Paixão Mórbida é um imperdível clássico melodrama do Cinema Japonês, dirigido pelo elegante estilo de direção do Noboru Nakamura. Em uma abertura magnífica que enquadra o rosto da dramática e bela personagem feminina, Yoshie, interpretada pela fascinante Miyuki Kuwano, o diretor dá o norte de sua sofisticada e estilizada direção, realizando combinações de jogo de cores, iluminação noir e belos enquadramento, com destaque para certa disciplina em uso de primeiro plano, close e plano detalhe que revelam ao leitor mais sobre Yoshie e seu pequeno e aprisionante mundo em meio à um bairro dominado por uma facção da máfia japonesa.
A história de Yoshie é narrada desde os seus 19 anos quando era empregada de uma fábrica local durante o dia e trabalhava em um night bar durante a noite. Ao conhecer, o bonito e sedutor Eiji Kitami (Mikijirô Hira), um dos homens da máfia local, ela se apaixona perdidamente por ele. É iniciado o drama de Yoshie que, incentivada pelo próprio amante e cafetão, ingressa na prostituição e se torna uma das mulheres mais trágicas do Cinema japonês. Além de ser prisioneira da situação, inclusive refém da facção, seu drama é ainda maior ao conhecer um cliente engenheiro, bem sucedido e íntegro, que se apaixona por ela e quer tirá-la da vida de prostituta. Também, ela tem que lidar com sua complexa relação com Eiji, que é um homem totalmente devotado a ela, do qual ela não consegue se separar. Eiji é um homem inútil e financeiramente dependente dela, o que cria um arco dramático à personagem ao estar ligada a um homem do tipo perdedor.
Paixão mórbida é um exemplar e sofisticadíssimo trabalho de direção cinematográfica. É o tipo de longa filmado com a marca de seu diretor. Noburu Nakamura tem seu estilo pessoal de direção como uma voz que se transforma em poderosa imagem. O diretor sabe conduzir muito bem sua câmera de forma a valorizar Yoshie, chegando a planos de esplêndida beleza plástica e dramática e uso de trilha de suspense e jogo de luzes elevando o filme a algumas reminiscências noir. É possível perceber que ele tem preferências em como filmar certos planos que, quando combinados, deixam transparecer até mesmo a atmosfera de seu Cinema, que valoriza muito personagens femininas, entregues à tragédia particular.
Yoshie é a vida do filme, ainda que com trágico destino. A atuação de Miyuki Kuwano é muito coerente e sólida, dividida entre a paixão, a adaptação à prostituição, a vulnerável condição. É um personagem de complexidade dramática mas também muito próxima ao expectador pois é possível sentir que foi guiada por uma ingenuidade inicial e um encantamento avassalador que, logo mais, se transformou em seu próprio martírio.


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Cristiane Costa, MaDame Lumière