Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

As mitologias gregas e romanas sempre são um primoroso e fantasioso legado cultural à serviço das Artes. A Literatura, o Cinema e o Teatro c...

Fúria de Titãs (Clash of the Titans) - 2010


As mitologias gregas e romanas sempre são um primoroso e fantasioso legado cultural à serviço das Artes. A Literatura, o Cinema e o Teatro costumam realizar um diálogo metalinguístico com a riqueza criativa das histórias de figuras míticas como deuses, semideuses e lendárias criaturas que habitam o imaginário dos homens os quais, oram os idolatram, ora os temem. Mitos antigos exercem um fascínio incontestável quando o contexto dramático é alimentado pela forte tensão entre seres humanos e deuses que reverberam ainda mais heróicas batalhas e trágicos conflitos entre eles. Em Fúria de Titãs, remake do clássico de Desmond Davis (1981), o drama épico gira em torno de um semideus, o herói mítico Perseu (Sam Worthington, de Avatar), filho de Zeus (Liam Neeson) com a mortal Dânae que, nessa adaptação, é esposa do rei Acrísio (Jason Flemying). Irado com a traição de Zeus que engravida Dânae fingindo ser seu marido, ela e seu filho são condenados à morte por Acrísio e jogados no mar. Um pescador encontra Perseu ainda bebê e o cria como um amado filho, no entanto, mais tarde, Perseu descobre que é metade homem, metade Deus, é filho de Zeus e tem como semideusa protetora, a imortal Io (Gemma Arterton); a partir daí, luta para vingar a morte de seus pais e entra na batalha como aliado dos humanos de Argos contra a tirania de Zeus o qual tem o apoio traiçoeiro de seu irmão Hades, o Deus do subterrâneo (Ralph Fiennes, uma das raras coisas boas do filme).






A batalha contra Zeus não é somente uma batalha coletiva, de humanos revoltados contra um Deus que só deseja as orações de homens, afinal de contas, deuses se alimentam da devoção de homens que acreditam que eles têm ação direta em seus destinos, mas é uma batalha da ascensão de um novo herói, necessária para que o mito de Perseu fosse legitimado. Para obter sua vingança contra Hades matando o temeroso e gigantesco monstro Kraken, Perseu tem que aceitar a sua dádiva de semideus com poderes além da vulnerabilidade de um simples mortal. Nesse contexto mitológico, ele luta para que a princesa de Argos, Andrômeda (Alexa Davalos) não seja morta em sacríficio pelo desejo de Hades, conta com um trupe de guerreiros sob a liderança de Draco (Mads Mikkelsen), tem a conselheira proteção de Io e encontra várias criaturas em seu caminho como a medusa, bruxas, guerreiros Djin, entre outros, que colaboram para criar a atmosfera mitológica dessa clássica história.






Letterier e roteiristas entregam um trabalho nada profundo com relação ao desenvolvimento do próprio mito de Perseu e dos personagens, dando a nítida impressão de que o longa é uma colcha de retalhos das referências da mitologia grega com erros bizarros de roteiro o qual não entrega também o bravo heroísmo das batalhas e o inestimável valor do conflito dos homens com os deuses. Nenhum dos grandes atores que se incluem nas figuras divinas, como Liam Neeson e Ralph Fiennes, são incentivados pelo texto a entregar o melhor de si, então se tornam pouco aproveitados. Sam Worthington que se saiu bem no papel heróico do N'avi Jake Sully de Avatar, é usado em Fúria de Titãs como um mito mais caricato fazendo a lição de casa de liderar uma batalha com nenhuma expressidade de liderança. Não há nada da alma heróica do carismático Jake Sully no Sam Worthington de Clash of the Titans e, se a intenção foi colocá-lo em um papel heróico semelhante ao personagem criado por James Cameron, deveriam ter entregado um roteiro melhor para que Sam pudesse atuar melhor. O enredo também não se envereda em um pouco de genuíno romance e bem vinda sedução, perdendo a oportunidade de despertar o interesse da audiência e cativá-la. Perseu não se envolve nem com Andrômeda e nem com Io, embora haja uma sugestão de flerte com essa última. Gemma Arterton, a atriz "mítica hype do momento" que está também no novo épico da Disney, Príncipe da Pérsia, as areias do tempo tem uma delicada beleza e poderia render uma boa parceria romântica com Perseu. Resta agora a esperança de vê-la em cenas de amor com o belo Jake Gyllenhaal.





