O roteiro inteligente apresenta o fracassado e claustrofóbico ator Jake Scully(Craig Wasson) que é alegoricamente o homem tolo, ingênuo e que se dá mal na vida. Jake só atuou em poucos e inexpressivos filmes, tem sérios problemas de interpretação por conta de sua claustrofobia, é traído pela namorada e perde o emprego. Ao pegar a namorada na cama com outro, se vê sem casa. Jake está no ócio dos jodidos. No entanto, ele conhece o ator Sam Bouchard (Gregg Henry) que empresta o apartamento de um magnata para Jake morar. O apto localizado no alto de um luxuoso condomínio é o paraíso terrestre para Jake e, ainda é servido de uma espécie de entretenimento para o ocioso e pervertido ator: uma câmera, o canal fetichista entre Jake e sua musa Gloria ( a bela e estonteante Deborah Shelton) que, toda noite e no mesmo horário, faz um striptease na janela acompanhado pelos olhos voyeuristas do solitário ator.
Dublê de corpo revela este delicioso fetiche de olhar e ser olhado, mesmo que isso traga riscos compulsivos, obsessivos e de vida, afinal o prazer está próximo ao perigo, o imaginário pode urgir a necessidade da plena realização, o gozo aliviante da tensão sexual advém do descontrole do controle das eróticas pulsões. Jake desenvolve uma afeição por Gloria. Ela é a companheira de seu ócio em meio ao fracasso da vida. Por isso, Jake será impulsionado a conhecê-la, seguí-la, defendê-la, tocá-la e até beijá-la em uma das cenas mais magníficas do filme na qual o beijo e o prazer do beijo de desconhecidos é cenicamente dirigido com o plano de fundo se movendo como as sensações de um tesão incontrolável. Definitivamente, o voyeurismo ganha a proporção de ser tocado na pele, além dos arrepios no corpo, além do que se vê e se sente ao ser um voyeur.
Mas, Brian de Palma gosta de misturar o prazer sensual ao mistério, ao suspense e ao perigo, então Jake encontra a ocupação mais ingrata em meio à ociosidade. Ele é a testemunha de um assassinato. Ele desempenha um novo papel projetado a partir de suas fragilidades porque ele é solitário, ingênuo, claustrofóbico e voyeur. Jake ainda não sabe, mas ele foi estudado pela mente de um assassino. Após presenciar um terrível assassinato e descobrir a dublê de corpo e atriz pornô Holly (Melanie Griffith) que o ajuda a desvendar a identidade do assassino, ele está prestes a descobrir a verdade e superar seus próprios medos. Jake precisa interpretar um papel real e, nisto reside uma das grandes preciosidades do roteiro de Brian de Palma e Robert Avrech.
Elementos da cultura pop e pornográfica ressaltam um hedonismo cool, punk e decadente com cara de anos 80, o roteiro apresenta o acréscimo de novos elementos surpresa como o personagem Índio dando mais força ao suspense e a direção exibe focos de câmera imperdíveis da claustrofobia debilitante de Jake Scully. Dublê de Corpo é um longa-metragem digno de voyeurs, a desfrutá-lo com os olhos do desejo e do prazer cinéfilos. As cenas têm o tesão da tensão do suspense, faz sentir nas entranhas qual o prazer que virá depois na próxima cena, faz deleitar-se com a trilha sonora que provoca a mais deliciosa curiosidade. Eu gosto de ver e você? Ver o Cinema é o mais excitante dos momentos do voyeurismo humano.
Origem: EUA
Gênero: Suspense
Duração: 114 min
Diretor(a): Brian de Palma
Roteirista(s): Brian de Palma, Robert Avrech
Elenco: Craig Wasson, Melanie Griffith, Gregg Henry, Deborah Shelton, Guy Boyd, Dennis Franz, David Haskell, Rebecca Stanley, Al Israel, Douglas Warhit, B.J. Jones, Russ Marin, Lane Davies, Barbara Crampton, Larry 'Flash' Jenkins
Sinceramente, preciso rever este filme, eu vi quando tinha uns 12 anos. Lembro que loquei um vhs muito desgastados, houve uma cena que quase não deu pra ver, mas eu acompanhei atento até o final.
ResponderExcluirDe fato, um trabalho sensual e consistente.
Tudo a ver, inclusive, com meu Apimentário!rs
Você me fez querer vê-lo agora! quem sabe não posto?
Beijo
Olá Cristiano,
ResponderExcluirTambém há anos eu não o via assim como os clássicos de Hitchcock, mas tenho uma lista de desejos de filmes dos anos 30,40 e, principalmente anos 80 de vários gêneros e diretores e quero revisar todos.
Não pude resistir a lembrar do seu apimentário quando estava escrevendo sobre este filme. Acho que tem tudo a ver. Seria bom ter sua perspectiva.
Beijo
Brian de Palma é mestre. Depois ele enfiaria os pés pelas mãos com femme fatale, tentando emular a glória deste filme e Mulher solteira procura.
ResponderExcluirOi Reinaldo,
ResponderExcluirNem me fale desta minha frustação!
Penso que ele perdeu a prática de sua maestria. Prefiro o Brian de Palma de Intocáveis e Dublê de Corpo. Não simpatizo muito com seus últimos filmes.
Beijo