O melhor do filme Noir
por MaDame Lumière
A parceria entre Byron Haskin e Roy Huggins foi uma das mais bem sucedidas da cinematografia Noir com a realização do fascinante thriller: Lágrimas tardias (Too late for tears, 1949), que consagrou uma das mais perversas femme fatale do Cinema, Lizabeth Scott no papel de Jane Palmer. Disposta a planejar diabolicamente cada passo, seduzir, mentir e matar, Jane encarna a sedutora e sagaz mulher noir que faz de tudo para possuir um mala de dinheiro roubada e usufruir o luxo que tanto almeja.
Casada com Alan Palmer (Arthur Kennedy) e procedente de uma classe média americana que cresceu pobre, Jane está no segundo casamento e não tem muitas posses. Certo dia, em um passeio de carro noturno, ambos são surpreendidos com uma mala de cem mil dólares. Como uma devoradora tigresa, ela mostra a verdadeira essência de sua ambição. Em paralelo, é perseguida por Danny Fuller (Dan Duryea), um misterioso pilantra que diz que é o dono da grana e com quem ela está disposta a negociar. O suposto detetive Don Black (Don DeFore) entra em cena para investigar o plano e atrocidades desta perversa sedutora.
Com um roteiro bem equilibrado em reviravoltas, dramaturgia e crime, o protagonismo de Lizabeth Scott é conciso e envolvente. Ela seduz pelo charme refinado e uma insanidade assustadora por dinheiro. Em diversas cenas, os olhos de Scott são como de uma tigresa sedutora e faminta, chegando à dissimulação de ser gentil. Sua urgência em se apropriar do dinheiro alimenta sua maldade desmedida que parece incontrolável. Desse modo, Jane Palmer é uma icônica personagem feminina noir, pelo foco na ganância, pelo drama de um caráter contaminado e duvidoso, pela vida trágica e sem salvação.
Como a maioria das mulheres do Cinema Noir, ambíguas e sedutoras por excelência, Jane está disposta a fingir e mentir para os homens em cena. Do mais ingênuo ao mais perigoso, os homens noir se enforcam na própria corda, basta alguns diálogos convincentes da femme fatale e lá estão todos vulneráveis. Essa enganação não deixa de ser divertida para a dramaturgia noir, pois "a maioria cai como patinhos" em uma ligeira fronteira entre o cômico e o drama fatalista. A atuação de Scott com o excelente Dan Durya contribui muito para a arena de felinos em cena. Danny é o criminoso com aparente autoconfiança e virilidade, porém mais um homem fadado ao fundo do poço, moralmente fraco e influenciável. Jane o usa como convém. A paixão por interesse, em um jogo controlador de quem engana mais que outro, transforma a dupla em um interessante casal amoral.
Lágrimas tardias tem uma envolvente evolução que apreende pelo vigor noir em um clima de suspense a cada twist, que não perde em ritmo e nem na função de cada personagem. Explicitamente, o filme pertence à Lizabeth Scott, elegante, má e dinâmica em toda a narrativa. É ela que torna eterno este drama noir . Sua performance é um primor porque suas feições e ações cheias de astúcia e objetividade desconcertam seus amantes e não há barreiras para essa sensual criminosa. Quanto mais ela deseja o dinheiro e persegue seu objetivo, mais seu drama pessoal fica visível. Alguns enquadramentos dão a impressão de que ela está sorrindo por dentro como se dissesse: "nenhum de vocês vai me parar. A grana é minha!". Mas, na realidade, ela é uma trágica femme fatale com lágrimas tardias!
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