Por outro lado, fãs de épicos e de mitologia grega que tenham amor suficiente por tais temas independente da qualidade cinematográfica serão capazes de apreciar as criaturas míticas criadas para o longa e os medianos efeitos visuais, afinal sempre é um bom entretenimento entrar no clima da fantasia heróica e reconhecer também esforços em retratar um legado greco-romano que, por algumas horas, levam o espectador para um mundo lúdico. Vale perceber que o longa, que foi adaptado para a tecnologia 3 D somente após ser feito em 2 D, sofre a consequência de sua própria ambição, ou seja, o 3 D aqui é empregado de uma forma muito mal feita sem explorar as nuances estéticas da cenografia. Inclusive, adaptar uma película em 3D por um mero objetivo comercial do mercado é um grande erro e, no caso de Fúria de Titãs, só serviu para ressaltar o fiasco de um roteiro mal elaborado já que os recursos lendários dos mitos foram usados como uma necessidade pontual de incluí-los em um filme sobre o tema e não como elementos bem engedrados na trama. Lamentavelmente, Fúria de Titãs de Louis Leterrier tem sérios problemas que o tornam um filme frustrante para os que aguardavam um grande clássico épico e, quando observado o riquíssimo conteúdo mítico que poderia ter sido potencializado e o melhor emprego da tecnologia 3D que poderia ter criado uma série de inesquecíveis momentos visuais épicos , o filme é capaz de despertar a fúria dos cinéfilos.



Avaliação MaDame Lumière






Título Original: Clash of the Titans
Origem: EUA
Gênero(s): Épico, Aventura
Duração: 118 min
Diretor(a): Louis Leterrier
Roteirista(s): Travis Beacham, Phil Hay, Matt Manfredi, Beverley Cross
Elenco:
Sam Worthington, Liam Neeson, Ralph Fiennes, Jason Flemyng, Gemma Arterton, Alexa Davalos, Tine Stapelfeldt, Mads Mikkelsen, Luke Evans, Izabella Miko, Liam Cunningham, Hans Matheson, Ashraf Barhom, Mouloud Achour, Ian Whyte

11 comentários:

  1. Muito me incomoda o fato de esses filmes de ação recentes privilegiarem a técnica e se esquecerem do roteiro, de criar histórias que nos envolvam! Esse é o caso de "Fúria de Titãs", baita filme chato!

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  2. Olá Kamila,
    É verdade! Infelizmente, é o meu incômodo também já que colocar um filme em 3D está virando febre. Após assistir Fúria de Titãs, é uma ironia ler a chamada "A fúria começa em 3D"... só se for a nossa!rs
    bjs

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  3. Madame, ótima crítica! ...
    Não tenho a mínima vontade de ver este longa, pois sei que apenas será perda total de tempo!

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  4. Oh, madame(rsrsrsrrs)! A senhorita ainda foi muito bondosa. O filme perde - como havia comentado em outra ocasião - pra muito videoclipe por ai, em construção de enredo, personagens etc. Eu vi ali naquela tela uma peça teatral amadora de interior, uma "paixão de cristo" hi-fi. Uma decepção titânica.
    Que sirva, pelo menos, de lição pra "adolescentada": por mais sensacionais que sejam as pessoas envolvidas no seu grupo, você sempre correrá o risco se envolver numa bela duma cagada. Vejam só no que Sam Worthington se meteu.

