Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

Ligações Perigosas é o filme moralmente e sensualmente exato para estabelecer uma sedutora conexão com os cinéfilos que adoram observar uma...

Ligações Perigosas (Dangerous Liaisons) - 1988



Ligações Perigosas é o filme moralmente e sensualmente exato para estabelecer uma sedutora conexão com os cinéfilos que adoram observar uma dramática intriga em cena, um excitante jogo. E, eu adoro ser voyeur nesta luxuriante jornada pela decadente aristrocracia francesa do século XVIII com seus jogos de poder, paixão, traição, sensualidade e vaidade que neste longa metragem afloram ainda mais meu desejo de observadora desejosa de ser impactada por estes conflitos morais, deliciosamente intrigantes a despertar até mesmo minha veia comicamente sádica, prazerosamente malévola. O roteiro vencedor de Christopher Hampton (no Oscar 1989) e, maravilhosamente bem adaptado da obra epistolar Dangerous Liaisons de Choderlos de Laclos me arrepia até a espinha a cada olhar, toque e palavra e, me envolve com suas falas estrategicamente bem colocadas como a seduzir-me insinuantemente a entrar neste perigoso jogo entre a Marquesa de Merteuil (a assustadora Glenn Close, suprema) e o Visconde de Valmont (John Malkovich, ótimo), um jogo tentador, de vingança, luxúria e de desejo que não poupa nem mesmo pessoas inocentes, como a ingênua virgem Cécile de Volanges (Uma Thurman), a bela e religiosa Madame de Tourvel (Michelle Pfeiffer) e o inexperiente professor de música Danceny (Keanu Reeves). Todos estes atores, em excelentes atuações, transformam Ligações Perigosas em uma obra prima entre os filmes de época.




Na trama, concebida para evocar o sadismo de um plano friamente aristrocrático, egocêntrico, vingativo e vaidoso, Marquesa de Merteuil é tipicamente a mulher abandonada que aprendeu muito bem as lições para manipular e ferir as pessoas tal que seus planos enganadores sejam levados adiante. Tendo uma vida dupla que expressa o seu mascaramento compatível com a decadência da aristocracia da França pré Revolução Francesa, Marquesa de Merteuil, fenomenalmente bem intepretada por Glenn Close, está disposta a brincar de ser má brincando com a vida alheia. A primeira vítima é Cécile de Volanges que está prometida em casamento para o ex cônjugue de Marquesa de Merteuil, um homem que adora "moças virginais". Ela deseja ver Cécile perder a pura reputação, perdendo a tão estimada virgindade, com isso a Marquesa provará o sabor da vingança ridicularizando o ex marido que a abandonou. Para seguir com o seu plano maquiavélico, ela propõe ao Visconde de Valmont, reconhecido por sua fama de sedutor convicto, a seduzir Cécile, no entanto a vaidosa arrogância de Valmont é tão grande que ele diz que isso seria muito fácil e, faz um novo acordo com Marquesa de Merteuil. Ele está disposto a seduzir uma mulher casada e bem religiosa que está passando um período com a tia dele e, esta segunda vítima é Madame de Tourvel. Visconde de Valmont o fará mas sob uma condição: Se ele conseguir transar com Madame de Tourvel e comprovar isso com uma carta, Marquesa de Merteuil terá que transar com ele. Inicia-se então a guerra dos sexos, com muito sadismo manipulador de ambos os lados, e que resume basicamente o vazio da aristocracia da época que não tinha tempo algum para coisas frutíferas e sim para intrigas que os fizessem sentir e ter o poder sobre a vida das pessoas. A crítica moral e social já começa com o jogo dos ratos aristocratas que no ócio aborrecedor querem um pouco de diversão.



