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Dois anos anos após o polêmico Império dos sentidos ,  Nagisa Ôshima lançou o seu segundo Império: o da Paixão , um longa com inten...

Império da Paixão ( Ai no Borei / Empire of the Passion) - 1978






Dois anos anos após o polêmico Império dos sentidosNagisa Ôshima lançou o seu segundo Império: o da Paixão, um longa com intensa temática passional que incluem paixão, adultério, sexo e assassinato e, com sutilezas (e intensidades) típicas do Cinema Japonês, evoca a insanidade da paixão e das ações destrutivas e irreparáveis que acompanham o ciúmes e o desejo.  O cineasta favorece muito mais a produção deste filme e adiciona um componente de horror através da presença de um fantasma que assombra a vida dos adúlteros, além de realizar uma excepcional direção, vencedora do Festival de Cannes de 1978. 


Em mais um trabalho  com o seu ator fetiche para os Impérios,  Tatsuya Fuji, Ôshima conta a história sobre um jovem oficial do exército Toyoji (Fuji) que se apaixona por uma mulher mais velha  Seki (Kazuko Yoshiyuki), casada com Gisaburo (Takahiro Tamura). Ocioso após servir o exército e com uma clara evidência de descontrole psicológico, Toyoji é um homem passional e violento e bastante disposto a consumir uma relação sexual com Seki. Começa a flertar com ela até forçá-la a um repentino momento de alcova. Ela é mulher caseira e dedicada ao marido. Representa a amante submissa que pouco a pouco se deixa envolver pela sedução. Entre risinhos cômicos e gestos e verbalizações contraditórias, ela cede aos encantos do jovem e é devorada pela paixão e loucura.


A ação ocorre em um vilarejo do Japão com casinhas rústicas e floresta, bem distante da civilização e com uma cultura mais interiorana e modesta na qual a estrutura social é marcada através de funções como a do policial, a do mestre, a do trabalhador braçal etc, desta forma, expondo um Japão bucólico e tradicional. Ao apresentar uma relação temporal e espacial como se fosse uma história facilmente contada pelo boca a boca de gerações e com uma bela mudança visual das estações do ano, a narrativa tem um status mais aproximado à uma ficção literária com uma tragédia  consumida pela paixão e assombrada por um espírito.







Esse longa é tecnicamente superior a Império de Sentidos por três razões: a primeira é o roteiro que não foca só na obsessão evidenciada na encenação de sexo explícito e na incontrolável fome pelo gozo.  Diferente da personagem Saba, Seki é mais ingênua e dependente do seu amante. Sua loucura é desenvolvida como mais fragilizada. A culpa e a figura do fantasma do marido traído é essencial como reflexo dos temores que tomam conta dos amantes, principalmente para o clima mais fantasmagórico e a excelente direção de arte e maquiagem que acompanha esse espectro perturbador.  A segunda é a bela direção de Ôshima com enquadramentos de câmera mais estáticos que valorizam planos como magníficos quadros cinematográficos. Esta virtude somada à narrativa construída com mudanças das estações do ano tornam a mise en scene um primor para os olhos do público. Finalmente, a terceira é a tensão sexual e a violência das paixões impregnada em cenas maravilhosas com forte simbolismo erótico e dramático, como por exemplo, a da depilação de Seki, o choro misto de prazer, libertação e angústia e, também, a belíssima cena de uma mordida que traz à memória um laço de sangue, do prazer vampiresco em uma história com referências no gênero horror.


Mesmo sendo uma história muito triste e que não liberta os amantes para usufruir a sua paixão livremente, não há como desconsiderar que Império da Paixão tem uma veia cômica. Por mais que haja um erotismo pincelado, as histórias de  incontrolável paixão do Cinema Japonês fazem os personagens perder o controle  e fogem muito do convencional. Em alguns momentos com gritos e falas mais altas, a forma de atuar dos japoneses contribui significativamente para realçar o cômico. No meio da tragédia, há um riso oculto prestes a explodir com tamanho comportamento extremista dos amantes e o ambiente de desconfiança tomado pelas fofocas entre vizinhos e a investigação de um policial imbecil. A evidência mais engraçada disso é a atuação de Kazuko Yoshiyuki que dramatiza de forma tão extrema seu desespero que cabe ao público rir ou ter piedade da pobre moça. Sua atuação não é formidável mas é essencial para evocar sua vulnerabilidade diante de um assassinato. Culpa, loucura, desespero se misturam com atitudes apaixonadas e sem noção. Também, com o ótimo ator Takahiro Tamura, a presença do fantasma é divertida pois sua cara relembra as obscuras  figuras do Expressionismo que transitam entre o trágico e o cômico. Com todas essas referências e uma magnífica direção, o longa é mais uma imperdível jornada no controverso Império cinematográfico do saudoso Ôshima.






Ficha técnica do filme no ImDB Império da Paixão 

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