O Cinema Europeu é um laboratório de dramas bem realistas que fazem parte da jornada do ser humano, também em busca da paixão, do amor e do prazer . Em parte desses filmes, o sexo é mostrado com intensidade como uma entrega visceral dos amantes à uma relação de descoberta do outro e de novas experiências sexuais, mergulhados nesta libido enlouquecedora que lhes tira a racionalidade a cada gozo e lhes afasta do cotidiano medíocre. Um desses fimes é Auftauchen, drama alemão de Felicitas Korn, uma tentativa muito imatura da estreante diretora em narrar sobre o louco amor entre uma mulher mais velha e um rapaz de 20 anos.
Nadja (Henriette Heinze) é uma estudante de fotografia. Independente e mais solitária, ela trabalha em uma revista como freelancer. Curte as noitadas em baladas tecno e está aberta a aventuras casuais. Conhece o jovem Darius (Golo Euler), aparentemente um homem mais tímido, com atitudes românticas. Não resistem ao tesão e começam o relacionamento com uma entrega total de quem transa loucamente e está aberto a se apaixonar. Clichê? Bastante. O problema é que o assunto poderia render um bom filme sobre relacionamentos fugazes e preocupa-se somente em usar o sexo como chamariz, além de mostrar planos recorrentes que nada agregam valor ao filme, como por exemplo, Nadja suada na balada dança como se estivesse sob efeito de ecstasy . No mínimo, é uma escolha desprovida de melhor criatividade sobre como funciona uma mulher de verdade.
Usar o poder erótico voyeurista do audiovisual para mostrar o despertar do relacionamento entre Nadja e Darius é um dos pilares do drama. O público observa como se dá a química entre eles e como se aproximam de muitas histórias que, provavelmente, alguém já vivenciou ou conhece uma pessoa que se entregou a uma paixão assim. Ela, uma mulher ainda jovem que se diverte na discoteca e está muito aberta ao prazer. Ele, um rapaz bem mais jovem e em maturidade, que tem o vigor físico e a atração por uma mulher mais velha. Alicerçado por um roteiro que prioriza mais as cenas de sexo do que diálogos, Auftauchen é um filme de alcova: sexo do início ao fim em várias situações, posições e tipos diferentes. É interessante notar que essa construção pode ser perigosa quando a diretora é inexperiente e narra a relação de forma a priorizar o sexo como uma "muleta narrativa". Torna-se um filme adolescente e, de fato, ela não soube reunir as peças dessa relação com um propósito bem definido na composição. É claro que o sexo em excesso pode indicar que essa relação está fadada ao fracasso mas como fazer isso de uma forma mais inteligente e menos masturbatória?
Para dar um crédito ao filme, o público tem que enxergá-lo além do que ele se dispõe a apresentar na tela e fazer as próprias conexões com a vida real. O sexo está ali com sua função libidinosa e intensificadora que leva os amantes ao sentimento de que estão apaixonados, cria fantasias amorosas na mente de Darius (as quais ele ainda não é homem suficiente para assumir) e afasta Nadja de suas responsabilidades. Ela vive em outro planeta desde que Darius entrou em sua vida e tal comportamento lhe trará consequências. É exatamente esta dimensão mais dramática das relações que não torna o filme 100% vazio e só focado em cenas sexuais. Pensar nessa pequena carga dramática é o que importa, independente da falta de tato da diretora. A proposta é boa, faltou desenvolvê-la melhor, agora cabe à audiência. É evidente que o roteiro poderia ter explorado melhor a dimensão das perdas e danos desse relacionamento, por exemplo, mas também não explorá-la demonstra que depois do prazer carnal, a decepção com o outro é uma possibilidade se não há mais nada sentimental em jogo. Sob a perspectiva dos relacionamentos, o filme encarna esse louco amor que, fugazmente, tudo cede ao corpo e à vida do outro mas que não se desenvolve com a velha e boa base de uma relação completa. Nessas horas, nem o sexo salva a relação assim como também não salvou esse longa.
Ficha técnica do filme ImDB Auftauchen
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