Uma das gratas surpresas do Cinema Brasileiro que estreará em 2015 é o imperdível documentário biográfico da cantora Cássia Eller, falecida de enfarto em 2001 e reconhecida pela sua bela e diferenciada voz grave e versatilidade musical. Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, que também realizou Loki, Arnaldo Baptista, Cássia é uma fascinante e inédita homenagem e partiu de um ótimo insight do cineasta ao pesquisar uma cantora que representa um raro e forte talento de cantar vários ritmos e, mesmo assim, ainda ser unicamente Cássia Eller . O filme é a materialização clara de uma artista que é definitivamente uma força da natureza e faz parte do time dos documentários brasileiros mais honestos e bem montados dos últimos tempos.
O longa demonstra várias fases da vida de Cássia e é muito rico e completo em depoimentos de músicos da banda, empresários e diretores e familiares, além de ótimas imagens de Cássia na época do musical Gigolôs com Marcelo Saback, do rock in rio, do acústico da MTV etc. Há entrevistas emocionantes e com respostas muito espontâneas como as de Nando Reis, Zélia Duncan, do baixista Fernando Nunes, da percussionista Lan Lan, de Osvaldo Montenegro etc, principalmente, a transparência e simplicidade de Eugênia, sua ex-companheira de longa data , que obteve a guarda do filho da cantora Chicão, sendo este um caso inédito na história legal do país.
O documentário tem momentos com muito humor, típico da irreverência de Cássia e do carinho e honestidade de seus amigos e ele não oculta verdades; pelo contrário, de forma muito natural e legítima, fala de sexo, drogas, rock n'roll, casos extraconjugais, maternidade, amores e todos os altos e baixos da cantora, igualmente, ele desconstrói a imagem midiática de que Cássia morreu de overdose e só tinha aquela imagem de lésbica rocker masculinizada. Ao começar a assistir ao longa, os estereótipos são deixados de lado e o expectador é envolvido por uma Cássia extremamente amada e carismática que nunca escondeu suas loucuras particulares mas que teve uma grande capacidade de deixar sua marca e amar o seu filho, sua esposa, mãe e amigos.
Aliás, esse jeito natural de ser de Cássia, sem máscaras e também polarizante entre subir no palco e devorá-lo mas também ser tímida com as câmeras, torna o filme imperdível. A sua fortaleza e vulnerabilidade a torna extremamente humana e esse é um ganho inestimável para o público. Ela foi uma perda irreparável para a cultura do nosso país. Era uma mulher muito apaixonada por música e que teve o dom especial de quebrar tabus e preconceitos. O maior mérito do documentário é mostrar a alma de Cássia, da garota que também era simples, tímida e não adepta de bajulações a celebridades e do ganhar dinheiro por ganhar. Aos poucos, a plateia é envolvida no seu valor como pessoa, muito mais do que só o de artista.
Tecnicamente, o documentário foi muito bem montado. Um exemplo disso é o tempo cronológico da projeção (2 horas) x o tempo transcorrido na experiência afetiva com o longa. Ele é envolvente do começo ao fim e pode ter certeza que quando termina, parece que visitamos Cássia, batemos um papo com ela e não vimos o tempo passar. Neste aspecto, houve um excelente trabalho do diretor ao ter a sensibilidade de desenhar essa inesquecível pintura entre a imagem, a música e o texto. Os recortes entre entrevistas pessoais e dos amigos, imagens inéditas dos shows e do convívio familiar e as músicas movem potencialmente o expectador a conhecer Cássia além de sua própria história. Ali também está a história da música nacional e a história de momentos de nossas vidas, de nossos amigos e conhecidos ao som de músicas cantadas por ela, desta forma, assistir à Cássia é também assistir um pouco ou muito de nós.
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