Por Cristiane Costa
O prêmio Caméra D'Or do Festival de Cannes têm revelado grandes filmes nos últimos anos, com destaque para dramas com consistente combinação de ficção e realidade e uma direção vigorosa que equilibra estas fronteiras narrativas, entre eles: "Quando meus pais não estão em casa" (Ilo Ilo, Cingapura), e o mais recente, Party Girl (França), o primeiro longa-metragem do trio de jovens diretores Marie Amachoukeli, Claire Burger e Samuel Theis, filme de abertura do Un Certain Regard e vencedor do prêmio de conjunto desta seção em Cannes 2014. Os realizadores estudaram juntos em Paris e a história de Angélique Litzenburger, mãe do co-diretor Samuel Theis, foi a inspiração para o roteiro. No elenco, além de Angélique, Samuel e seus irmãos Cynthia, Séverine e Mario, eles escalaram outros não atores.
Angélique é a Party Girl, uma hostess de 60 anos que vive em Lorraine, na fronteira franco-germânica. Os primeiros planos nos conduzem aos prazeres de um cabaré da região. Baixa iluminação, cores quentes e difusas, mulheres seminuas que dançam e entretém clientes. Angélique circula com o charme da experiência e uma ar de proprietária do local. Após uma jornada dedicada à vida noturna, à sedução, à liberdade e aos homens, ela está em uma nova fase: recebeu um pedido de casamento de um cliente que se apaixonou por ela. No auge de sua maturidade e já sentindo os pesados efeitos do tempo na profissão e no corpo, ela deseja dar-se uma chance no amor e arriscar-se nas convenções do casamento. O que acontecerá à esta fascinante Party Girl? Observá-la e perceber se há algo de Angélique em nós é o grande prazer deste filme. Para as mulheres que têm espírito livre e autonomia, sem abrir mão do valor da família, Party Girl tem de tudo para ser marcante.
O Cinema é um incrível salão de visitas nos quais conhecemos personagens tão reais e encantadores que muito rapidamente estabelecemos uma conexão intimista com eles. Os mais inesquecíveis são tão universais em suas emoções que seria possível ver parte ou muito de nós ao vê-los refletidos em um espelho. Eles revelam profundas nuances do ego que, em algum momento de mudanças ou de decisões, desabrocha para uma nova perspectiva de vida, ainda que isso seja um desafio pessoal. Angélique é uma destas pessoas de carne, osso e coração, uma personagem intensa e exuberante, mas também, carregada de falhas, inseguranças e dúvidas comuns em nossa vulnerável humanidade. É impossível não se identificar com ela, ou pelo menos, compreender seus sentimentos e atitudes.
Angélique é envolvente em uma excelente atuação que revela e oculta sua vida, que propicia que o público fique seduzido por ela, sua história, como era sua vida antes do pedido de casamento e como será depois do casamento. Só uma mulher como ela, autêntica Party Girl, poderia caber em uma fantástica música de mesmo nome como a da Chinawoman. Ela está ali plenamente de coração aberto em reviver sua história e com sua aura de mulher que aproveitou ao máximo a vida fora dos padrões convencionais, mas também, ela mantém sua integridade, seu mistério. É uma personagem real que permanece na memória.
Espero poder assistir esse filme logo, fiquei encantada pela sinopse, mas especialmente pela capa... a Angelique me lembra muito a minha primeira professora, chama Ângela...veja só. rs Essa ideia de misturar realidade e ficção! Já me apaixonei!
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