Você já foi chamado(a) de cachorro(a) algum dia? Deveria considerar isso um elogio ao invés de uma ofensa. Por razões óbvias, tendemos a rotular até mesmo alguns substantivos que adjetivizam, cachorro é um deles. No pejorativo da comunicação,se você é um(a) cachorro(a), você não vale nada e tem sua moral desmoralizada, no entanto ser um(a) cachorro(a) humano(a) deveria ser semanticamente e realisticamente mais valorizado. Se você é um(a), você está sendo elogiado(a) como um(a) amigo(a) leal. A lealdade é a virtude mais intríseca dos cachorros. Precisamos melhorar a Semântica.
Sempre ao seu lado é a história de um cão da raça Akita chamado Hachiko e seu dono.Um cachorro tão leal que passa a ser um típico exemplo de adorável obsessivo.O longa-metragem é uma refilmagem de Hachiko Monogataria dirigido por Seijiro Koyama e é baseado em fatos reais relatando o relacionamento entre Hachi e seu dono, o professor da Universidade de Tóquio Dr. Eisaburo Ueno. O professor morreu em 1925 e, nos 9 anos posteriores, cada dia e no mesmo horário, Hachiko retornava à Estação Shibuya para esperar e rever o professor. Hachiko faleceu em 1934, o que evidencia que o leal cachorro esperou o retorno do seu falecido dono até a morte. Esta verídica história é símbolo de lealdade na cultura japonesa, tanto que Hachiko tem sua própria estátua de bronze no local onde esperava o professor. Definitivamente, Sempre ao seu lado é uma triste e bela história de amor e lealdade, algo que sempre sobra muito na raça canina e falta na raça humana.
Neste enredo (se é que se pode dizer que há enredo neste filme), Hachi escolhe o professor Parker Wilson (Richard Gere, em fim de carreira) como o seu dono. Ele o encontra em uma estação de trem entre as idas e vindas de Parker que usa este meio de locomoção para ir ao trabalho. A princípio, Parker leva o perdido cachorrinho à sua casa e enfrenta a resistência da mulher Cate (Joan Allen, em momento "desperdício de talento"), mas depois ela cede e Hachi cresce lindo e feliz em belas cenas de intimidade desta relação com Parker. O filme tem uma fotografia bem feita (a qual apreciei bastante, principalmente quando o fundo era desfocado e a beleza de Hachiko era destacada) e, basicamente o trabalho de Lasse Hallström foi dirigir um cão nos mais variados enfoques, o que me faz ter saudades dos seus grandes filmes mais persuasivos como Regras da Vida e um Lugar para Recomeçar, fundamentais e inesquecíveis na vida de qualquer sensível cinéfilo.
A história de Hachiko é para quem aprecia a relação de amizade entre um cão e seu dono e que não tem a expectativa de um enredo mais ativo, com diálogos e quadros mais dinâmicos, por isso é um filme para um momento contemplativo para aqueles que estão inspirados a contemplar este relacionamento como um álbum de fotografias que as imagens são substituídas por palavras; do contrário Sempre ao seu lado e seu enredo zerado poderão provocar uma raiva, a humana, amiga da canina. Confesso que minha relação com o filme foi dúbia. Previsivelmente chorosa porque amo cachorros, me entristeço com as perdas da vida e acho a espera algo muito doloroso. Então ver Hachiko indo à estação de trem todos os dias, embora belo e louvável, era deprimente. O cão também é bem passivo, o que ajuda a deixar a atmosfera do filme mais introspectiva.
Por outro lado, eu não esperava ver um filme risonho como Marley e eu. Eu esperava ver mais poesia no relacionamento homem-cachorro, menos dinamizado por baguncinhas caninas típicas de cães espalhafatosos como Marley. Conclui que Sempre ao seu lado é o oposto de Marley e eu, possibilitando uma nova experiência de Cine Dog. Hachiko é Ying. Marley é Yang. Com Sempre ao seu lado, somente me frustei um pouco porque achei a dinâmica da história muito lenta, muito simples, muito contemplativa, é necessário "entrar no clima" desta produção para desfrutar o valor da história e a forma como ela foi dirigida. Um pouco de ação não faria mal à fita, no entanto histórias de fidelidade fazem muito bem , o que faz de Hachiko um adorável filme para amigos de cachorros que, por fidelidade à raça canina, também adorariam ser chamados de cachorros.
Título original: Hachiko: A Dog's Story
Origem: EUA
Gênero: Drama
Duração: 93 min
Diretor(a): Lasse Hallström
Roteirista(s): Stephen P. Lindsey, Kaneto Shindô
Elenco: Richard Gere, Sarah Roemer, Joan Allen, Jason Alexander, Cary-Hiroyuki Tagawa, Erick Avari, Robert Capron, Davenia McFadden, Forest, Kevin DeCoste, Bates Wilder, Tora Hallstrom, Robbie Sublett, Gloria Crist, Donald Warnock
Um posicionamento perfeito em relação ao filme madame. É isso aí.É preciso entrar "entrar no clima". É um filme de proposta bem diferente de Marley & Eu. É mais triste e contemplativo. É um filme "diferente" do Hallström. Penso que esse tom contemplativo, que vc faz refereÊncia, foi herdado do original japonês. Que muitos disseram que é melhor, mas na verdade é a mesma coisa. Os dois filmes se equivalem nos defeitos e nas virtudes.