Ligações Perigosas tem um roteiro muito bem elaborado que, felizmente, não é impactado pela obra teatral existente. Ele tem luz própria enquanto Cinema e a força do registro está no comportamental e suas verossímeis atitudes que enfatizam como o plano sádico e vingativo funciona bem durante todo o drama. Desde os pequenos gestos hipócritas de
Marquesa de Merteuil, até o poder sedutor e playboy de Visconde de Valmont passando pela fragilidade de Madame de Tourvel, tudo é fundamental para ressaltar o afundamento desta sociedade francesa. Sobre este triângulo quase amoroso e a relevância dos personagens de Glenn Close, John Malkovich e Michelle Pfeiffer como peças de um jogo que se encaixam entre si nesta crítica social, convém explorar alguns pontos a seguir. Primeiramente, Marquesa de Merteuil é uma mulher que dá pena, ainda que ela demonstre uma força irresistivelmente sedutora e poderosa como mulher, ela é muito mais frágil do que se imagina. Parece ambíguo focá-la desta forma, mas ela se decepcionou com os amantes (inclusive com o próprio ex amante Visconde de Valmont), ela tem jovens companheiros de alcova que, não necessariamente a amam (Danceny é um deles que se apaixona por Cécile de Volanges), ela demonstra um desespero contido ao perceber que Visconde de Valmont se apaixona verdadeiramente por Madame de Tourvel chegando a lacrimejar os olhos, a empalidecer a face pensativa. Definitivamente, ela é a infeliz fria mulher que tem o controle da situação e forma opinião com fim manipulativo, no entanto esta é a sua máscara social, na verdade, ela é uma pobre Marquesa angustiada, solitária e ferrada no amor. Mesmo que de formas erradas, Cécile de Volanges e Madame de Tourvel foram amadas, respectivamente por Danceny e Valmont, e Madame de Merteuil não. Ela é somente desejada neste jogo. O coito com ela é o que está em jogo como prêmio; quer coisa pior do que isso? Por isso a Marquesa tem tanto despeito a ponto de adorar a idéia de Valmont dar educação sexual à Cécile, além de influenciar a ingênua jovem a ser uma devassa e pôr em prática os aprendizados sexuais com 3 homens ao mesmo tempo (Valmont, Danceny e o futuro marido); por isso a Marquesa tem prazer em influenciar Valmont a terminar o relacionamento com Madame de Tourvel com o famoso e cômico frio argumento: "Isto está fora do meu controle"(uma das melhores cenas sádicas de John Malkovich neste filme). Glenn Close está brilhante neste papel mas esta Marquesa de Merteuil é uma vadia na mais certeira semântica: uma ociosa que não tem qualquer ocupação.



Visconde de Valmont está excepcionalmente bem interpretado pelo talentoso John Malkovich. É um homem que não é bonito mas é charmoso, sabe muito bem dizer o que uma mulher deseja ouvir e, que se orgulha muito de sua reputação social de conquistador ressaltando que reputação é mais um exemplo de esvaziamento da sociedade, afinal quem se preocupa muito com a imagem externa negligencia a relevância da própria essência. Valmont tem orgulho de ser o garanhão puro sangue de alcova pelas camas da aristocracia francesa, este é seu estilo de vida que está intimamente ligado à sua vaidade. Ele é tão vaidoso com relação a seu comportamento sedutor que a
Marquesa de Merteuil soube muito bem usar este ponto fraco dele neste jogo de forças entre ambos. A fabulosa cena em que ela deixa ele fora de controle e, inesquecivelmente diz: "Guerra"!, declarando briga ao ex sócio de plano evidencia que ela, maquiavelicamente, sabe lidar com a fraqueza de Visconde de Valmont. E ele é tão fraco que se deixa levar pela vaidade e a ambição de vencer uma conquista sexual e machista, trocando o seu amor por Madame de Tourvel pela sua reputação de macho. Neste contexto, Ligações Perigosas é belíssimo e contundente, abalando as estruturas de uma história de amor que teria todo o potencial para dar certo, mas a esfera coletiva, externa ganha sobre a esfera pessoal, intimista. Visconde de Valmont é outro pobre homem infeliz e escravo de sua própria condição de homem viril e pegador, escravo de suas aparências, de sua máscara por isso ele se dá tão bem com Marquesa de Merteuil , ambos são o espelho um do outro e só poderiam ser derrotados um pelo outro. Neste aspecto de semelhança entre ambos e a questão do fim do jogo, o roteiro é divino e a decadência é literalmente necessária para estes dois sedutores irresistíveis, porém frívolos e, por isso, dispensáveis na nova sociedade que estava em revolucionária construção.



Madame de Tourvel é uma mulher relevante para este cenário social e momento histórico. Michelle Pfeiffer e sua delicada beleza está sublime neste papel. Dócil, educada, bela, apaixonada, frágil e dividida entre o amor e a culpa, ela pode ser encarada como a representação caricata de uma igreja que estava falida. Ela cede ao prazer do sexo e do amor, ela faz uma escolha antropocêntrica e sua religiosidade fica em segundo plano, no entanto, por ser uma representação mais religiosa, ela deve amar, sofrer e morrer, passar por uma espécie de calvária paixão, no sentido de sofrimento; não é a toa que ela desfalece em dor em uma cama após ser abandonada por Valmont. Aquela nova sociedade não tinha mais lugar para fracos como ela. Desde o início Madame de Tourvel era frágil demais. Ela chegava a se afligir previamente com a culpa por se apaixonar por Visconde de Valmont e desejá-lo carnalmente antes mesmo de beijá-lo, chegava a chorar dramaticamente quase a desmaiar quando ela só deveria relaxar e gozar o prazer de ter seu amado em seu corpo. Neste ponto, Ligações Perigosas é fascinante ao expor as fragilidades das relações de amor em uma sociedade vã como a aristocrática.



