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Adaptada em 1961 no cinema grego, a tragédia Antígona de Sófocles foi dirigida por Yiorgos Tzavellas e estrelada pela divina Irene Papas co...

Literatura no Cinema: Antígona de Sófocles em Antígona de Yiorgos Tzavellas (1961)



Adaptada em 1961 no cinema grego, a tragédia Antígona de Sófocles foi dirigida por Yiorgos Tzavellas e estrelada pela divina Irene Papas como Antígona e Manos Katrakis como Creonte. Uma sublime tragédia que através da história de uma contemporânea heroína faz uma crítica à decadência do Estado e louva o instinto da liberdade humana. Na tragédia, Antígona é uma mulher que infrige a ordem de seu irmão Creonte, rei de Tebas. Ela transcende o poder do soberano, simplesmente porque é proibida de enterrar o próprio irmão. Ela é presa e enterrada viva em uma caverna. Ela não sobreviveu em favor da liberdade, mas sua preciosidade está em reivindicar um valor universal - a liberdade. Liberdade é o maior e primeiro instinto, que transgride qualquer lei. Basta lembrar que ao nascer, todo homem sai da barriga da mãe, depois esse homem cresce e quer sair da casa dos pais. Antígona pode ter honrado o funeral de seu irmão(escolha individual), mas o fato de ter o direito a fazer isso a leva a um outro âmbito social (escolha coletiva), que é a representatividade da liberdade de todos.





A beleza de Antígona está em dramatizar o drama da condição humana, que é a luta pela liberdade. Liberdade que é podada pela tirania do Estado. A figura de Creonte como soberano e sua atitude só reforça que não há liberdade, mesmo que o discurso dos poderosos seja democrático. Não há liberdade na intolerância. Antígona expressa este inferno que aprisiona evocando antes de sua morte: "Sem que alguém cante o himeneu por mim, sem que na alcova nupcial me acolha um hino, caso-me com o negro inferno". Este foi seu clamor antes de ser enterrada viva em uma caverna. Infeliz Antígona, ainda que defendera a família, é enterrada injustamente sem gozar a vida, sem filhos, sem esposo e até sem as honras de um funeral. Esse era o negro e eterno inferno ao qual ela se referia, mas o mesmo negro inferno seria vivido em vida, com a tirania de Creonte e,consequentemente, a falta de liberdade. É interessante observar como os heróis trágicos não têm saída e devem viver a tragédia de seus destinos. Mais interessante é saber que os propósitos trágicos são alcançados tanto nos heróis quanto na audiência. O efeito catártico, de temor e piedade queima em nós como se não fossemos senhores de nossos destinos muito menos culpados pelas nossas desgraças. Assim sentimos piedade pelas Antígonas, Édipos e Medéias da vida. Assim sentimos piedade por todos nós.





(…) ANTÍGONA – Ai, túmulo! Ai, leito nupcial! Ai, subterrânea moradia que para sempre habitarei! Para ti me dirijo, ao encontro dos meus. Destes, colheu Perséfona já um avultado número, mortos todos de miserável morte. Faltava eu, e a minha morte será a mais horrível de todas. Vou, também, para debaixo da terra, sem que haja cumprido a vida que o destino me concedera. Mas alimento, ainda, a esperança de, ao chegar lá abaixo, ser bem recebida por meu pai e por minha mãe; e que tu me aceites, meu querido irmão! Com minhas próprias mãos lavei vossos cadáveres, preparei-os e sobre os vossos túmulos fiz as libações rituais. E eis que obtive, por querer observar o respeito devido ao teu corpo. Polinices … Os prudentes não hão-de censurar-me por isso; pois, nem que tivera filhos e meu marido estivesse moribundo, eu deixaria, contra a vontade do povo, de desempenhar este doloroso papel. Em virtude de que lei digo isto? É que, se um marido me morresse, podia encontrar outro; e até outro filho, se algum perdesse do anterior matrimónio. Mas, mortos meu pai e minha mãe, ambos já em Hades, nenhum outro irmão podia ter. Por isso, irmão, te honrei a ti, mais que a ninguém. Mas Creonte viu nisto uma acção má e um terrível atrevimento. E. agora, prendeu-me; estou nas suas mãos, arrasta-me para um sacrifício, sem boda, sem himeneu, sem esponsais, sem filhos para criar. Assim, sem amigos que me valham, vou – ó desgraçada: e viva, ainda! – para o túmulo. Por haver transgredido alguma lei divina? E qual? Servirá, agora, ai pobre de mim! Voltar-me para os deuses? A qual poderia, agora, implorar auxílio? Por ter piedade, sou chamada ímpia; e se os deuses me julgarem assim, reconhecerei o meu erro. Porém, se são outros os que erram, que todos os seus males sejam maiores do que os meus – estes que injustamente sofro. (…)




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2 comentários:

  1. Essa madame tá muito chique. Evocando a filosofia para falar de nossas mazelas cotidianas. Mais uma bela seção de Literatura no cinema.

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  2. Olá Reinaldo, obrigada. É bom filosofar, sometimes(rs)! bjs!

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