para uma nova existência" (Trecho adaptado por ML, de Avatar)
A megalomania, delirante mania pelos feitos grandiosos, tem injustamente o estigma de ser um defeito dos individualistas que, talvez, olham para os próprios egos a fim de satisfazer a vaidade do eu com suas grandes proezas, no entanto pensar assim pode ser um grande erro quando a megalomania é canalizada em fazer algo grandioso que explore a grandeza dos valores humanos em prol do bem coletivo da humanidade. O que pode ser um mal individualista se torna uma virtude em favor de todos. James Cameron, o diretor do recordista de bilheteria Titanic e da nova mega bilionária produção 3D AVATAR, é um dos melhores e mais adoráveis megalomaníacos do Cinema, um inveterado visionário, um romântico que, ao idealizar Avatar, demonstra que tem uma corajosa força moral como diretor ao transmitir que a raça humana perdeu muito de sua natureza primitiva, o âmago de sua humanidade.
No filme, James Cameron mistura ficção, romance, ação e uma série de temas inspiracionais que vão desde os mais existenciais como a liberdade, a identidade, a espiritualidade até questões sócio-ambientais, científicas, políticas, etc.Apesar das críticas de que o enredo é fraco e de que tecnologia não faz um filme vencedor, penso que a intenção de Cameron é muito mais profunda no plano da existência humana, logo o enredo pode injustamente ser etiquetado como "pobre" quando na verdade prefiro dizer que ele é ludicamente inspiracional e serve exatamente para guiar inicialmente nossa imaginação para uma reflexão da realidade, ele dá a dica básica e não entrega todos os detalhes porque é preciso que entremos no processo transformador avatariano. A obra é primorosa em efeitos especiais de admirável magnitude com tecnologia de ponta 3D e um roteiro mais empenhado em destacar a beleza moral de uma nova raça - os Navi ("altos seres azuis com uma expressão felina em sensuais e esguios corpos"), a metamorfose de um homem (Jake Sully) vivenciando a reveladora experiência de pertencer aos Navi, o romance entre um humano e uma Navi com todo o romantismo by Cameron e um planeta (Pandora) de magnífico primitivismo engrandecido pela vivacidade da exótica natureza e o onirismo de um esplêndido mundo desconhecido e paralelo de imensurável valor espiritual e respeito à mãe Natureza.
Jake Sully (Sam Worthington) é um ex-fuzileiro paraplégico cujo irmão morto era um cientista preparado para o programa Avatar no qual seres humanos se servem de Avatares, combinações de DNA humano com Navi, para se infiltrarem no clã destes nativos. Com a morte do irmão e, considerando o alto investimento em um Avatar, Jake é seduzido pelas "autoridades" a substituí-lo pois tem o mesmo genoma, sendo que também é uma oportunidade dele ter as "pernas dele de volta", claramente evidenciando que, dado o infórtunio de Jake obter esta deficiência física e ter servido seu país em arriscadas bases como a Venezuela, ele também é impulsionado a continuar vivendo sua vida, para o seu próprio bem e interesses pessoais. Ao chegar em Pandora, ele conhece a cientista-chefe Grace ( Sigourney Weaver) que mantém seu forte espírito científico e, embora mais racional, ela se curva à emoção de conhecer Pandora e Navi e lidera as "conexões" entre o Jake Sully homem e o Jake Sully Navi, através de uma inusitada câmara de transferência a um novo mundo que, aliás, ela também usa. Por outro lado, no time "humano" principal há a presença desagradável do implacável Coronel Quaritch (Stephen Lang), a alegoria perfeita do exército americano mercenário e do todo poderoso manda-chuva da operação Selfridge (Giovanni Ribisi) , a alegoria perfeita da autoridade vazia que nada entende, cumpridor e distribuidor de ordens sem qualquer discernimento. Michelle Rodriguez (de Velozes e Furiosos) é Trudy Chacon, oficial do exército que juntamente com o cientista Norm Spellman(Joel Moore) acabam por apoiar Jake e Grace nesta aventura Avatariana.
Primeiramente, confesso que gostei do filme além do aparato tecnológico porque Pandora e sua nativa população Navi, ainda que desconhecidas até então, têm o poder de ser nostálgicos em minha alma como sentir saudades de uma casa que existe no meu psíquico. Explico-me: Sabe aquele sentimento de ser um estrangeiro em um mundo como o nosso que se destrói a cada dia? De pertencer a um lugar como Pandora e a uma raça como os Navi e ter sido separada disso caindo no ostracismo ao ver que não tenho qualquer relação com o mundo atual, moralmente devastado? Eu me sinto assim algumas vezes e me esforço para fazer a diferença e ainda acreditar na raça humana mesmo porque eu faço parte dela, por isso filmes como Avatar são feitos para mim, são feitos para indivíduos que têm o idealismo impregnados de realismo e, mesmo que Avatar não traga nada diferente do que já deveríamos saber e incorporar: amor, união, força, coragem, espiritualidade, lealdade, dignidade, etc, o filme tem o poder de ressaltar uma crítica social à frieza e à falta de respeito de homens que destróem o meio ambiente, que usam a guerra e o poderio bélico para oprimir e dizimar comunidades que não se vendem e que continuam se preservando em suas tradições, costumes e crenças e, principalmente, Avatar resssalta que a natureza é o nosso bem maior, a fonte sagrada da vida que se conecta ao nosso corpo, alma e espírito que, no filme está presente em diversos momentos como uma rede que retroalimenta os Navi e sua dinâmica de vida, desde as sementes da árvore sagrada que tocam o corpo de Jake antecipando a profecia de que ele é o escolhido pela divindade dos Navi Ewya, passando pela árvore das almas que é o inacessível lugar sagrado dos Navi até a conexão dos Navi com seus exóticos animais que voam e dos cultos xamânicos junto à natureza.
