérie global, porém bem dirigido e com um elenco que cumpre o seu papel, com destaque para a melhor atuação do longa, Glória Pires, desconfigurada como a asquerosa e vingativa empregada.
De maneira geral, a vantagem de assistir essa adaptação brasileira é refletir sobre o fundamento da obra literária, em especial nas atitudes de Luísa e Juliana e, como, enfim, elas significaram a pobre mentalidade da sociedade portuguesa na qual o escritor focaliza a ruína de classe e financeira. No livro O Primo Basílio, Luiza (escrito com z mesmo) vive na capital lisboeta, que é comparada em relação ao romance Flaubert, como equivalente à província francesa. Esta seria uma das influências de Madame Bovary e a incorporação do contexto, neste caso, significaria uma influência que recebida, é transformada por Eça com originalidade. A província é o reino do pequeno burguês no romance de Flaubert. Eça centra o romance na capital Lisboa, como que denunciando a estreiteza do mundo lusitano e o acanhamento da burguesia portuguesa. Eça ataca não somente a classe ao qual Luísa pertence, mas o atraso de Portugal, que está sendo comparado a uma província francesa e não a capital Paris. No enredo, Luiza também pensa em conhecer Paris, que cumpre o papel de metrópole em detrimento a Portugal. O próprio acanhamento do romance é um reflexo do acanhamento do ambiente que ele se passa, na capital de Portugal, país que tem posição periférica dentro da Europa, sem progresso, limitado, por isso o romance tem suas limitações. Luiza encontrará no adultério uma aventura. Ela não tem projetos, é “vazia”. Ter uma heroína como essa em O Primo Basílio, acanha mais ainda o romance, já que ela é representante da burguesia lusitana.
Eça retrata a decadência da instituição do casamento através do adultério. No enredo, vemos personagens desprovidas de virtudes, com sentimentos mesquinhos e fúteis, pensamentos lascivos e promíscuos: Basílio, o malicioso e vulgar janota, que está mais interessado em ter relações com a prima, como mais uma aventura; Luiza, ociosa e romântica, que vê na ausência do marido, a oportunidade de também se aventurar, de ter algo que fazer; Juliana, empregada chantagista, revoltada e frustrada, vê na chantagem a patroa a oportunidade de mudar de vida, Jorge, o marido ridicularizado e fiel mesmo traído, etc. Esses elementos comportamentais são fielmente mantidos na adaptação de Daniel Filho em um contexto Brasil e mais moderno. Além disso, nessa metalinguagem, há outros personagens secundários que completam o quadro social lisboeta: a beata de Dona Felicidade, o intelectualismo vazio de Conselheiro Acácio, etc.), personagens planos, frágeis psicologicamente e integrantes de uma sociedade atrasada em um mundo profundamente transformado pela Revolução Industrial, o escritor apresenta uma visão pessimista da sociedade portuguesa, a fragilidade da condição humana com suas doenças e vícios. Definitivamente, uma excelente obra, muitas vezes e, infelizmente, subestimada.
Até o próximo Literatura no Cinema!
Até hoje não vi o filme, e fiquei com vontade de assistir, parece bom. já o livro falam que é incrível e etc...
ResponderExcluirAcho que vou pegar o livro ! rs
Abs.
Este filme, para mim, é a pior investida do Daniel Filho no cinema. Uma obra totalmente equivocada. Adoro a Débora Falabella, mas ela está horrível neste filme, numa performance péssima. Digo o mesmo do Fábio Assunção e do Gianecchini, que é um ator muito fraco, no geral. Somente a Gloria Pires que se salvou, na minha opinião. A performance dela é, de longe, a melhor coisa desse filme.
ResponderExcluirOi Alan: Vale mais a pena ler o livro. Essa adaptação é mediana (tipo 2 estrelas)e vale somente ser conferida pela atuação de Glória Pires e, claro, analisar comportamentos que refletem a obra. bj
ResponderExcluirOi Kamila: Concordo que não é o melhor trabalho dele, mas não posso aferir se é o pior. Acho que é um trabalho regular porque o elenco foi mediano, com exceção de Glória Pires e a obra poderia ter sido aprofundada baseado na crítica do livro. O que acabou se tornando foi um dramalhão adúltero, com uma abordagem mais televisiva do que cinematográfica. Nao acho que a Débora Falabella foi tão ruim penso que ela foi dramática e vazia(o que ficou mais evidente no declínio dela após a descoberta da traição pelo marido) por isso ela combinou com Luísa. Com relação aos atores, tenho que concordar que, tirando a beleza deles, eles não foram profundos, mas também com esse roteiro fica difícil ser desafiado. bjs
ResponderExcluirOlá, querida! Como vai?
ResponderExcluirO livro é ótimo (tive que ler novamente ano passado por causa do vestibular), mas o filme senti a impressão de assistir a uma novela da Globo, mas convertido para cinema. Mas valeu pela Glória Pires.
Beijos, querida amiga! ;)
E quem disse que novelas são ruins, pessoal?
ResponderExcluirVamos deixar o exagero de lado, afinal na Rede Globo existiram ótimas adaptações literárias, minisséries bem feitas e novelas bem concebidas e marcantes...
Não vou ficar de pseudo intelectualismo - gosto de ver novelas e não acho que isso condene minha inteligência, afinal há entretenimento bom sim e algumas novelas tem talentosas tramas e desempenhos de bons atores.
Não achei este filme ruim, obviamente é inferior ao marco da literatura, mas eu gostei. O resultado é significativo e o elenco nem comprometeu, é claro que Glória Pires está soberba...o problema, ao meu ver, é que a direção de Daniel Filho é sempre corretinha, redondinha demais e limitada...ele nunca ousa demais e isso peca, às vezes.
Se fosse outro diretor, por exemplo, o filme seria mais além...
Mas, no geral, é satisfatório...
Gostei do seu texto, Madame
Aproveitando o embalo do cinema nacional: peço que leia com carinho meu último post de um belo filme nacional..."sonhos e desejos"...e, outro pedido: se puder, veja ele por esses dias (pode ser? sério! rs) e escreve aqui sobre ele.
Quando o revi, lembrei de ti! rs
beijos
Dietrich,
ResponderExcluiresse filme é um folhetim mesmo.
Barraco de novela. Mas é ótimo.Redondinho, bem dirigido e atuado.
Não tinha Reynaldo Giannecchini suficiente para a Debora Falabella? Ela precisava de um Fábio Assunção? Este cast além de global, é de uma estética maravilhosa. Todos lindos! Exceto a feiosa da Glória Pires, que é linda em outras coisas. Como mostra sempre em ser uma excelente atriz.
Uma pena são os estigmas das novelas. Esse é o maior erro da Globo Filmes e do Daniel Filho. Eles ainda não sabem produzir hollywood ou algo parecido estilo Fernando Meirelles e Walter Salles.
Primo Basílio ainda nao teve uma versão definitiva.
Ótimo texto.
Bjokas minha Dietrich!