Não é de hoje que os estúdios Hollywoodianos adoram lançar um novo filme sobre os conflitos no Oriente Médio e a guerra contra o terrorismo; uns bem melhor articulados entre a direção, o roteiro e a performance de grandes atores como Rede de Mentiras (de Ridley Scott), outros mais descartáveis como é o caso de O Traidor (de Jeffrey Nachmanoff) e que, facilmente, poderiam passar desapercebidos por cinéfilos mais criteriosos. A princípio, não iria revisar este filme porque ando um pouco fatigada desta idolatria americana em expor a ditadura do medo tão enraizada na era Bush e agravada pós atentados 11 de Setembro(2001) e que tomou conta das principais produções sobre Terrorismo, além disso desde que vi O Traidor na locadora não o priorizei. Eu mesma, se fosse muçulmana, acharia ainda mais o cúmulo do ridículo tamanho maniqueísmo no qual os USA polemizam os ataques terroristas, com ares de bom moço e ressaltando a abordagem "teórica" de pacifista e vítima, enquanto ao Oriente Médio se reserva o papel de berço de homens-bombas e fanáticos religiosos. Com esta opinião, não quero levantar bandeiras a favor do lado Oriental, mesmo porque julgo que tudo que é levado ao extremo, inclusive a religião e o poder podem levar o homem à plena destruição relativizando que veio ao mundo com a missão de fazer o que Deus quer e para o que foi predestinado a exercer, em especial, o poder de dominar o outro com discursos de paz que não passam de interessses de grupos específicos.
Em O Traidor, a idéia foi elaborar um conflito mais "tolerante" a fim de evocar a paz e a justiça que se buscam em conspirações internacionais e que sempre vem nos filmes, obviamente, dos USA, logo a ação é arquitetada para ouvir os dois lados inimigos através de uma figura central, o herói da história Samir Horn, um especialista em bombas que se infiltra na organização terrorista procurada pelos USA, ganha a confiança de Omar e dos principais líderes e gerencia os prós e os contras de dar seguimento à própria escolha que fez: ser um traidor. O enredo é baseado no que julgo colocar o principal protagonista "emcima do muro" como um homem pacifista, tolerante e espirituoso, de dupla origem (Oriental e Ocidental), que ironicamente perdeu o pai na infância , vítima de um atentado-bomba e que, na fase adulta, se tornaria um brilhante ex-oficial a serviço de transitar nos dois lados inimigos, tendo sua identidade o mais preservada possível.
Embora o roteiro tente embelezar emocionalmente a história através da atuação de Don Cheadler, exaltada em close-ups de um homem entre a fé e o ofício mortal, entre sua amizade com Omar e sua posição de traidor, entre o ponto em comum entre ele e Roy Clayton (que é expert em Estudos Arábes e filho de um pregador religioso), o Traidor é conservador e dispensável principalmente se considerado o tema "batido" que acaba por exigir um maior criatividade da direção e do roteiro. Infelizmente o filme acaba pecando na desenvoltura da ação e do suspense que, ainda são carentes no filme em comparação ao seus concorrentes. Jeffrey Nachmanoff se esforça em explorar as imagens contrastantes do Oriente entre o claro e o escuro, abusando dos focos em homens e mulheres - bomba em fase de preparação para explodir a si mesmos e outros, nos inimigos em ação com as performances previsíveis dos agentes do FBI, no herói Don Cheadler e sua apelativa expressão de um homem que anula sua vida por um bem maior à humanidade e na esperada e envolvente trilha sonora arábe. Apesar disso, O Traidor não deixa de ser uma boa opção de entretenimento que nos sensibiliza de que o terrorismo e o pacifismo, ainda que coletivos, nascem de atitudes individuais e que a tolerância e a paz têm que ganhar vida e sair das telas de Cinema, ir para um plano real e neutro, ainda que com sacrifícios pessoais como o de Samir Horn, a paz verdadeira é o que importa, mesmo sendo uma complicada utopia, ela ainda é uma escolha, uma tentativa.
Título original: Traitor
Origem: EUA
Gênero: Drama
Duração: 114 min
Diretor(a): Jeffrey Nachmanoff
Roteirista(s): Jeffrey Nachmanoff, Steve Martin, Jeffrey Nachmanoff
Esse eu ainda não vi. Pela mesma razão que você ainda não o tinha visto.Simplesmente não o havia priorizado. Mas a ocasião faz o ladrão certo.rsrs
ResponderExcluirBem, não tenho muito a argumentar aqui a não ser acerca de sua fadiga em relação aos temas do oriente médio e da América pousando de vítima e bom moço. Repare que os mais recentes filmes como No vale das sombras, o próprio Rede de mentiras e Guerra ao terror vão na contramão dessa tendência. O traidor, como vc bvem observou, pode asumit uma postura mais conservadora. Mas hollywood nunca esteve tão liberal e anitibélica como agora. Avatar, para ficar em um exemplar recente, é outro filme antimilitarista. E desce a lenha no exército americano. Os tempos estão mudando.
Bjs
madame
Olá Reinaldo, obrigada pelo comentário! Eu ainda não assisti estes filmes, com exceção a Rede de Mentiras ( o qual não me lembro os detalhes e precisaria assistir novamente), mas o ocasião também faz a ladra haha...
ResponderExcluirSobre Avatar, sei que a essência do filme é dar um bom exemplo a partir de um anti-exemplo que é exatamente estas atitudes de perda da humanidade no coração humano.
Beijos cinéfilos!
A propósito, embora haja a fadiga do tema, penso que o conservadorismo de O Traidor segue exatamente este apaziguamento das atitudes bélicas, por exemplo, este lado Americano + muçulmano de Samir Horn é conciliatório, além disso é evidente que ele é temente a Deus e a religião de uma forma submissa, porém não refém. O próprio Islã quer dizer "Submissão". Neste ponto, viajando em meus pensamentos com relação a este filme, penso que a questão de submissão de Samir Horn, se infiltrando na organização terrorista por um bem maior tem a ver com uma atitude submissa em pró de um pacifismo, (in)diretamente criticando atitudes fanáticas de submissão que matam o próximo gratuitamente e por causa de Allah.
ResponderExcluirBoa sessão de o Traidor e depois volte para comentar comigo o que achou.
Beijo da Madame!