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Em cartaz nos Cinemas - Lançamento de 27 de Agosto Por Cristiane Costa Amante da Filosofia e do humor ácido, Woody Alle...

Homem Irracional (Irrational Man - 2015), de Woody Allen



Em cartaz nos Cinemas - Lançamento de 27 de Agosto




Por Cristiane Costa



Amante da Filosofia e do humor ácido, Woody Allen está de volta à arena dos grandes lançamentos aplaudidos no último Festival de Cannes com "Homem Irracional" (Irrational Man, 2015), uma salada mista de drama, suspense, mistério, romance e comédia no qual a crise existencial de um professor de Filosofia é o pano de fundo para observar e analisar o quão irracionais, deprimidos e loucos podemos ser. Com Joaquin Phoenix como o protagonista, um ator magnífico que equilibra a maturidade da  interpretação  e a experiência em papéis estranhos, disfuncionais, introspectivos e densos com um estilo  singular de ser, esse filme é muito mais interessante por causa dele.








A história apresenta Abe (Phoenix), o professor de Filosofia que vive uma fase atormentada e não tem mais prazer na vida. Em evidente estado de depressão, alcoolismo e desinteresse em fazer coisas que lhe davam prazer como lecionar e escrever, Abe vive no piloto automático e nem mesmo a chegada a um novo emprego em uma universidade em Newport (Rhode Island) lhe é animadora. Ao conhecer a jovem estudante Jill (Emma Stone), surge a possibilidade de um regozijo no dia a dia e a chance de um romance. Começam a conversar em um clima amistoso e com uma química irresistível e sedutora que concilia a atração física e os diálogos inteligentes sobre suas afinidades intelectuais. 


Em paralelo, como Abe continua depressivo e sem foco, envolve-se sexualmente com a professora Rita (Parker Posey). Liberal, instável e em processo de divórcio, Rita se apega à Abe e deseja fugir com ele. Certo dia, após presenciar uma conversa em um restaurante entre estranhos, Abe tem uma ideia maluca que o motiva a sair da depressão. Um crime perfeito motivado por senso de justiça, por insanidade, por desespero ou por ilusões de uma emergencial pseudo-felicidade? Tudo é possível! Ele leva adiante seu plano criminal, envolvendo as amantes em uma misteriosa e cômica trama.









Com uma direção menos apegada à comédia mordaz, porém, ainda eficiente e com cara de Woody Allen e suas corriqueiras escolhas narrativas metalinguísticas e com bom repertório cinematográfico, literário e filosófico, Homem Irracional é uma experiência agradável, mas também, deixa buracos no roteiro com relação à uma abordagem mais profunda sobre a Filosofia e as relações dela com a crise existencial do protagonista.  Com sua experiente capacidade de articular  o drama e o humor e abordar assuntos sérios com leveza, Allen funciona bem aqui se o espectador não esperar um genial script. O cinesta não leva Abe tão a sério mesmo quando está abordando um assunto sério: o ser humano, seus demônios pessoais, seu descontentamento e ações impulsivas e irracionais. Essa é a magia do filme! Não levá-lo tão a sério também! 



Allen usa Abe como um personagem cujo brilhante conhecimento filosófico não foi suficiente para equilibrar sua vida, o que não deixa de ser engraçadíssimo. Abe é um homem bacana, atraente, inteligente, mas também perdido, complexo, decadente, pessimista. É como aqueles homens aparentemente atraentes que têm muito conhecimento e não sabem como canalizá-los bem nas relações interpessoais. Assim, não é surpreendente o encantamento que Jill e Rita sentem por ele e sua fragilidade. Ele não sabe o que quer em um relacionamento mas elas o desejam e estão apaixonadas. As atuações sólidas de Emma Stone e Parker Posey tornam esse triângulo bem divertido e, resta-nos observar como Abe se comporta, se o crime perfeito é tão efetivo, se sua vida mudará ao executar um ação moralmente inaceitável, se as relações afetivas que têm com Jill e Rita serão permanentes ou frágeis e fadadas ao fracasso.








