Em paralelo, como Abe continua depressivo e sem foco, envolve-se sexualmente com a professora Rita (Parker Posey). Liberal, instável e em processo de divórcio, Rita se apega à Abe e deseja fugir com ele. Certo dia, após presenciar uma conversa em um restaurante entre estranhos, Abe tem uma ideia maluca que o motiva a sair da depressão. Um crime perfeito motivado por senso de justiça, por insanidade, por desespero ou por ilusões de uma emergencial pseudo-felicidade? Tudo é possível! Ele leva adiante seu plano criminal, envolvendo as amantes em uma misteriosa e cômica trama.
Allen usa Abe como um personagem cujo brilhante conhecimento filosófico não foi suficiente para equilibrar sua vida, o que não deixa de ser engraçadíssimo. Abe é um homem bacana, atraente, inteligente, mas também perdido, complexo, decadente, pessimista. É como aqueles homens aparentemente atraentes que têm muito conhecimento e não sabem como canalizá-los bem nas relações interpessoais. Assim, não é surpreendente o encantamento que Jill e Rita sentem por ele e sua fragilidade. Ele não sabe o que quer em um relacionamento mas elas o desejam e estão apaixonadas. As atuações sólidas de Emma Stone e Parker Posey tornam esse triângulo bem divertido e, resta-nos observar como Abe se comporta, se o crime perfeito é tão efetivo, se sua vida mudará ao executar um ação moralmente inaceitável, se as relações afetivas que têm com Jill e Rita serão permanentes ou frágeis e fadadas ao fracasso.
Com a natural performance de Joaquin Phoenix, que consegue ser denso e leve, misterioso e transparente, trágico e divertido, o ator une as duas pontas das ambiguidades humanas. Abe é um atormentado que tem virtudes para ganhar a simpatia da audiência com considerável facilidade. Essa empatia ajuda a levar o filme de Allen como uma grande brincadeira com um toque de Hitchcock e um desfecho provocativo que seduz por ser um misto de humor negro , drama e tragédia : "O que somos realmente capazes de fazer com nossas ideias e atos irracionais?" "E quais serão as consequências"?
Há também uma outra interpretação mais intimista e compreensiva para entender os desdobramentos tragicômicos dessa história e, bem mais filosófica porque se relaciona com escolhas, culpa e uma série de pensamentos e sentimentos contraditórios que martelam na mente e no coração. O filme é realista ao expor que a felicidade é um estado de espírito que exige uma certa insanidade, que o homem tem seus momentos de fuga da realidade, de levar adiante planos eufóricos que possam tirá-lo do fundo do poço. Diversas vezes, observar o comportamento de Abe é perceber que ele precisava de um elemento de mudança e de impacto em sua vida, mesmo que isso seja acompanhado por uma atitude irracional, afinal, a escolha é pessoal mas as duras consequências são individuais e coletivas. É o que acontece aqui! Ele toma um caminho e o persegue com motivação e habilidade, ainda que esse caminho seja mais ainda autodestrutivo e ele ainda pode contar com a falta de sorte e o acaso.
Homem irracional chega como um bom filme para uma das possíveis reflexões: Nem sempre a vida faz sentido. Temos que seguir adiante sem nos enganar muito. A vida também é vilã e nos prega surpresas. É sabido que ser moralmente correto e lidar com a realidade pode ser cansativo e muito deprimente a depender da situação. Existem momentos que ela é árdua e sem sentido. Há pessoas que estão depressivas e impotentes porque não se encaixam nesse mundo caótico e cruel, não o compreendem, não tem autoconhecimento ou não desenvolveram sua consciência, e de repente, elas tomam atitudes insanas, de libertação de suas pulsões, ideias e desejos desenfreados sem pensar nos impactos na realidade e muito menos em questões morais e éticas. Assim ocorre com Abe, assim pode acontecer com qualquer um. Faz parte da natureza humana não aguentar o peso de uma ordinária existência. Faz parte da natureza humana buscar sentido na vida também por caminhos desconhecidos e obscuros.
Allen me agradou em A Rosa Púrpura do Cairo e Meia Noite em Paris. Será que arrisco?
ResponderExcluirRenato Alves
Parabéns pela matéria, já sou fã de Allen e fiquei com mais vontade ainda de ver este.
ResponderExcluirAdmiro muito seus escritos.
Parabéns pela matéria, já sou fã de Allen e fiquei com mais vontade ainda de ver este.
ResponderExcluirAdmiro muito seus escritos.
Siby13, obrigada pelo carinho. Realmente, Woody Allen é sempre uma boa experiência. Talento único!
ExcluirRenato, Acho que vale a pena arriscar esse novo Woody Allen porque há uma sensatez por trás dele. Embora eu ache que o script deixou buracos e não desenvolveu muito o seu potencial, a atuação do Phoenix é interessante. Abraços,
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