Se você quer embarcar em uma jornada policial de ação, uma sessão frenética de cinema com muito suspense e confrontos entre criminosos e policiais no submundo do tráfico de drogas e crime organizado, esqueça Vício Frenético. Este é um filme mais lento que reflete a corrupção humana através do drama de um homem de natureza muito corrompida que mistura seu vício pessoal à sua função social porque ele é um homem doente físico e psicologicamente, dependente de cocaína e um policial que, enquanto soluciona crimes, vai extorquindo drogas para sustentar seu vício. Com isso, ele recorre à sala de apreensões da polícia, a abordar cidadãos na noite chantageando-os para conseguir drogas, a fazer parcerias com traficantes e matadores, e na solidão de sua vida amarga, ele compartilha o vício com a namorada Frankie, inclusive aceitando a prostituição dela como algo normal, afinal ela também consegue uns papelotes de cocaína com os clientes. Neste cenário, Terence McDonagh se divide entre ser um exemplar investigador e um louco viciado que não poupa esforços estratégicos para conseguir a droga no curso diário de sua rotina policial.
Embora minha expectativa com o filme era assistir uma produção "freneticamente cult", cheia de tensão e rush, Vicío Frenético tem suas vantagens para reflexão sobre este drama, ainda que eu assuma que não foi fácil assistí-lo até o fim. Achei-o chato e só permaneci assistindo-o porque Nicolas Cage é muito querido e me concentrei em desfrutar sua dúbia performance. Na verdade, o melhor do filme é o fato de ser uma amostra do tipo de insanidades que as pessoas fazem para conseguir drogas e como elas se perdem no próprio vício, transfigurando a si próprias e vivendo a angústia da dependência química, no entanto o foco em um policial vem a ressaltar a questão da corrupção do ser humano e da própria instituição policial na figura deste homem. As atitudes dele acabam por contaminar o seu ofício e a representação deste na sociedade. Em uma das cenas, um traficante ao ser interrogado diz à outro policial na frente de Terence algo como: "você (Terence) acendeu um baseado na minha frente"; ou seja, o bandido questionando a atitude da própria polícia. Por outro lado, o contraponto encontrado em Terence McDonagh é que há um talento nele que até mesmo os policiais que trabalham com ele reconhecem, inclusive o promovendo e colocando nos melhores casos, por isso ele é um homem duas caras que, em alguns momentos, reflete sobre sua condição degradante. Em outra cena do filme, a tia das crianças chacinadas pede a ele para encontrar quem fez tal atrocidade e fica evidente que Terence McDonagh é um policial corrupto, mas comprometido e sensibilizado com a dor desta senhora . Logo, as atitudes de um policial como ele poderiam ser as de qualquer pessoa, na fronteira tênue entre o transgredir e o não transgredir, entre a insanidade e a sanidade, entre seu drama pessoal e sua função na sociedade. Por Terence ser duas caras e um habilidoso policial, ele tem um estilo singular de interpretar sua própria personalidade para conseguir o que quer e onde quer, neste ponto, a atuação de Cage salva este Vício Frenético, que tinha de tudo para se tornar um cult vício cinematográfico, mas não foi desta vez.
Título original: Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans
Origem: EUA
Gênero: Drama
Duração: 121 min
Diretor(a): Werner Herzog
Roteirista(s): William Finkelstein, Victor Argo, Paul Calderon, Abel Ferrara, Zoë Lund
Elenco: Nicolas Cage, Val Kilmer, Jennifer Coolidge, Eva Mendes, Brad Dourif, Fairuza Balk, Shawn Hatosy, Denzel Whitaker, Shea Whigham, Xzibit, Tom Bower, Brandi Coleman, Vondie Curtis-Hall, Irma P. Hall, Katie Chonacas
Engraçado, assim que vi o trailer eu, lá no meu íntimo, senti que o filme seria justamente esse embalo meio tedioso que você transpareceu achar...ainda que alguns focos argumentativos no roteiro ou mesmo a atuação do Cage tenha sido favorável - não seria motivo pra tornar o filme puro efeito belo cinematográfico.
ResponderExcluirAh, e eu simplesmente acho a Eva Mendes fraquinha!
Beijos
Como vc percebeu pela minha critica compartilho de sua opinião. entendo a motivação de Herzog ( mostrar a trajetória aoinferno desse personagem). A medida que ele avança na carreira mais é consumido por seus demônios. Mas tudo isso já foi trabalhado no longa anterior de forma mais satisfatória. As iguanas, os crocodilos e a cobra que aparecem no longa para mim não são alusão da selvageria do meio que vive o tenente e sim um mal calculado subterfúgio de Herzog para diferenciar seu filme do original. O tiro saiu pela culatra.
ResponderExcluirSe ainda não viu o filme de Abel Ferrara madame, recomendo. Mas deixe o tempo passar. Se não esse cansaço pode contaminar a sua percepção do filme...
Bjs
Oi Cristiano,
ResponderExcluirNa verdade, eu não assisti ao trailer desta versão e também nem o original de Abel Ferrara, por isso eu tinha uma expectativa baseada em algo mais ativo, de qualquer maneira um cult frenético é sempre um cult frenético e baseado neste tipo de publicidade, eu pensei que fosse algo mais intenso.
Não tiro o mérito da fita porque acho interessante analisar o comportamento deste policial e como ele se articula para alimentar o vício.
Com relação a Eva Mendes, achei o papel dela bem ruim, ela praticamente não fala e quando fala a atuação é sem sal.
Beijo
Oi Reinaldo,
ResponderExcluirDe fato, não assisti ao original e vou precisar dar um tempo pois me estressei no meio da fita. O filme não é no todo mal, mas ele é tedioso mesmo. Rodar um remake é sempre um risco, tem que no mínimo fazer jus ao primeiro, não posso julgar por este lado, mas esperava mais de Herzog.
Para mim, aquelas iguanas, crocodilos,etc que nem pareciam alucinações nem selvageria do meio foram puro complemento que não se complementa, ou seja, forçando a barra para parecer algo cool e diferente, ficou é ridículo.
Beijo