Baseado em história verídica de Martin Askew, um delinquente viciado e envolvido em tráfico de drogas que cresceu nas ruas de Londres, Snow in Paradise é o primeiro longa de Andrew Hulme, conhecido como montador de filmes como Xeque-Mate e Um homem misterioso. Desta vez ele decidiu se arriscar em um drama sobre redenção e assina o roteiro com Martin Askew. Dave (Frederick Schmidt) é um homem solitário que trabalha para o crime organizado. Orfão de pai e sem estrutura familiar, ele é tratado como uma propriedade pelo Tio Jimmy, o brutal chefão do narcotráfico interpretado por Martin Askew. O único e mais verdadeiro vínculo de Dave é seu amigo paquistanês Tariq (Aymen Hamdouchi), um rapper e seguidor do Islã.
Dave é o típico cara louco que poderia estar em melhor situação mas que tomou o rumo do crime organizado. Tem um comportamento muito fechado em si e viciado em muita droga. Sua rotina é cheirar muito pó e fumar entorpecentes pesados. Mesmo sendo bonito, ele é um solitário e se envolve friamente com Therese (Claire-Louise Cordwell), uma mulher vulgar e sem atrativos. Toda essa composição do personagem o torna um homem perturbado e com uma vida encarcerada pela autoridade e chantagens do Tio Jimmy. Até mesmo o amigo do seu pai, Micky (David Spinx) tenta persuadí-lo a mudar de lado, logo Dave tem uma vida de cão, enclausurada no submundo do crime com essas influências de homens poderosos. Sua jornada começa a ficar dramática quando ele perde o seu amigo Tariq em circunstâncias misteriosas e é lançado em em uma espiral de decadência física e moral com muito arrependimento.
O filme é bem intencionado ao abordar uma jornada autodestrutiva e criar uma atmosfera obscura e claustrofóbica e um personagem obscuro e desprovido de valores familiares. De cara, é possível perceber que o diretor quis criar essa narrativa perturbadora de quem se destrói pouco a pouco. A direção preocupa-se em não dar tanta linearidade à narrativa e intercalar diálogos entre personagens com a colagem de planos com Dave sob efeito de drogas, incluindo nela momentos de delírio, sonho, pesadelo. Apesar dessas escolhas e de ter um protagonista com potencial para aprofundamento do personagem, o filme não tem um bom roteiro a ponto de apreender a atenção e/ou comover pela redenção. Frederick Schmidt faz um bom trabalho dentro do possível, dando a impressão que poderia ser melhor dirigido. Quem melhor contracena com ele é David Spinx que é um personagem fundamental para a catarse do protagonista. Também faltou explorar melhor os personagens coadjuvantes que poderiam tornar a narrativa mais dinâmica e contribuir para que o protagonista pudesse crescer mais na história. Considerando que essa é a primeira experiência de Andrew Hulme como diretor de longas, é natural que haja lacunas de direção e roteiro e que elas sejam sanadas com as novas produções.
Snow in Paradise é como um filme de um homem só que não age e não se posiciona em boa parte da projeção. Dave é um jovem anestesiado pelos entorpecentes e controlado pelo crime organizado. A catarse leva tempo. Quando ele chega ao limite, o roteiro fica mais interessante. A história somente começa a fazer mais sentido quando ele visita uma mesquita e encontra alguma paz. A religião não é imposta e serve como uma reflexão rumo à redenção, fechando com um belo plano final que é a melhor parte do longa como metáfora dessa libertação.
Ficha técnica do filme ImDB Snow in paradise


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Cristiane Costa, MaDame Lumière