Ao utilizar uma manobra metalinguística com a obra Crime e Castigo de Fiódor Dostoiévski em seu roteiro, expressar  sua admiração por diretores como Alfred Hitchcock e Ingrid Bergman, respectivamente, referências em suspense e dramas existencialistas e filosóficos, flertar e brincar com questões como automotivação para o crime, depressão, ansiedade, mentiras, castigo e culpa, Allen inclui elementos mais emocionais que racionais e, por consequência, demonstra como Abe leva uma boa dose de loucura na cabeça, o que explica o título da obra. Essa abordagem  que se aproveita da dualidade do ser humano é muito convidativa para assistir ao filme porque ela é tratada com a suavidade atmosférica dos longas "Allenianos", principalmente, sua recorrente agradável cinematografia em mais uma parceria com o DOP Darius Khonji ("Meia noite em Paris", "Para Roma, com amor", "Magia ao luar") , a consistente direção de atores e a trilha sonora.




Com a natural performance de Joaquin Phoenix, que consegue ser denso e leve, misterioso e transparente, trágico e divertido, o ator une as duas pontas das ambiguidades humanas. Abe é um atormentado que tem virtudes para ganhar a simpatia da audiência com considerável facilidade. Essa empatia ajuda a levar o filme de Allen como uma grande brincadeira com um toque de Hitchcock e um desfecho provocativo que seduz por ser um misto de humor negro , drama e tragédia : "O que somos realmente capazes de fazer com nossas ideias e atos irracionais?" "E quais serão as consequências"?






Há  também uma outra  interpretação mais intimista e compreensiva para entender os desdobramentos tragicômicos dessa história e, bem mais filosófica porque se relaciona com escolhas, culpa e uma série de pensamentos e sentimentos contraditórios que martelam na mente e no coração. O filme é realista ao expor que a felicidade é um estado de espírito que exige uma certa insanidade, que o homem tem seus momentos de fuga da realidade, de levar adiante planos eufóricos que possam tirá-lo do fundo do poço. Diversas vezes, observar o comportamento de Abe é perceber que ele precisava de um elemento de mudança e de impacto em sua vida, mesmo que isso seja acompanhado por uma atitude irracional, afinal, a escolha é pessoal mas as duras consequências são individuais e coletivas. É o que acontece aqui! Ele toma um caminho e o persegue com  motivação e habilidade, ainda que esse caminho seja mais ainda autodestrutivo e ele ainda pode contar com a falta de sorte e o acaso.






Homem irracional chega como um bom filme para uma das possíveis reflexões: Nem sempre a vida faz sentido. Temos que seguir adiante sem nos enganar muito. A vida também é vilã e nos prega surpresas. É sabido que ser moralmente correto e lidar com a realidade  pode ser cansativo e muito deprimente a depender da situação. Existem momentos que ela é árdua e sem sentido. Há pessoas que estão depressivas e impotentes porque não se encaixam nesse mundo caótico e cruel, não o compreendem, não tem autoconhecimento ou não desenvolveram sua consciência, e de repente, elas tomam atitudes insanas, de libertação de suas pulsões, ideias e desejos desenfreados sem pensar nos impactos na realidade e muito menos em questões morais e éticas. Assim ocorre com Abe, assim pode acontecer com qualquer um. Faz parte da natureza humana não aguentar o peso de uma ordinária existência. Faz parte da natureza humana buscar sentido na vida também por caminhos desconhecidos e obscuros.






Ficha técnica do filme ImDB Homem irracional
Distribuição Imagem Filmes


5 comentários:

  1. Allen me agradou em A Rosa Púrpura do Cairo e Meia Noite em Paris. Será que arrisco?

    Renato Alves

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  2. Parabéns pela matéria, já sou fã de Allen e fiquei com mais vontade ainda de ver este.
    Admiro muito seus escritos.

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  3. Parabéns pela matéria, já sou fã de Allen e fiquei com mais vontade ainda de ver este.
    Admiro muito seus escritos.

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    Respostas
    1. Siby13, obrigada pelo carinho. Realmente, Woody Allen é sempre uma boa experiência. Talento único!

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  4. Renato, Acho que vale a pena arriscar esse novo Woody Allen porque há uma sensatez por trás dele. Embora eu ache que o script deixou buracos e não desenvolveu muito o seu potencial, a atuação do Phoenix é interessante. Abraços,

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