Tenho pensado muito no amor. Não no amor romântico, das cartas de amor. Eu tenho pensado no amor incondicional, no amor dos loucos, no amor que transita entre os extremos: o do amor e o da loucura. Quando penso neste amor, penso sempre no belíssimo Fale com ela (Hable con ella, do maestro Pedro Almodóvar). Um filme que você deve assistir e (re)assistir, uma obra prima do Cinema Almodovariano. Um filme fundamental, sublime, sensível, polêmico. Ele fala de amor de uma forma que eleva este sentimento e também o choca com o que idealizamos como amor. Dois homens se conhecem em um hospital e apaixonam-se por duas mulheres que estão em coma, a partir de suas vivências dramáticas junto a estas mulheres questões de amor e comunicação no relacionamento serão tratadas. Fale com ela é profundamente reflexivo e, exige um post somente para falar sobre estes dois homens e suas amadas o qual terei um tempo oportuno para elaborá-lo mais adiante. Agora, o propósito é pincelar o tema do amor e da loucura e o conflito moral que este amor traz ao espectador através de um único personagem, Benigno (Javier Cámara). O filme é incrivelmente inteligente e controverso ao abordar o amor, a solidão e a loucura através de Benigno, o enfermeiro que, supostamente (e isso é uma incógnita) viola Alicia (Leonor Watling), estudante de balé e seu grande amor que está em coma. Só Almodóvar é capaz de despertar em nós certas ambiguidades. Odiar Benigno ou não? Ter piedade dele ou não? De fato, ele é culpado ou inocente? Este é um dos maiores e mais duvidosos impasses na minha história de cinéfila.
Se considerarmos que Benigno tem um amor incondicional que beira a loucura, mas uma loucura sincera e terna, se considerarmos que é um indivíduo à margem da sociedade 'padrão' que temos - um cara introvertido, com sexualidade questionada, que passou adolescência cuidando de sua mãe, enclausurado quando podia ter curtido sua vida social, que quer se casar com uma paciente em coma (será isso loucura ? ou será esperança?), que simplesmente "Fala com ela" e cuida dela - não podemos entender este suposto estupro de forma "racional" - embora o estupro para nós seja um crime hediondo, imperdoável. Tenho certeza que Almodóvar incluiu este elemento para chocar valores - como um acontecimento (im)provável que era necessário para os fatos subconsequentes: a maternidade acorda Alicia do coma. O amor salva? Sob quais condições? Os fins justificam os meios? Isso é tão louco na mente do espectador que quando assisti pela primeira vez, fiquei pasma. Fiquei dividida assim quando assisti Medéia de Eurípedes no teatro e pensei: : "Meu Deus, Medéia foi traída, abandonada e rejeitada e matou os próprios filhos, ela é réu, ela também é vítima. Pobre, Medéia"- o espectador fica dividido entre a acusação do réu e também a piedade por ele. Esse é o objetivo da tragédia como tantas outras. Na minha opinião, Fale com ela se aproxima também de despertar este sentimento no espectador - Acreditar que Benigno é um ser tão entregue ao amor por Alicia, que é louco de amores e dedicação que beira à perfeição do amor genuíno mas é réu a despertar a acusação e a piedade como se disséssemos: ele a violou mas a amou, ele a violou mas a salvou, ele a violou mas a despertou novamente para a vida. É totalmente pertubador pensar assim, afinal será este sentimento de Benigno amor ou loucura ou amor e loucura? Será Benigno um criminoso por amar assim ou simplesmente um louco que deveria estar em um hospital psiquiátrico? Os loucos amam verdadeiramente? Será o amor louco mais genuíno? O que é mesmo o amor? Estes questionamentos só podem vir à tona com o Cinema de Almodóvar - de fato, ele quis abordar o amor louco, o amor marginal, o amor fora do padrão social e talvez o mais autêntico Amor. Bom Filme e saudações cinéfilas da MaDame Lumière.
Esse filme é fantástico, um dos meus preferidos. O Benigno claramente é alguém afetado, mas não dá pra duvidar que o amor que ele sente é algo verdadeiro. Ótimo filme, ótimas reflexões...
ResponderExcluirOutra coisa q eu curto muito em Fale com Ela é aquele filme dentro do filme, em preto e branco, mostrando uma cena de sexo pra lá de criativa... e com bastante sentimento, eu diria.
Bjos!
Oi Bruno, este filme é realmente fantástico e é o meu preferido do Almodóvar. Simplesmente Fale com Ela é imprescindível na vida de qualquer cinéfilo que se diga cinéfilo.
ResponderExcluirBruno, penso que a composição de Benigno como personagem é fundamental para evocar este Amor. Se ele fosse muito convencional, não teria a provocação de Almodóvar em nos fazer acordar para uma nova forma de pensar o Amor.
Sim, adoro esta linguagem dentro da linguagem. Almodóvar orquestra o Cinema como uma estupenda Sinfonia de dores, cores e amores. bjs!
Colocar o amor no banco dos réus e absolvê-lo poéticamente é algo que só Almodóvar poderia fazer. Vc sabe que adoro este filme, cuja reflexão é profunda e contínua.
ResponderExcluirBjs madame
Falou bonito, Reinaldo. Este é o nosso Almodóvar, sempre polemicamente poético! bjs
ResponderExcluirPequena obra-prima dele, em breve falarei no Apimentário. Preciso, né mesmo? diz aí, rs.
ResponderExcluirAh, adoro um outro, Carne Tremula.
Almodovar pra mim é o psicólogo do amor e do sexo e tenho dito.
Oi,
ResponderExcluirUltra mega hiper necessário dar uma apimentada neste filme. Quero muito ver sua opinião a respeito.
Almodóvar é a própria psique cinematográfica.
bjs!