Jake Sully é a nossa conexão com Pandora, o homem que começou o programa como se fosse até mesmo uma diversão demonstrando sua inicial imaturidade até mesmo ao se curvar à podridão homicida e autoritária do Coronel Quaritch. Jake é inicialmente um "dedo-duro" e "um traidor", porém maravilhosamente ele toma contato com Neytiri (Zoe Zaldana), conhece os líderes Navi(pais de Neytiri) e, nesta jornada, nasce novamente ao se conectar ao seu melhor, a essência que nunca deveria ter se perdido. O sublime deleite de Avatar é perceber que Jake poderia ser qualquer um de nós , inválidos não do corpo físico, mas inválidos em nossas atitudes já doentes. O ser que se transforma como um Avatar, passando pelo simbólico processo de transformação é Jake que ultrapassa a fronteira do real de usar um combinação humanóide (científico Avatar) para o real de simplesmente ser Navi (o Avatar, a transformação) . Entendo que, colocar um ex-fuzileiro que serviu à liberdade de um país e que, agora, se encontra em uma cadeira de rodas sendo usado pela programa por ter o mesmo "genoma", sem qualquer motivo mais nobre é talvez ressaltar que, ele pode não ter mais valor para o mundo mesquinho dos homens interesseiros, mas ele é aceito e preparado pelos Navi, mesmo sendo um forasteiro, ele é escolhido pela divindade mãe, ele é um bravo guerreiro Navi em Pandora, o líder conciliador e estratégico que convoca clãs para a batalha, ele se apaixona por Neytiri em uma evocativa e linda história de amor, ele escolhe abrir mão de um mundo dito como "moribundo" para um mundo vivaz, colorido, brilhante, elusivamente lírico, libertador.
Mergulhar em Pandora, envolver-me racionalmente e emocionalmente com os Navi, olhar para o meu eu, nosso mundo real e a nossa humanidade é uma autêntica jornada Avatar, além do título desta produção cinematográfica, Avatar é transformar-se na iminente necessidade de ir para um mundo paralelo, existir e sentir-se da forma que temos carecido com a destruição da natureza e da humanidade. Por isso, evocativamente me enveredei à metamorfose que o filme se dispõe a anunciar, cabe a cada um, seguir James Cameron ou não ao invés de criticá-lo.Não há surpresas nesta produção porque os grandes valores humanos devem ser celebrados de forma recorrente, como bandeiras de uma constante revolução, então Cameron reinventou uma forma de falar dos valores que se perdem na existência do homem. Cameron olha para o futuro mas baseado no presente e no passado, então deveríamos saber o que devemos ser. Pandora e sua vibrante natureza é a Terra que erámos antes da destruição aos recursos naturais, os Navi significam a nossa existência ainda não contaminada, a realidade que ficou para trás e que pode ser retomada, logo toda vez que Jake Sully entra em conexão e se torna um Navi em Pandora, ele dá mais um passo à sua própria transformação, ele encontra a si mesmo neste planeta Pandora passando a não se ver mais como parte do nosso mundo tenebroso, ele se vê em um Navi e, esplendidamente, quando ele olha para sua amada Neytiri e diz: Eu vejo você, ele reconhece esta "conexão" tão relevante às nossas próprias relações, à nossa existência, à nossa sobrevivência.
transforme-se em um Navi
Ame a Natureza
Encontre sua legítima e humana natureza
(Madame Lumière)
Título original: Avatar
Origem: EUA
Gênero: Romance, Ficção, Ação
Duração: 150 min
Diretor(a): James Cameron
Roteirista(s): James Cameron
Elenco: Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Stephen Lang, Michelle Rodriguez, Giovanni Ribisi, Joel David Moore, C.C.H. Pounder, Wes Studi, Laz Alonso, Dileep Rao, Matt Gerald, Sean Anthony Moran, Jason Whyte, Scott Lawrence
Olá madame,tudo bem?
ResponderExcluirBela critica.Apaixonada. De fato Avatar pode ser considerado como um projeto passional. De James Cameron e daqueles que cedem a ele. No entanto, apesar de reconhecer os méritos técnicos, não enxergo os artísticos. Primeiro pq penso que o desenvolvimento das idéias é pobre e segundo por que não são realmente novos. Todos os filmes épicos trazem em seu âmago as questões tratadas em Avatar. E quase todos de que me recordo (são mais bem resolvidos). Até mesmo senhor dos anéis tem sua relação com a natureza e com a espiritualidade de uma maneira mais bem trabalhada.
