Por Cristiane Costa
Ken Loach, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes 2006 por Ventos da Liberdade é um cineasta determinado que não foge de seus ideais de liberdade e justiça. Ao advogar em grandes filmes em prol da independência, bem estar coletivo e melhores direitos para o povo Irlandês, em seu novo longa, Jimmy's hall (2014), ele segue a mesma linha temática e qualidade cinematográfica em dramas sociais bem executados e comoventes. Em mais uma parceria com o roteirista Paul Laverty, que escreveu Ventos da Liberdade, Ken Loach apresenta um elenco maduro e que incorpora perfeitamente bem o realismo dos desafios ativistas, com destaque para o ator Barry Ward, em impecável atuação.
Ambientado em 1932, Jimmy's hall é o drama de James Gralton (Ward), um filho da Irlanda que volta à sua terra Natal após ter sido exilado longos anos nos Estados Unidos. Seu retorno provoca resistências da Igreja, representada pelo padre Sheridan (Jim Norton), um homem que incita o ódio e intolerância pelas ideias e ações de Gralton e usa o poder da Igreja como forma de controle sobre a comunidade local. James Gralton é um líder nato muito estimado por homens, mulheres e jovens. Sua visão comunista vai além de uma proposta e ideologia políticas, ele inspira todos a uma vida coletiva que cultiva prazeres artísticos como a música, a dança, o artesanato, a pintura, entre outros. Para isso, ele reabre o Salão do Jim (Jimmy's hall), que provoca a ira do Padre Sheridan e de outros inimigos. Eles consideram o salão uma afronta à moral e bons costumes. Jim Norton, em crível interpretação, destila o poder religioso do padre como um veneno e as melhores cenas de conflitos envolvem ele e Barry Ward.
Esse belo longa de Ken Loach é menos complexo, violento e político em comparação a Ventos da Liberdade, mas continua sendo uma obra inspiradora, engajada e não menos política. Dessa vez, o diretor executa um drama mais individual, cinebiográfico, no qual a liderança de James Gralton não se perde quando ele é exilado. Ele retorna com uma postura mais distanciada e serena que, pouco a pouco, transforma-se com uma energia contagiante, que mobiliza o povo contra a repressão. Sua volta é naturalmente tratada como se ele nunca tivesse ido embora, como se fosse uma lenda viva que ressurge das cinzas como uma Fênix, provocando a admiração e a rejeição em diferentes pessoas. O retorno à casa é uma reafirmação de que nada pode controlar o desejo por ideais libertários, transformadores e de maior prazer pela vida, por isso Jimmy Gralton é cativante e o longa tem seus picos de comoção.
Com um apelo mais emocional, o roteiro apresenta personagens coadjuvantes femininas interessantes como Oonagh (Simone Kirby), amiga ativista e ex-amor de Gralton, cuja relação afetiva dos dois poderia ter dado certo se o destino não os tivesse separado, além da rebelde e intensa Marie (Aisling Franciosi) que representa o retrato da juventude que não quer ficar enclausurada em uma prisão social a mando de figuras masculinas autoritárias como a do pai e do padre. Colocar personagens femininas que se envolvem no Salão de Jimmy, seja com a dança, a música, a pintura ou com maior ativismo político é uma manifestação incrível da inspiração democrática da narrativa. Não menos emocionante é perceber que Oonagh e Gralton têm uma forte conexão em cena, que pode levar o público à reflexão do quanto Jimmy Gralton abriu mão da felicidade e de uma vida comum por defesa de uma causa política, por ser perseguido e exilado. Normalmente, alguns personagens dos filmes do diretor fazem sacrifícios individuais que intensificam o drama.
Com um apelo mais emocional, o roteiro apresenta personagens coadjuvantes femininas interessantes como Oonagh (Simone Kirby), amiga ativista e ex-amor de Gralton, cuja relação afetiva dos dois poderia ter dado certo se o destino não os tivesse separado, além da rebelde e intensa Marie (Aisling Franciosi) que representa o retrato da juventude que não quer ficar enclausurada em uma prisão social a mando de figuras masculinas autoritárias como a do pai e do padre. Colocar personagens femininas que se envolvem no Salão de Jimmy, seja com a dança, a música, a pintura ou com maior ativismo político é uma manifestação incrível da inspiração democrática da narrativa. Não menos emocionante é perceber que Oonagh e Gralton têm uma forte conexão em cena, que pode levar o público à reflexão do quanto Jimmy Gralton abriu mão da felicidade e de uma vida comum por defesa de uma causa política, por ser perseguido e exilado. Normalmente, alguns personagens dos filmes do diretor fazem sacrifícios individuais que intensificam o drama.
Dentro desse contexto narrativo que tem tanto da impressão digital de Ken Loach, o cineasta realiza um filme mais alegre sem se esquivar dos tensos momentos de conflito entre Gralton, Padre Sheridan e outros personagens. Com melhor harmonia na direção, menos truculenta em tomadas de embate físico, Ken Loach conserva o espírito rebelde e, também, executa excelentes cenas de dança e música tradicionais, de reencontros, de lealdade entre os camaradas e de um amor não vivenciado. Uma delas, encantadora, suave e com um poderoso significado dramático para a história de Jimmy é a da dança com Oonagh, momento absolutamente sublime e capaz de levar os corações sensíveis a se envolver com seus dramas. Mesmo separados durante tantos anos, eles ainda continuam leais à amizade, a esse afeto desmedido que é reconfortante e também doloroso.
Com o toque de Midas de uma direção de bom gosto, com planos tecnicamente bem elaborados e uma fotografia que revigora cada locação e círculo de personagens com um apelo realista inconfundível e o pleno controle de Ken Loach sobre elementos que compõem cada plano, Jimmy's hall é um drama social comovente com a inesquecível mensagem de que os valores essenciais de viver livremente e com prazer não devem ser perdidos de vista. O bom filho sempre retorna à casa e sabe onde está o seu coração, reconhece onde pertence.
Ficha técnica no ImDB Jimmy's hall
Distribuição: Imovision
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