Este clássico dos anos 80 dirigido magnificamente por Stephen Frears, com uma excelente direção de arte e figurino de época(ambas categorias também vencedoras do Oscar) é um filme essencial dentre as produções cinematográficas de inspiração aristocrática e/ou monárquica européia. As ligações são perigosas e todos correm o risco de afundar suas vidas junto com às intrigas e maledicências da sociedade, além do filme reproduzir o aspecto epistolar da obra que em Ligações Perigosas - o filme tiveram que ser colocadas em um formato de cartas escritas pelos personagens as quais acabam caindo sempre nas mãos erradas através de subornos e outras manobras malévolas dos dois vilãos do drama. As cartas acabam desempenhando um papel vivo no enredo, ainda que não sejam contadas em sua plenitude à audiência. Elas denunciam a intimidade e quebram a privacidade dos amantes, são elas que também farão justiça no desfecho da história. Finalmente, para mim, o que torna Ligações Perigosas um filme deliciosamente sensual é este charme poderoso de
Visconde de Valmont e Marquesa de Merteuil, um alimenta a obsessão sádica do outro e, este jogo de poder entre dois mascarados aristocratas acaba desmascarando-me como uma espectadora mais voyeur, levando-me a entrar neste jogo até o fim, inebriando-me neste clima de sedução, paixão, desejo, amor e ardor.


Avaliação Madame Lumière



Título original: Dangerous Liaisons
Origem: EUA, Inglaterra
Gênero: Drama
Duração: 119 min
Diretor(a): Stephen Frears
Roteirista(s): Christopher Hampton. Adaptado da obra homônima de Choderlos de Laclos
Elenco: Glenn Close, John Malkovich, Michelle Pfeiffer, Swoosie Kurtz, Keanu Reeves, Mildred Natwick, Uma Thurman, Peter Capaldi, Joe Sheridan, Valerie Gogan, Laura Benson, Joanna Pavlis, Nicholas Hawtrey, Paulo Abel Do Nascimento, François Lalande

11 comentários:

  1. Depois dessa, eu realmente não tenho muito a dizer: mais uma vez, algo existe entre nós dois. Acho que isso só pode ser algum aviso ou algo mais: acabei de escrever sobre Ligações perigosas, revi o filme hoje pela tarde. Enquanto estava aqui comentando os posts mais antigos que deixei passar - você atualiza. O filme? justamente este que vou atualizar no Apimentário...nossa, que será isso? será que devemos fazer um projeto junto ou manter mais este trabalho blogueiro tão interessante? Não sei, sintonia é a palavra e isso é a nossa conexão! rs

    Madame, parabéns!
    Este filme realmente é inebriante...o desejo argumentativo, a luxúria aristocrata, o elenco é imbatível!

    Eu gosto da releitura do Segundas intenções também, gosta?

    Achei interessante a forma que constrói seu texto...a organização das ideias nos paragrafos demonstram clareza, objetividade e flui a leitura. Este dom só contigo mesmo!rs

    Bom, eu acho que vou deixar pra postar sobre ele daqui a uns dias, já que o seu ficou muito bem concebido!

    Beijo

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  2. Bela critica madame. Gostei especialmente da dedicação em treçar o perfil e iluminar as motivações desses personagens que remetem a arquétipos de ontem e de hoje. Ligações periogosas é um primor. Um filme que não envelhece. Beijos!

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  3. Que inveja Madame!!! Não assisti ainda!!

    Adorei a crítica, muito boa e me estourei com a "vadia"! hehehhe

    Beijos Madame
    P.S.: A inveja é boa viu!

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  4. Madame,

    estive lendo seu post de Lua Nova.

    Poderia fazer um rápido sobre Crepúsculo aqui, ou lançar um novo traçando a relação do primeiro filme com o segundo.

