Por Cristiane Costa, Editora e blogueira de Cinema, especialista em Comunicação
Um dos grandes ícones da comédia, Jerry Lewis, faleceu neste último domingo (20 de Agosto) em Las Vegas, em decorrência de doença cardíaca. Aos 91 anos, o comediante já tinha um histórico de problemas no coração e havia passado por sérias complicações de saúde, entre elas, câncer de próstata e fibrose pulmonar. Sua morte é aquela ocorrência que sempre será inaceitável para os admiradores de sua obra.
Sua contribuição para o Cinema é tão diferenciada e única que ele, assim como Charlie Chaplin, Buster Keaton e Laurel & Hardy, rompem qualquer barreira entre vida e morte e continuam eternos na intersecção entre a memória do Cinema e a experiência e nostalgia do púlbico. Além de seu polivalente perfil com múltiplas habilidades como ator, diretor, roteirista, produtor, cantor, comediante, apresentador de TV, Jerry Lewis é o raro artista que desenvolveu a própria independência, liberdade no processo criativo e o gerenciamento da carreira.
Em O mensageiro trapalhão (The Bellboy, 1960), Lewis é o adorável mensageiro Stanley no hotel Fountainbleau em Miami Beach . Prestativo e trabalhador, ele encarna aquele funcionário que recebe ordens e as executa com dedicação e bom humor. Cria várias confusões absurdas e hilariantes. Ainda que a intenção nunca foi ter um roteiro bem elaborado, Jerry brinca com situações bem comuns no show business. A elite americana cercada de puxa sacos e afins em cenas como a chegada de uma celebridade parecida com Stanley, uma competição de golfe e as relações de trabalho em luxuosos hoteis. Também, a opinião de Stanley não é solicitada e ele permanece mudo em grande parte do longa. Jogar luz na figura protagonista de um mensageiro não deixa de reunir a diversão com o tom provocativo.
O filme fez parte de uma nova fase de Lewis, quando ele inicia a direção em longas-metragens e não tinha mais dupla com Dean Martin. Nos créditos iniciais, através da fala de um executivo, o espectador é avisado da modéstia da produção, de seu teor bobo e sem sentido. É exatamente aí que estão a graça e a curiosidade. Quem quiser embarcar nas sequências do mensageiro trapalhão, já entra no clima do humor pastelão, apalermado, cheio de piadas. Realizado com forte improvisação, roteiro despretensioso e uma menor duração (72 min), a comédia mostra o que Lewis se tornaria (e reforçaria) nessa época de ouro de seus longas-metragens como "Terror das mulheres" e "O professor aloprado" : um grande ator e palhaço para trazer o encanto dos absurdos.
No longa, fica mais evidente que ele tem espetacular capacidade de protagonizar uma série de cenas (rápidos sketches) que exigem bastante preparo físico, consciência corporal, foco e competência de fazer performance pastelão. Também foi apoiado pelo videoassist, tecnologia que possibilitou que ele tivesse um controle maior da direção e da visualização de suas próprias cenas. Sem dúvidas, os desafios do cinema mudo, da pantomima e da comédia maluca não são para qualquer um. Seu talento mímico é impressionante. Seu vigor para se arriscar na direção e, ao mesmo tempo, marcar seu estilo cômico é digno de aplausos. Seus gestos, expressões faciais e carisma são como uma impressão digital, um DNA.
Um dos maiores legados de Jerry Lewis foi sua dedicação à comédia, um dos gêneros mais difíceis de fazer. Muitas vezes e injustamente, ela é considerada de menor valor, sobretudo em uma cultura Americana que fincou suas bases cinematográficas em grandes épicos, dramas, musicais e westerns. Por essa importância e tantos risos e descontração, Jerry Lewis é um gênio imortal. Nem mesmo sua partida poderá separá-lo dos corações cinéfilos.
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