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  5. Hummmm... pior que eu reservava (bem lá no fundo rs) alguma expectativa para a fita. Gosto muito do original de 1981, sempre vibrava quando via anunciando que seria a atração na Sessão da Tarde no dia seguinte xD

    mas parece que não vingou. Tanto pelo seu texto, como pela percepção geral dos blogueiros e críticos...


    abs, MaDame!

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  6. Olá Alan,
    Sinto dizer que você se frustaria com o desperdício de dinheiro investido para esse remake. O da década de 80 é superior, aposte!
    bjs

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  7. Oi Genes, que bom vê-lo comentando aqui. Bem-vindo!

    Realmente eu peguei um pouco leve porque entendo que não adiantaria eu expor o esvaziamento que o próprio filme é. Não há nada a comentar pq o filme não provê um material crítico, é um filme que ficou vazio. Se eu comentar os detalhes de cenas ridículas, sem envolvimento, sem emoção ( com exceção daquela dos caranguejos gigantes que até foi a menos pior), eu faria um spoiler total.


    Fui bondosa porque como adoro mitologia, eu aproveitei o filme mesmo em sua fraqueza de roteiro, porém foi um estranha diversão frustante porque me esforcei para vê-lo e avaliar o quanto se perdeu a oportunidade de criar uma grandiosa história. No final, fiquei com raiva sim (pois eu aguardava um filmaço) mas também senti piedade de quem fez esse filme... senti pena pq deixou de usar elementos criativos que poderiam ter encantado o mítico em cada um de nós.

    Bjs

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  8. Oi Elton,

    Conhecendo seu lado sábio estilo de avaliar um filme (e também te considero um cinéfilo exigente com relação à qualidade, pelo menos, é o que eu percebo),acho difícil você gostar desse filme. Se você não gostou de Lobisomen, você não vai gostar deste, principalmente porque Fúria de Titãs tinha muito mais condições de ser um grandioso filme, havia mais elementos míticos a serem trabalhados no roteiro e a possibilidade de emocionar através do imaginário mitológico... Fora que o 3 D é grotesco... deve ser o pior 3 D que eu vi até hoje, parece que foi feito nas "coxas" de Perseu! rs.

    Abs!

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  9. Genes,

    Tem muitos problemas no roteiro, mas o inadmissível no final de tudo foi criar um monstro tenebroso como o Kraken que demorou horrores na água para, enfim, mostrar sua cara e uma batalha final ridicularizada na qual Perseu só ficou voando com o Pérgaso enquanto Andrômeda ficava pendurada como um frango sem as pernas abertas (rs)... Foi uma batalha final tão sem sentido, tão non sense que realmente o filme virou uma piada. E logo eu que pensava na frase do "Zeus Neeson" ordenando: Release the Kraken hahahaha!!!!

    Ele deveria dizer: "Don't release the Clash of Titans, please"!

    abs!

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  10. Pois é. A Warner se enbeveceu com a "estética grega" de 300 e surtou com a possibilidade de faturar mais com o 3D. O pior é que está faturando. Somados, Sherlock Holmes e Fúria de Titãs no mundo já ultrapassam 1 bilhão de dólares. A Warner já é o estúdio mais rentável de 2010. Vem mais por aí.
    Ainda não vi o filme, mas presinto que irei concordar com sua perspectiva.
    Bjs

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  11. Oi Reinaldo,
    O olho da Warner cresceu mesmo e, aposte, vai dar certo porque o público em geral vai conferir a falsa promessa e vai achar esse 3 D bom demais. Espero que o povo acorde e saiba também aceitar que o filme está aquém da qualidade devida, porque se os estúdios começaram a entregar esse tipo de filme assim, honestamente, o 3D vai vir de qualquer jeito.


    Mas no geral, o que mata o filme, é o roteiro mal feito, sem emoção, sem nenhum diferencial, uma história linear e um final ridículo. Assista e depois me fale o que achou.
    Bjs

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