    Fica a dica, se puder. Beijo

    ps: gosto da saga! rs

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  5. Oi Cris: Realmente algo existe entre nós, estou percebendo que encontrei uma energia poderosa entre eu e alguns cinéfilos, daqui a pouco vou montar um clube especial, já nem sei o que pensar, mas com você é algo sobrenatural mesmo nesta nossas andanças pela escritura.

    Não creio que você escreveu sobre Ligações Perigosas. Fiquei até arrepiada, na verdade, sem palavras. Oh céus, temos uma sintonia, mas é muito bom saber que temos bom gosto e este sentimento inexplicável de escrever sobre filmes no mesmo período sem ao menos sabermos um do outro. Para mim é um prazer esta conexão com você porque tem um lado meu em você que é muito expressivo em sua forma cultural de olhar a psiquê, fora que você é muito querido também.

    Sim, estou amplamente aberta a projetos e afins com você, vamos deixar fluir. Qq idéia é bem vinda, o importante é alimentarmos nossa amizade e paixão cinéfila.

    Eu gosto de Segundas intenções, obviamente algo mais facilmente digerível e sem grandes toques artísticos, no entanto é interessante observar o desejo e a maldade reinando juntas.

    Obrigada pelo seu carinhoso comentário e por gostar das minhas palavras. São escritas com a alma e o coração,além da racionalidade em si, mas muito da fluidez é porque eu falo com o cuore. bjs!


    PS: Sim, talvez seja bom dar uns dias de espaçamento caso o deseje, mas mesmo assim estou louca para ler sua observação apimentária sobre Ligações Perigosas.

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  6. Oi Reinaldo, obrigada pelo seu comentário. Você sintetizou tudo para embelezar meu blog com sua inteligente presença aqui: o filme é anti-aging(rs)! beijo

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  7. Oi Eri,

    Inveja branca, não é mesmo? Eu sei que sua inveja chega a ser cristalina haha. Eu também tenho inveja que você assistiu Amadeus e eu não.
    Beijo meu querido. Sua presença diverte o meu dia!

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  8. Oi Cris, obrigada pela dica, muito bem lembrada. Gosto mais do primeiro do que o segundo, terei maior prazer de resenhar o Crepúsculo(aliás, é fundamental que eu o faça!). O gostoso é que verei Edward Cullen de novo. bjs!

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  9. Oi Madame!
    Ligações Perigosas tem um lugar especial no meu coração, lembro que quando o vi pela primeira vez, lá pela minha adolescência [não vamos mencionar datas..hehe] fiquei totalmente fascinada com o Visconde de Valmont, e John Malkovich era um galã pra mim!! Olha que loucura! rsrs
    Revejo essa delícia sempre que posso, e adorei ler sua resenha sobre ele. Muito boa mesmo!
    Obrigada por esse presente.
    Bjoss

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  10. Oi Paty,
    Muito bacana saber que o filme é tão marcante para ti. Este filme é eterno, não é mesmo? Ele também consegue ser inesquecível pelo nível libidinoso dele com toda uma sutileza e um charme. Os diálogos são tão excitantes, principalmente a "lábia"(rs) de Visconde de Valmont que é impossível não achar John Malkovich sexy.

    Também, de tempos em tempos, quero rever esta delícia (rs) e te digo de todo o coração, John Malkovich não era bonito, mas com este personagem, ficou provado que beleza não é nada, atitudes charmosas e deliciosamente sedutoras fazem a diferença na conquista, no erotismo.

    Bjokas e obrigada pela visita!

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  11. Há anos que tentava assistir Ligações Perigosas e só recentemente consegui.Quero parabenizá-la pela excelente crítica das personagens e o contexto social-histórico. Acho delicioso ver o visconde de Valmont ir se apaixonando pouco a pouco, no desenrolar da trama, pela Madame de Tourvel sem se dar conta,e em certos momentos sua paixão é obsessiva.Logo ele que gostava de brincar com os sentimentos de todas as mulheres, se vê desesperadamente apaixonado e amando a Madame de Tourvel e não quer admitir. Mas a vaidade dele fala mais alto do que a felicidade de ter encontrado sua alma gêmea e que o completa emocionalmente e que o satifaz sexualmente em sua plenitude.Quando percebe que ela está morrendo de amor por sua causa e que sua vida se tornou insuportável e sem sentido sem a presença dela, resolve se suicidar.A declaração de amor que ele faz em seus últimos instantes de vida é tocante. A ficção serve de lição a tanta gente que tem por aí que perde o seu grande amor por caprichos, vaidades e infantilidades.

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