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Entre o primeiro plano e o último plano de Casa Grande , primeiro longa de Fellipe Barbosa , somos convidados à jornada de am...

Mostra 2014: Casa Grande (2014)









Entre o primeiro plano e o último plano de Casa Grande, primeiro longa de Fellipe Barbosa, somos convidados à jornada de amadurecimento de Jean (Thales Cavalcanti), adolescente superprotegido pelos pais e que pertence a uma família de  classe média carioca com sérias dificuldades financeiras e queda do padrão de vida.  O filme é recheado de boas referências da realidade do Brasil como a diferença entre classes e a decadência  financeira  e moral de famílias de classe média que se esforçam para manter as aparências e que estão enraizados em pensamentos ultrapassados, como demonstrado pelo ótimo personagem de Marcello que interpreta Hugo, rígido e arrogante pai de Jean e marido de Sônia (Suzana Pires). 


O filme é divertido e muito acessível às plateias mas não é uma produção pasteurizada como as comédias brasileiras  produzidas no circuito comercial. Ele tem uma originalidade, a começar pela contemporaneidade do tema que une uma situação muito delicada de decadência no padrão de vida, um jovem que precisa amadurecer e questões sociais e étnicas no Brasil, portanto o filme é um achado surpreendente e muito bem dirigido. Ele acerta em como catalisa o humor das situações e a espontaneidade do cotidiano de Jean e de suas relações com a família, com os empregados e os amigos, principalmente porque o longa trabalha com um bom  e talentoso elenco, que se divide entre meninos do tradicional Colégio São Bento e atores experientes. A direção de atores se destaca como ponto forte pois equilibra essa naturalidade de intervir o menos possível em atores que não são experientes mas também dar-lhes um norte, uma direção que estabelece uma coerência com o propósito e o clima da narrativa. Cada ator tem seu próprio brilho, com destaque para a revelação Clarissa Pinheiro, que interpreta uma das empregadas.


Pode-se dizer que esse filme tem uma perspectiva de  uma moderna Casa Grande (em referência às casas grandes da história do Brasil ), não propriamente focada só em questões raciais, mas muito mais em uma mentalidade antiga de muitas pessoas da classe média alta, por exemplo, como manter as aparências e não abrir mão do poder financeiro e social.  Essa foi uma grande sacada do diretor e roteirista e, principalmente, como ele faz isso de uma forma muito leve, descontraída, divertida. Certamente, o filme tem um tom provocativo por duas questões: a primeira é porque Jean desperta para as realidades e é necessário que ele, como parte da juventude Brasileira, cresça e seja ele mesmo.  Ele começa a ter várias atitudes que demonstram que ele não pode ser mais um rapaz superprotegido, como a de namorar uma garota da periferia interpretada por Bruna Amaya e ter coragem para descobrir uma realidade diferente da sua. A segunda questão que permeia todo o filme é a decadência da família elitista. Aos poucos, a Casa Grande afunda e os vínculos e relações esmorecem. Mesmo assim, Hugo não perde a pose e nem o orgulho. Marcello Novaes faz uma excelente atuação. Para quem está acostumado com tomadas curtas da TV, no longa ele não perde o ritmo e coesão do personagem.



Casa Grande é um filme bem completo: excelente direção, roteiro e elenco e o primeiro e último planos revelam como a  imagem é poderosamente narrativa e reflexiva. O melhor dele é sua capacidade de oxigenar o Cinema Brasileiro com uma veia cômica inteligente que não deixa de falar sobre questões atuais e sérias que ocorrem no país e de inserir o público em um contexto individual e familiar. Ele é um dos melhores filmes Brasileiros produzidos nos últimos anos e demonstra que é possível expressar-se no Cinema unindo o cotidiano do Brasileiro e  uma forma de fazer cinema com frescor.




















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