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Por  Cristiane Costa ,  Editora e blogueira de Cinema, e specialista em Comunicação   Os altos e baixos de lutadores de boxes fora...

O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki


Por Cristiane Costa,  Editora e blogueira de Cinema, especialista em Comunicação 



Os altos e baixos de lutadores de boxes foram amplamente abordados no Cinema com clássicos imbatíveis como Rocky (1976, de Sylvester Stallone) e O touro Indomável (1980, de Martin Scorsese) e novas interpretações como Menina de Ouro (2004, de Clint Eastwood),  Nocaute (2015, de Antoine Fuqua) e Creed: Nascido para matar (2015, de Ryan Coogler), todos sob a chancela do Cinema Americano e influenciados pelo American way de realizar dramas do esporte. Com esse cenário cinematográfico hegemônico, é mais do que bem vindo um filme de boxe que busca inspiração em outro país: Finlândia. Após conhecer o boxeador Olli Mäki e sua esposa Raija, o cineasta Juho Kuosmanen decide pela elaboração do roteiro e a coprodução Finlândia - Suécia - Alemanha para contar a trajetória do lutador. Em uma ligeira coletânea de frames, a plateia conhecerá o dia mais feliz de Olli.




A história transcorre em meados de 1962, quando o boxeador (Jarkko Lahti) começa uma série de treinos e publicidade para obter o título de campeão mundial. Com previa experiência como padeiro e uma vida modesta, Olli  não tem muita escolha a não ser sua submissão aos caprichos e ambição do arrogante Elis  Ask (Eero Milonoff), boxeador de outra categoria, seu amigo e coach. Paralelamente, sua relação com Raija (Oona  Airola) fica mais próxima e emocional. Ele que lidar com as cobranças e conflitos durante sua preparação.



Diferente dos dramas de boxe americanos, mais extensos e dramatúrgicos, esse breve longa-metragem é um belo híbrido de história de amor com a prematura frustração na carreira de boxe, apoiada por uma incrível cinematografia em preto e branco  que enche os olhos com um realismo esteticamente impecável. Kuosmanen apresenta o bucólico interior e Helsinque e foge dos clichês cinematográficos a tal ponto que ganhou o prêmio Un certain regard do Festival de Cannes 2016. É uma honra dada apenas a produções que evidenciam um frescor deleitante na estética do filme, em especial na composição da fotografia e da decupagem. No mesmo ano, o longa também obteve premiações no European film awards e Festivais internacionais de Zurique e de Chicago.




Se por um lado o filme ganha na estética, por outro o roteiro escrito pelo cineasta e Mikko Myllylahti perde algumas oportunidades de desenvolver melhor os arcos dramáticos, em especial a relação afetiva de Olli e Raija. Esse desabrochar do amor é bastante interrompido ou não aprofundado nos diálogos, que pode ter sido uma escolha do biografado ou dos roteiristas. Raija é tida como uma distração para o boxeador e se firma como uma figura dicotômica que para os outros atrapalhará a carreira do emergente lutador,  para o próprio, ela  é fundamental como mulher amada e apoio emocional em um momento tão transformador. 



Na pouca tensão dramática que a narrativa apresenta, a atuação de Eero Milonoff é um dos pontos altos por ser ambicioso, autoritário e uma especie de amigo interesseiro, vilão da relação. Apesar do bom desempenho de Jarkko Lahti, Olli é um homem confuso profissional e afetivamente, ainda perdido no início de carreira e tratado bem apenas para ganhar o cinturão de peso pena; assim, em diversas cenas, desperta mais a piedade  que a admiração. Infelizmente, a graciosa  Oona Airola permanece pouco utilizada, salvo o flerte que a câmera tem com sua angelical beleza. De forma recorrente, o diretor enfoca seu luminoso sorriso. Com essa proposta de roteiro, ela acaba sem espaço para ter uma postura ativa no desenvolvimento do relacionamento. A história de amor perde parte do seu potencial cinematográfico.







Colocar Raija como uma distração ao sucesso de Olli leva o filme ao risco de ser considerado machista e superficial. Essa não parece ser a intenção real do cineasta. Aqui o verniz é outro:  a prioridade de tornar Olli um campeão custe o que custar. Por si só, isso já é opressor! Não havia espaço para o afeto, apenas em torná-lo um vencedor e uma celebridade, logo, as tomadas que acompanham Olli nos treinos e nas sessões fotográficas dizem muito sobre as aparências e os interesses alheios. Dessa forma, mostrar que o amor é muitas vezes desprezado diante da razão tem um significado universal, dramático. Não há como negar: ser bem sucedido cria um distanciamento nas relações. 



Mais uma vez, a história do boxeador ganha uma dimensão significativa quando é perceptível que o caminho para o sucesso tem o seu alto preço assim como as derrotas testam a lealdade. Como acontece em diversas histórias, estar em evidência, indo para ou no topo,  é quando são testadas as reais motivações que vão sustentar as conquistas, lidar com as derrotas e dar continuidade aos relacionamentos. Nesses aspectos, essa joia Finlandesa tem o seu valor.





Fotos: uma cortesia Zeta filmes

Um comentário:

  1. Legal conhecer um filme de um país que nada conheço em termos de cinema. Legal, ótima critica!

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