Ademais, entendo que Avatar não é um filme inteiramente honesto. Seu discurso é oportunista e politicamente correto. Na esteira da megalomania bem enquadrada por vc. O foco nunca foi ser ecológico. É que ser verde está na moda (e dá dinheiro e prestigio, como Al Gore e o próprio sucesso critico do filme que se assenta sob essa bandeira, demonstram). A originalidade aí é que o verde, em Avatar é azul.
Isso dito, gostei do filme. Me diverti bastante. Achei -o ótimo entretenimento.Mas é só. Para mim,é nariz de porco e não tomada. Se é que vc me entende...
Bjs
Haha... adorei a expressão "nariz de porco e não tomada" haha. Deixando minha passionalidade de lado e o foco passional de minha review, você sabe que eu vejo os dois lados da moeda, graças a Deus, não sou alienada por isso assino embaixo do seu comentário.
ResponderExcluirReconheço que eu estou colocando Avatar em um nível mais emoção que razão o tratando como um filme que dá um pontapé inicial a uma reflexão existencial, a minha própria acima de tudo. Reconheço que o roteiro poderia ter sido melhor trabalhado e até convertido em algo mais elaborado ao bem lembrado Senhor dos Anéis que, é inconfudivelmente, um dos projetos passionais mais lindos da história dos blockbusters e cujo maniqueísmo deixa aflorar nossa luta pelo próprio bem, lutando contra o mal.
Entendo que, para um diretor como James Cameron receber um investimento bilionário para fazer um filme do nível hype de Avatar, isso tem que vir acompanhado de um discurso oportunista ainda que com virtudes afinal "vender boa inspiração dá dinheiro e só se consegue dinheiro com esta promessa" e sejamos honestos, "vender blockbusters é vender sonhos com entretenimento", principalmente quando eles são acompanhados de cenas de apelos pautados no romance e na luta pela liberdade e pela vida e criam um projeto ideal de mundo e humanidade através do cinema.
Avatar quer ser green blue, isso é fato, assim como vemos outros movimentos eco-friendly em outros tipos de negócios, afinal fazer business com cara de socialmente responsável cativa bem mais do que aqueles que não fazem, ainda que isso tristemente soe como uma hipocrisia, oportunismo e/ou manipulação aceitáveis, afinal quem são nossos inimigos que não a nós mesmos?
Beijo da Madame!
Vou comentar também, claro que sem o brilhantismo de vocês 2 aí de cima!!
ResponderExcluirO que eu senti de Avatar foi estranho. Ao sair da sala de cinema, me pareceu que faltava algo ao filme (e ainda não descobri o que). As expectativas eram tantas!! Mas depois, lendo ou escutando críticas, todo mundo falando o quão magnífico era Avatar, acabei acreditando neles!!
Um legítimo João Vai Com os Outros!
Agora eu não sei mais o que pensar!! heehehe
Completando, Madame o texto está ótimo!!
A parte em que você diz 'têm o poder de ser nostálgicos em minha alma como sentir saudades de uma casa que existe no meu psíquico, ficou linda!! Resumiu tudo o que eu senti tbm!!
Beijos,
Eri Jr.
Oi Eri,
ResponderExcluirAdorei sua visita, amo o seu avatar Wall-e. Super obrigada!
Se você tem esta sensação estranha de uma lacuna pós filme, penso que isso é super positivo, quer dizer que o filme não foi de todo desagradável (normalmente descartamos filmes que não damos a mínima, não é mesmo!?) e você me parece ilustrar que quer entender o que foi este "sentimento estranho" independente da opinião pública, este é um ótimo exercício cinéfilo. Boa reflexão!
Quando saí da sala após assistir abraços partidos tive uma sensação desta, o estranhamento foi "porque não estou soltando fogos de artifício ao assistir um novo filme de Almodóvar"? Na verdade, às vezes sem querer e já querendo, acho que a gente se cobra um pouco com relação ao que acharemos de grandes filmes com grandes diretores. A expectativa é sempre morrer de amores porque, diretamente, isso implica ter uma postura positiva de que o filme será bárbaro ressaltando ainda mais nossa querida sétima Arte.
Como já assumi, Avatar tem lá os seus comformismos e enquadramentos baseadas em coisas muito simples e nada inéditas, mas o meu sentimento imediato ao sair do cinema e que perdura até agora é exatamente esta nostalgia, a ponto de eu ter ido para a minha casa muito saudosa de Pandora e dos Navi, resultado do idealismo latente de fugir para outro mundo, o dos meus sonhos.
Beijos da Madame!
Da série verdades que precisam ser ditas: Esse blog é de outro nível.
ResponderExcluirParabéns madame pela amplitude de seu olhar.
Bjs
Concordo com o Reinaldo: Esse blog é de outro nível!!
ResponderExcluirParabéns Madame.
Beijos
Obrigada... meninos levados que querem me emocionar novamente. Beijo, beijo e beijo da madame!
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