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Indicado Oscar 2010 - melhor filme estrangeiro Resenha integrante da Maratona Oscar 2010 por MaDame Lumière. Glamourize-se antes da premiaç...

A Teta Assustada (La Teta Asustada) - 2009

Indicado Oscar 2010 - melhor filme estrangeiro
Resenha integrante da Maratona Oscar 2010
por MaDame Lumière.
Glamourize-se antes da premiação
com MaDame.


A Teta Assustada
, filme peruano indicado a melhor filme estrangeiro no Oscar 2010, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim 2009 e do Festival de Gramado 2009(como filme Latino) tem um título bem peculiar que dá espaço a uma inevitável maliciosa e criativa curiosidade. O que é uma teta assustada? Um bizarro filme de terror? Um suspense erótico bem latinoamericano? Confesso que minha idéia inicial (e graciosa, certamente) foi visualizar dois olhos bem assustados no lugar dos dois mamilos de seios gigantescos. Bizarro, não? Pois é, quem manda colocar este título estranho no filme? Meus pensamentos podem ser tão assustadoramente criativos quanto uma literal Teta Assustada.





O novo filme de Claudia Llosa que assina a direção e o roteiro desta produção relata a história de Fausta (Magaly Solier, vencedora de melhor atriz no Festival de Gramado, merecidamente), uma jovem e pobre peruana que mora na periferia de Lima e tem uma enfermidade chamada "Teta Assustada" que é transmitida pelo leite materno de mulheres violentadas durante o período terrorista no Peru ocorrido na década de 80 . Esta doença tem um efeito colateral muito grave: o medo. Fausta é uma mulher totalmente medrosa a ponto de não sair de casa sozinha, raramente se comunicar, não deixar nenhum homem se aproximar dela, logo, Fausta é um ser isolado em seu próprio medo e sofrimento. Para piorar mais sua vida, e considerando tamanho efeito psicológico da sua doença, ela tomou uma decisão drástica: colocou uma batata dentro da vagina para evitar estupros como o ocorrido com sua mãe. Esta batata cria raízes e apodrece como qualquer batata causando mal estar em Fausta assim como a necessidade de "aparar" as raízes da batata. Em um primeiro olhar, confesso que a bizarrice inicial soou me como extremista e, por um instante, jurei que não comeria batatas tão cedo, no entanto, à medida que tornei-me íntima da película, percebi que há um belo e metafórico propósito para tal enredo com um desfecho poético e feminino.





No início do filme, a mãe de Fausta falece, em uma magnífica cena na qual se escuta um nativo cante indígena e, Fausta se vê obrigada a sair do casulo, ou seja, começar a trabalhar para pagar um enterro digno à sua mãe.Ela consegue emprego na Casa Grande(mesmo nome da Casa Grande "escravocrata"e que tem um enorme portão que marca bem a divisão de ricos e pobres), residência de Aída (Susi Sánchez), mulher branca, rica e uma pianista que tem sérias dificuldades para compor o próximo concerto. Aída representa o contraponto de Fausta em termos de diferença social e ressalta a divisão social entre brancos abastados e indígenas pobres na cultura peruana, no entanto ambas tem um ponto de intersecção em seus perfis: elas têm problemas de comunicação e, mais adiante, farão uma espécie de contrato que claramente evidencia que os ricos usam e manipulam os menos favorecidos. Pouco a pouco, com o novo trabalho e a convivência com o Tio Lúcido (Marino Ballón) e o jardineiro Noé (Efraín Solís), Fausta tem uma mudança atitudinal que a projeta mais ainda em situações que ela têm que se comunicar e vencer o medo. Estes dois homens têm um papel fundamental na transformação de Fausta porque são os dois únicos homens em cena com os quais ela conversa. Ela é aversa a qualquer aproximação masculina, não se permite amar e nem ser amada e desconfia de todos os homens. Nem os casamentos ocorridos em sua comunidade a anima a libertar-se para amor.





