Em mais um trabalho de Fred Cavayé, ele reúne uma série de escolhas que acompanham alguns de seus filmes: uma motivação pessoal e implacável dos protagonistas em defender a família e/ ou amigos, nova colaboração com Gilles Lellouche (de À Queima Roupa) e Vincent Lindon (Pour Elle) e sua experiência e gosto pessoal para suspense e ação. Em Mea Culpa, os dois atores são amigos policiais de longa data. Simon (Lindon) convive com a culpa após uma tragédia e não tem uma boa relação com a ex mulher Alice (Nadine Labaki) e com o filho Théo (Max Malglaive). Franck (Lellouche) é leal companheiro, tem uma filha pequena e guarda um segredo. Ambos estão unidos para combater um grupo de traficantes de drogas e mulheres e defender a família de Simon.
Mea Culpa é um filme interessante sobre culpa, lealdade e amizade que se perde em seu próprio potencial e se torna irregular em diferentes momentos. O roteiro acerta ao incluir uma camada dramática que preserva a relação entre os amigos apesar da tragédia e riscos de vida que surgem na história, mistura ao drama personagens policiais e um componente de perseguição e defesa da segurança da família e une um ótimo e querido elenco no Cinema Francês. Só que suas boas intenções não são preservadas em todo o roteiro que tem altos e baixos que nem mesmo o elenco tem espaço para equilibrar. O filme começa muito bem, tanto na direção como na história, com uma atmosfera de suspense e mistério que cerca a culpa de Simon e como essa tragédia o separou da família. Esse clima é obscuro, dramático e tem uma pegada violenta. A primeira sensação nos planos iniciais é: Esse será um grande e contundente filme, talvez até um novo cult Francês!
Mais adiante, para o roteiro cumprir a finalidade de "acordar" a personagem de Simon, que estava desmotivado consigo mesmo e carregado de culpa, a narrativa desenvolve uma motivação pessoal e familiar no protagonista e ele entra em ação com Franck. Todo o dinamismo da ação policial não tem inteligência tática nem para o suspense e nem na construção dos vilões, além do mais nem o núcleo familiar e a relação de amizade entre os protagonistas são desenvolvidos em profundidade, portanto, o roteiro é raso. Esse gap significa especialmente que a Culpa, que é um sentimento complexo por excelência, poderia gerar um material emocional nevrálgico sem afastar o filme de seu carater criminal. Também, a construção das cenas de ação é preguiçosa, ou seja, não são complexas em caracterização e locação assim como em preparação e intensidade físicas o suficiente para se destacar entre as melhores perseguições no Cinema. Consequentemente, o talento do elenco é desperdiçado e resta ao público ver o estilo durão e maduro de Vincent Lindon e o carisma de Gilles Lellouche, sempre bem-vindos.
A vantagem de Mea Culpa é seus extremos. É um filme que começa e encerra com a Culpa, um tema que lhe faltou no durante. Culpa dos roteiristas.
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