Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

"I'm thinking about making a change" Desde que Ben Affleck assinou o roteiro adaptado e a direção de Medo da Verdade (...

Atração Perigosa (The Town) - 2010


"I'm thinking about making a change"



Desde que Ben Affleck assinou o roteiro adaptado e a direção de Medo da Verdade (Gone Baby Gone, 2007), thriller dramático baseado em mais uma obra do formidável escritor Dennis Lehane (de Sobre meninos e lobos e Ilha do Medo), ficou evidente que ele é mais promissor como diretor que como ator. Com o recém lançado Atração Perigosa, Ben Affleck confirma, de uma vez por todas, o seu talento para ser os nossos olhos. Seu olhar directivo tem frescor fílmico e competência de quem sabe o que faz para materializar roteiros em imagens de impacto, realistas e contemplativas. As rítmicas cenas de ação se alternam com as de diálogos dramáticos, de existencial reflexão. Para encerrar com câmera de ouro, desta vez, ele foi impecável ao registrar um dos seus personagens preferidos: sua Boston, cidade que dá o título original à película.





Adaptado do romance O Príncipe dos Ladrões (The Prince of Thieves, de Chuck Hogan), Atração Perigosa é ambientado no bairro de Charlestown, reduto dos criminosos da região. Somos apresentados à capital americana dos assaltos a banco, com a inclusão de uma cidade no cast que diz muito sobre os moradores que ali vivem envolvidos em contravenções como sequestros, tráfico de drogas, assaltos, etc; com vidas traumatizadas por perdas e ausências. Doug MacRay (Affleck) é um assaltante líder de banco, orfão de mãe e filho do presidiário Stephen MacRay (Chris Cooper). Doug cresceu no mundo do crime e perdeu a única chance de desenvolver outra carreira, a de esportista. Ao lado do seu grupo de amigos que ali nasceram, incluíndo o seu melhor amigo, o rebelde e violento Jem Coughlin (Jeremy Renner), Doug vive o dilema de quem tem como família criminosos, e tem que lidar com a 'herança' de ser filho de um famoso bandido mas ele não quer mais saber de uma vida bandida. Essa vida não o satisfaz mais, há um sentimento de inadequação nele. Doug expressa a contradição de todo bandido durão com jeito de mocinho. Ele é fiel aos amigos, respeitado pela vizinhança, solitário, apaixonado e carrega consigo o peso da necessidade de redenção. Essa vida criminal que não combina mais com ele está prestes a chegar ao fim, o desafio é conseguir se livrar dela.





Durante um assalto a banco, Doug e seu grupo fazem como refém a gerente Claire Reesey (Rebecca Hall, ótima) a qual acaba por exercer uma forte atração em Doug. Por uma ironia do destino, o ladrão se aproxima da mocinha e rouba-lhe o coração. Conflitos vêem à tona, verdades ocultas e difíceis escolhas também. Doug se divide entre sua família (de amigos), seu romance com Claire, a perseguição do agente FBI Adam Frawley (Jon Hamm) e as cobranças do crime organizado. Cada personagem exerce uma cobrança de ordem pessoal sob Doug tal que propicie à narrativa um conflito maior ao seu dilema : Jem e sua decadente irmã Krista, ex-affair de Doug (Blake Lively) são os problemáticos pavios curtos que esperam lealdade, um não distanciamento de Doug. Claire é a mulher que simboliza a perspectiva de uma nova vida com amor; mesmo que ela não saiba de seu histórico criminal. Ela é a mulher que significa a aceitação do outro, ou seja, aquela capaz de perdoá-lo dos erros passados e amá-lo. Adam é o calcanhar de Aquiles que o confronta com o que Doug se tornou e não deseja mais sê-lo: um implacável procurado pela polícia. Fergie (Pete Postlethwaite) é o poderoso criminoso que demanda os serviços sujos de Doug e o chantageia.





O elenco realiza um excelente trabalho dentro da importância de cada personagem neste contexto de inadequação de Doug. Com segura expressividade, Rebecca Hall atua com o mesmo estilo de boa moça, com uma natural beleza que enche a tela com espontaneidade, além de ter boa química com Affleck. Por sua vez, ele se esforça e não compromete a ação protagonista de Doug. Harmoniza a violência das cenas de ação com os momentos de bom moço em busca de redenção. Jeremy Renner faz bem o que já lhe foi natural em Guerra ao Terror: um homem impetuoso e agressivo, de personalidade forte. Ainda com méritos, o melhor personagem é Boston e como o olhar sobre ela é conduzido pela câmera. Das vistas áereas às ruas e moradores bem apoiadas pela primorosa fotografia de Robert Elswit, Boston rouba a cena juntamente com as cenas de ação. Estes são os grandes diferenciais da película que invariavelmente exercem uma irresistível atração.




Avaliação MaDame Lumière





Título original:
The Town
Origem: USA
Gênero: Drama, Crime, Policial
Duração: 125 min
Diretor(a): Ben Affleck
Roteirista(s): Ben Affleck. Peter Craig, Aaron Stockard
Elenco: Ben Affleck, Jeremy Renner, Jon Hamm, Rebecca Hall

4 comentários:

  1. Só leio elogios a este filme. Quero muito conferir. Se eu fosse Ben Affleck, largava de vez a carreira de ator e investiria na de diretor. Ele se redescobriu!

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  2. Linda escrita Dietrich!
    Quantas pontuações sábias principalmente quanto a fotografia do filme que realmente é primorosa.

    Também concordo que Affleck tem mais futuro atrás das câmeras do que na frente delas. Apesar de ser um ator bom e as vezes na média, ele tem um certo galantismo, mas como cineasta ele se superou. Achei a fita bem feita e conduzida. O filme até consegue entorpercer com a abordagem.

    A cena do assalto é fantástica.

    Bjs. Darling!!
    Rodrigo

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  3. Wow!
    depois de um tempo dedicada às séries (q nao acompanho), muito bom vê-la de volta criticando os filmes, de preferência, um que tenha visto.

    Excelente texto, MaDame. Arrebentou.
    você, definitivamente, gostou mais de "Atração Perigosa" do que eu. Hehe. Achei um filme de ação com alma, que alterna, como tu disse, ótimas cenas de ação com outras mais profundas e tal, mas o filme não me cativou tanto. É muito bem realizado - certamente Affleck deveria desistir de atuar e ir para trás das cameras - mas estão superestimando-o demais, na minha opinião. É bom, sem dúvidas, mas não pra tanto.

    =)


    bjs.

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  4. E eu não preciso ressaltar mais nada! Ótima crítica, ótimo olhar.
    Beijos

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