É um filme bastante estático e nascido para ser contemplativo, no qual as imagens de uma Lima pobre e periférica, as influências culturais nos costumes da população e as expressões faciais de Fausta são as grandes atrações que movimentam a película. A fotografia ressalta a região montanhosa e arenosa de uma pobreza rudimentar, os valiosos enquadramentos no povo carente de recursos que se diverte em festas de casamentos e celebram o amor e a música de influências indígenas que são cantadas por Fausta colaboram para criar este ambiente bem coerente com a riqueza cultural do Peru, evocando um real retrato social de várias regiões mais modestas na América Latina. Por isso, esta produção (que também recebeu investimentos da Espanha assim como o Segredo dos seus olhos, o outro filme latinoamericano indicado ao Oscar) combina bem com a contextualização sócio-política do Cinema Latino Americano. Claudia Llosa foi sensível ao criar uma metáfora a partir de um mito popular e abordar os desdobramentos da violência da guerra Civil Peruana através de uma mulher que é filha desta violência. Fausta recebe o legado herdado do terrorismo, o medo, que a aprisiona em sua juventude, que a impede de se desenvolver como mulher, como ser humano livre. São cicatrizes que ela têm que lidar para viver o amor, a amizade, a liberdade. A autoagressão de introduzir uma batata na vagina, fechando o lugar do prazer sexual, do contato com um homem, do desejo feminino é como mutilar sua própria feminilidade, sua própria identidade como mulher, por isso muito além de um filme que elucida a herança do terrorismo peruano, considero esta película um bom exemplo de filme sobre o feminino, a natureza morte-vida de uma mulher que um dia floresce para a vida após estar morta, é realmente um canto à vida assim com os cantos de mulheres primitivas.






A Teta Assustada
é um filme que não é fácil de assistir dado seu estilo mais passivo e contemplativo por isso pode não agradar facilmente a audiência e é bem provável que não consiga ganhar o Oscar concorrendo com os também politicamente harmônicos como a A Fita Branca e Um Profeta. Além de ser muito estático (e entenda isso como "bem parado"), ele requer um espectador visualmente reflexivo que não exige nem muita ação e nem muito diálogo, e em especial, consegue sentir o filme através do semblante de Fausta. Além disso é uma película sensivelmente latinoamericana porque há que gostar de admirar esta exótica paisagem peruana com as nuances culturais e comportamentais deste povo, com a pobreza latente e os extremos das diferenças sociais. Mas para quem é Brasileiro, isso não será uma paisagem nova. Todos nós que somos latinos entendemos nossos vizinhos.


Avaliação MaDame Lumière


Título original: La Teta Asustada
Origem:
Peru

Gênero:
Drama
Duração:
95
min
Diretor(a):
Claudia Llosa

Roteirista(s): Claudia Llosa
Elenco: Magaly Solier, Susi Sánchez, Efraín Solís, Marino Ballón, Antolín Prieto

4 comentários:

  1. Não achei esse filme nada de mais madame. E vc acerta novamente em sinalizar as razões pelas quais o filme deve alimentar resistências mundo afora. De qualquer maneira é mais um filme que engrandece(a seu modo) a cinematografia latino americana que desde 2001 não era tão bem representada na categoria de melhor filme estrangeiro do Oscar. Além do mais, esse foi um dos primeiros filmes peruanos que assisti. Devido a pouca expressão dessa cinematografia, não posso me aventurar a contextualizar a obra em um referencial específico (vc fez muito bem ao contextualiza-lo em sua latinidade), mas como obra em si, acho um filme modesto dentro desse referencial latino. Bjs

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  2. Olá Reinaldo,
    Também não acho que é um grande filme e desconfio que o que o torna distinto é esta latinidade politizada aflorada que nos festivais de Berlim é bem valorizado. Confesso que foi difícil ficar 1 hora e meia assistindo-o para extrair o melhor dele, no entanto, considerando que o Peru não tem tanta tradição na cinematografia LA, penso que, sob o ponto de vista da visão feminina do filme, ele é uma história de resgate do ser feminino e foi exatamente este ponto que me chamou à atenção. A vida de Fausta é bem rudimentar na minha opinião, é uma outra América Latina diferente da de Campanella e Amenábar. A Teta Assustada poderia ser muito mais interessante e movimentado se trabalhado um pouco mais da personalidade de Fausta, mais voz "pensante" ao invés de só canções que são incompreensíveis em seu significado. Basta-nos somente sentir o filme, sentir a jornada de Fausta.

    Bjs!

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  3. CadÊ a linha pontilhada para eu assinar (2)?
    Bjs

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  4. Aqui


    .................................
    Reinaldo Glioche
    Assinatura


    Rsrsrs!!!! beijão!

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