Neste enredo e, de forma inédita, Almodóvar colocará ênfase à história de um homem, o ex-diretor de cinema Mateo Blanco(Lluís Homar) que fica cego após uma fatalidade que envolve a perda de seu grande amor Lena (Penélope Cruz) e passa a viver sob o pseudônimo Harry Caine, praticamente matando Mateo Blanco com a perda da amada. Harry Cane continua trabalhando como escritor ao lado de sua fiel amiga e produtora Judite García (Blanca Portillo) e, somente após 14 anos, conta sua história de amor com Lena para Diego (seu filho com Judite, interpretado por Tamas Novas). Abraços partidos exibe a história deste homem, em forma de flashback e com grandes revelações, entre as quais: como conheceu Lena, como parou de dirigir, como ficou cego, etc. A beleza de Abraços Partidos tem várias pequenas grandes belezas, como o emocionante e fatal triângulo amoroso entre Lena, Mateo e o possessivo Ernesto Matel (José Luiz Gómez), a belíssima fotografia e dramaticidade dos momentos românticos absorvidos pelo poder das imangens, sem abandonar totalmente o universo feminino e seus passionais dramas, aqui, representados pela diva Penélope Cruz que era a atriz do último filme de Mateo Blanco, situação que também serve para Almodóvar celebrar e desdobrar o seu amor pelo Cinema. Outros sublimes deleites são a confissão imprevisível de Judite fazendo jus aos segredinhos femininos tão poderosos em Almodóvar e a retomada de Mateo Blanco em, deixar Harry Caine um pouco de lado, e reconstruir seu próprio passado dramático recheado pelas delícias do amor apaixonante, mostrando, a meu ver que, a maior morte é tentar matar nossa própria história de amor quando na verdade ela foi a única coisa que nos deu vida.
excepcional no papel de esposa e amante, a vida dupla de Lena
Ao terminar o filme, meu sentimento inicial foi: que obra prima almodovariana, mas por que tenho a sensação de que não gostei tanto do filme? Demorei semanas refletindo sobre este contraditório impasse antes de vir aqui no Madame Lumière e descobri que, de fato, eu gostei de Abraços partidos como obra cinematográfica na espetacular estética vanguardista de Almodóvar ainda que minha expectativa foi levemente frustrada, mas mais uma vez, me ajoelho perante o mestre e o louvo por ele ter a capacidade de ser tão objetivo e tão profundo trabalhando com várias nuances que mimetizam tanto os dramas das relações, de fato, Almodóvar me deixou muito mal acostumada ao seu brilhantismo e eu esperava mais do roteiro: mais desejo, mais amor, mais dramaticidade, mais tragédia, mais riso negro, mais humor , mais kitsch, preferencialmente de forma polêmica, no limite de explorar os desejos humanos mais secretos e mais obscuros. E neste ponto, Abraços partidos é estranhamente conservador ainda que explore de forma magnificamente diferenciada sentimentos como a paixão, o ciúme, a traição e a tragédia, ele ainda funciona bem melhor como uma ode de Almodóvar à sétima Arte.
também conhecido pelos trabalhos com o diretor Ang Lee.
Também, neste filme, entendo perfeitamente que Almodóvar se rendeu a um outro foco na temática que não se serve de mulheres complexas e problemáticas com as quais eu me identificaria bem mais logo é compreensível minha reação pós-filme; ele também não se serve de explorar os desejos sexuais enrustidos abertamente dissecados que garantiriam outro tipo de identificação e entretenimento, mas ele se serve de um homem e sua própria redenção, mais uma vez consolidando que é um exímio e versátil diretor que não deixa de perder seu próprio estilo, independente de focos protagonistas. Dirigindo a vida de um homem, cinematograficamente Almodóvar se superou se desdobrando a falar de Cinema com um enredo pautado no sexo masculino que nunca havia sido colocado em primeiro plano em seu próprio Cinema, logo como celebrar seu amor pela sétima Arte com quem não esteve próximo ao seu sucesso cinematográfico? Como celebrar seu amor pela sétima Arte tão feita e movida por imagens com um protagonista cego que não pode nem mesmo voltar a ver a performance de sua saudosa amada em vídeo e dar continuidade à direção de outros filmes? Esta é uma grande sacada, bem à altura dos mistérios magníficos de Almodóvar, um magistral diretor que gosta de brincar com sua própria Arte, de forma revolucionária e (im)previsível, incluíndo o que outros excluíriam, excluindo o óbvio que não o faria ser Almodóvar.