ResponderExcluirNo mais, sempre achei que para elogiar a beleza de alguém, vc deveria chama-la (o) de cachorra (o) e não gato. um bicho tão sem graça. Seu comentário sobre o tema foi ainda mais completo.
Bjs
Que bom que você me entendeu! É um filme amoroso e melancólico, mas exige o momento certo para a contemplação.
ResponderExcluirEu conheço um pouco de literatura e cultura japonesas e realmente é uma forma distinta de pensar, de sentir, de se fazer entender.
E sim, não gosto de gatunos, prefiro os cachorrões e ser cachorrona rsrs...
Beijo
bacana a comparação entre a raça humana e a canina. concordo inteiramente.
ResponderExcluiro enredo é inexistente, mas eu consegui entrar no clima do filme, apesar das cenas serem de fato melancolicas as vezes, ainda mais para quem gosta de cachorros.
de qq forma, eis um belo exemplo de como é o amor incondicional que os cães têm para com os seus donos.
Eu admiro bastante os filmes do Lasse Hallström - principalmente o belo "Gilbert Grape".
ResponderExcluirMas, este eu acho que pode me cativar, até por que eu tenho uma relação única e de puro amor com minha yorkshire. Sou apaixonado por ela, ou melhor: meu amor por ela é algo que transcende e ela está a frente de muitos entes familiares. Sim, acredite. A fidelidade dela para comigo é algo especial...só quem convive observa.
Este filme eu sei que tem passagens lentas, mas acho que até o chatinho Richard Gere irá me cativar.
Assim que conferir, te aviso!
Beijo
Bruno, você falou tudo: amor incondicional... como este raro amor é terno. abs!
ResponderExcluirCristiano, também adoro os filmes de Hallström principalmente a densidade de Regras da Vida e um Lugar para recomeçar, grandes lições de vida. Muito bem lembrado citar Gilbert Grape.
ResponderExcluirQue lindo, você tem uma Yorkshire... ai que fofo! Eu tenho um Cocker Spaniel já velhinho que tem o espírito do Marley (rs)!
É incrível como os cachorros dizem tudo ao olhar nos nossos olhos. Tanta lealdade sem exigir nada em troca, totalmente a antítese de boa parte das relações humanas.
Tenho vontade de ter um Lhasa Apso,ainda terei um bem fofinho.
Beijo e volte para comentar sobre o filme e no que ele parece com sua relação com sua Yorkshire. Eu adoraria ouvir este relato.
Madame,
ResponderExcluiros seus textos falam com a gente. Sério estou gostando muito de ler o Madame Lumière!
'Precius' e 'Dorian Gray'(adoro este personagem, rs) são películas que quero conferir.
Quanto a 'Hachiko' é um filme que me impressionou - pelo animal mesmo. O cachorro é adorável, lindo!
Assisti com minha mãe numa tarde de segunda feira. Perfeito! Tudo bem, é mesmo um Cine Dog, todavia o cachorro impressiona. O filme não é genial, é bem sessão da tarde, os atores não dizem muito, as lágrimas da Joan Allen e a preocupação canastra do Richard Gere são trajeitos óbvios e em algumas cenas ridículos. O roteiro é linearmente simples..mas como disse, o lance é o Cachorro mesmo!
Essa bela criatura canina leva o filme na coleira.
Abs!
Oi Rodrigo,
ResponderExcluirQue gostoso ouvir isso. Obrigada!
Você está certo! Quando escrevo sobre cinema Vida, é como se eu estivesse conversando com cada um de vocês, uma prosinha, mais ligeira ou mais profunda, mas sempre uma prosinha. Por isso meus textos são mais baseados na oralidade e também eles vêem de um sentimento e não necessariamente só um pensamento cinéfilo crítico. Volte mais aqui. Também estou adorando a exclusividade do seu blog Cine Rodrigo. Vou aprender muito com você!
Concordo com tudo o que falou fechando com sua brilhante última frase! Hachiko é incrivelmente belo, parece que foi desenhado na tela.
Abraço da Madame!
Momento declaração de amor: Estou adorando conhecer todos vocês, amantes do cinema. Eu estou super feliz como estou sendo bem recepcionada por vocês e eu estou mais feliz ainda em visitar seus blogs e ver como são inteligentes e sensíveis à ARTE. Acho que encontrei minha tribo cinéfila. Putz, eu fico mais apaixonada ainda para escrever sobre a nossa paixão única.
ResponderExcluirSaudações cinéfilas a todos! Tenho certeza que 2010 a gente vai ser muito feliz com nossos momentos cinematográficos.
Amém!
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