Semana do Terror e Horror MaDame Lumière
25 a 31 de Agosto
Um riso nervoso nunca é demais!
Por Cristiane Costa
Poucos filmes de terror têm a habilidade de criar uma atmosfera tensa, macabra e assustadora a ponto de incorporar no ambiente a constante sensação de que o mal atravessará a Tela do Cinema, possuirá os corpos dos espectadores e os levará às profundezas de um perverso mundo sobrenatural. Isso acontece em "A Entidade" (Sinister, 2012) de Scott Derrickson, diretor especializado em filmes do gênero como "O Exorcismo de Emily Rose"e "Livrai-nos do mal" e que no vindouro "A Entidade 2" passa a batuta da direção para Ciarán Foy e atua como um dos produtores e roteiristas.
No enredo, Ellison Oswalt (Ethan Hawke) é um escritor de livros sobre crimes, casado com Tracy (Juliet Rylance) e pais de 2 filhos, Ashley (Clare Foley) e Trevor (Michael Hall D'Addario). Depois do seu último best-seller, ele nunca mais conseguiu um sucesso editorial. Precisa de dinheiro e de um novo projeto de pesquisa criminal que possa inspirá-lo a escrever um livro. Interessa-se pelo assassinato de uma família que foi enforcada em uma árvore, tem a insana (e corajosa) decisão de se mudar para a casa dessa família e, após encontrar uma caixa com vídeos Super 8 filmados em "Found footage", passa a investigar quem é o serial killer por trás de mortes que acontecem desde a década de 60. Dividido entre a necessidade de permanecer na casa e escrever o livro, a curiosidade em descobrir quem está por trás dos assassinatos e a crescente sensação de medo e insegurança que começa lhe perseguir, ele está na mira da assombração.
Scott Derrickson e C. Robert Cargill elaboram um roteiro que reúne uma história de terror clássica com três peças básicas: uma figura aterrorizante do mal, uma família e uma casa mal assombrada. Embora seja elementar, essa estrutura narrativa sofre o acréscimo de dois excelentes recursos de suspense para dinamizar a história: uma investigação criminal amadora sobre um suposto serial killer que assassina famílias e desaparece com crianças desses núcleos familiares e uma lenda pagã que fundamenta os diabólicos acontecimentos. A combinação eficiente de suspense, horror e mistério e uma direção experiente e crível, que articula muito bem os elementos em cena e as imagens de gênero terror "Found Footage" , e se dedica a elevar o medo e provocar uma tensão fazem do longa um teste para os nervos. Se não quiser ficar com tanto medo e paranoia de que a Entidade está lhes espionando em algum cômodo da casa, assista-o somente se estiver acompanhado ou durante o dia. É essa a sensação terrível que o longa dá! Como a casa é um dos principais personagens da história e, por tradição do gênero, herda maldições, aqui ela não é fisicamente horripilante mas é o centro do mal.
A direção e equipe técnica fazem a diferença em trabalhar com excelente movimentação de câmera em diferentes ângulos e com precisos efeitos visuais que expressam a paranoia de Ellison e jogam o espectador em um casa que ninguém gostaria de ficar nem por um segundo. Eles também harmonizam o jogo de luz entre claro e escuro, com sombras bem intercaladas que criam uma atmosfera de um mal iminente a surgir a qualquer instante, em qualquer lugar e que não pode ser visualizado e nem combatido. A edição que equilibra as cenas com o elenco e as cenas dos assassinatos filmados em Super 8 é bem realizada à medida que traz o horror dos crimes e a perversidade extrema do serial killer e seu sadismo ao ter filmado as famílias, ora em clima de alegria e, depois, sendo exterminadas cruelmente. Sem as cenas de "Found Footage" , o filme não teria o fator determinante da repulsa, que provoca a sensação de horror, e muito menos a sua natureza de suspense.
A atuação de Ethan Hawke é consistente e ele se envolve no papel com muito profissionalismo. Tem que lidar com responsabilidade de ser o provedor da família, não encerrar a carreira de escritor como um fracassado ou um escritor de um sucesso editorial só e, ainda, manter a sanidade mesmo quando está constantemente sendo assombrado e perseguido pelas forças do mal. Embora seu personagem leve o filme nas costas e assuma o trabalho de investigação e pesquisa praticamente sozinho, sua interação com os demais personagens como sua esposa, o professor Jonas (Vincent D'Onofrio), o xerife (Fred Dalton Thompson) e o policial (James Ransone) é positiva para audiência porque é o único momento que há uma pausa na tensão psicológica e é possível respirar antes que o coração saia pela boca. Além do mais, Ethan Hawke está bem dentro da personagem como um "voyeur" dos macabros vídeos Super 8 . Por mais que seja um escritor, ele é a representação do público de terror pois fica obcecado em ver e rever os vídeos por mais aterrador e doentio que isso possa parecer. Ele está determinado a encontrar uma pista sobre quem é o assassino e vai entrando em uma espiral de aumento de consumo de álcool e muita paranoia. É muito inteligente essa maneira do roteiro criar um espectador de terror dentro da própria história de terror. Além dessa grande sacada, o desfecho é imperdível. Fatal e cruel.
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