Cine lady como cara de Marilyn Monroe e Audrey Hepburn
Abraços partidos ainda exerce sobre mim um poder que poucos filmes conseguem, a maioria são filmes de Almodóvar que é o poder de polarizar vários sentimentos a cada quadro do filme, não de forma rápida, mas densa e belamente inesperada, explorando o poder da imagem e das majestais falas como se fossem momentos de reconhecimento do próprio eu; como por exemplo, o foco de imagem em Penélope Cruz se dirigindo ao seu marido Ernesto através da própria câmera denunciadora da infidelidade ao, descobrir ser filmada em secreto pelo filho Dele a mando do próprio pai loucamente enciumado. Uma cena estupendamente e melodramaticamente feminina! E também a imperdível honestidade de Penélope Cruz cumprindo seu papel de esposa fatigada, na qual ela é filmada em cena tragicômica confessando ao amante que é um sacrifício deitar-se com seu marido (enquanto isso Ernesto assiste o vídeo da confissão sendo traduzida pela intérprete, Lola Dueñas em minimalista e formidável performance ). Maravilhosa e engraçadíssima verdade! Por tudo isso, é como se eu visse Almodóvar ao lado do meu divã a explorar estas facetas psíquicas tão pouco exploradas pelos filmes que vão desde o sexo, o romance, a tragédia, a traição, etc e como este exercício pode ser dramático, mas ao mesmo tempo divertido como a bipolaridade das emoções e da própria vida ; neste sentido, o que amo em Almodóvar é sua capacidade de ser audaciosamente sensível com a essência humana e com sua própria essência, aqui, falando de sua própria Arte: o Cinema, campo fértil para o aflorar das relações humanas. Com isso, ele consegue explorar profundamente tanto seus próprios dilemas quanto os claros e obscuros comportamentos de ser humano, unido-os em uma miscelânea de fortes e contraditórias emoções. Mais uma vez, assistir Abraços Partidos é uma experiência reveladora de nossa própria essência e um excelente laboratório do ícone cinematográfico que é Pedro Almodóvar, imbativelmente único.
Uma cena imperdivelmente engraçada
e uma de minhas favoritas ! -
Tive um final de semana espantoso...
Tive o filho do puta desde encima por 48 horas,
não me deu um segundo para respirar
estou à base de tranquilizantes...
Que nojo!
Melhor não falarmos de Ernesto
"Ese melón mejor não abrirlo"
(veja a cara de Ernesto, o marido..rs!)
Título original: Los Abrazos Rotos
Origem: Espanha
Gênero: Drama, Romance, Suspense, Noir
Duração: 127 min
Diretor(a): Pedro Almodóvar
Roteirista(s): Pedro Almodóvar
Elenco: Penélope Cruz, Lluís Homar, Blanca Portillo, José Luis Gómez, Tamar Novas, Rubén Ochandiano, Marta Aledo, Agustín Almodóvar, Enrique Aparicio, Yuyi Beringola, Javier Coll, Juan Bautista Cucarella, Bina Daigeler, Sergio Díaz, Lola Dueñas
"Imbativelmente único" e tenho dito. Vc sabe que sou fã assumido de Almodóvar e de sua obra. Adorei o filme e adorei sua critica. Minha única discordância, e ela é banal, é sobre o impacto imediato do filme. Para mim ele foi imenso e primal logo de cara.Além de reconhecer a obra prima almodovariana como vc disse, me apaixonei instantaneamente pelo filme.Por sua pluralidade. Mas entendo sua necessidade de pausa para reflexão. Foi como vc disse, ele se reiventa e se desvia de certas abordagens comuns a sua obra como o desejo enrustido. Grande trunfo da sua observação. De fato, todos os desejos estão escancarados em Abraços partidos.
ResponderExcluirBjs madame
Oi Monsieur, que bom que compartilhamos deste mesmo sentimento com relação à obra Almodovariana e confesso que minha pausa para reflexão foi um movimento natural mais em função do final do filme do que do seu meio, mas também ela tem a ver com duas razões: a primeira de ordem mais cinéfila pois eu sempre gosto de refletir sobre os filmes dos meus diretores preferidos, então tomo meu tempo para viver o filme dentro de meus próprios pensamentos sobre ele. O outro é de ordem mais pessoal e tem a ver com o meu estado de espírito durante o filme pois eu não escolhi o melhor dia para assistir a Abraços Partidos, eu estava melancólica, logo uma parte de mim estava ironicamente insensível, talvez carente de fortes emoções libertárias. De qualquer maneira, soube superar esta pausa e ver a beleza do filme, o colorido almodovariano em minha vida.
ResponderExcluirBeijos da Madame!
Madame,
ResponderExcluire tem gente que acha que este film~e não teve o calor e as cores do Almodóvar?
Enfim..amo este cineasta e aqui ele se superou na técnica!
Bjokas!
Boa tarde MaDame, espero que este recado a encontre bem. Gostaria de parabenizá-la por seu trabalho, amor e dedicação ao cinema.
ResponderExcluirEncontrei este blog quando estava buscando informaçães sobre loz abrazos rotos, é obvio que seria difícil Almodovar fazer porcaria mas gosto de ver a opinião de outros antes de assistir um filme.
Tenha uma ótima semana.