Sou MaDame Lumière. Cinema é o meu Luxo.

Como um bom Italiano, o aclamado diretor Bernardo Bertolucci tem uma produtiva mente sexual , prova ímpar de tal erotismo são dois de s...

O Último Tango em Paris (Ultimo Tango a Parigi) - 1972




Como um bom Italiano, o aclamado diretor Bernardo Bertolucci tem uma produtiva mente sexual, prova ímpar de tal erotismo são dois de seus grandes filmes: Os Sonhadores (The Dreamers, 2003), reconhecido por um efervescente e intelectual mènage a trois formado por Eva Green, Michael Pitt e Louis Garrell e O Último Tango em Paris (The Last Tango in Paris, 1972), a orgásmica obra prima clássica do Erotismo subversivo, estrelado pelo mítico muso Marlon Brando e a atriz Francesa Maria Schneider. Em plena década de 70, época da carrasca Ditadura, Bertolucci decidiu lançar este tórrido romance master com uma forte densidade psicológica , transpondo para o roteiro uma narrativa bastante erótica e complexa na qual há um envolvimento sexual entre dois desconhecidos: um viúvo americano de meia idade, Paul, que acabara de perder a esposa suicida, e uma Lolita Francesa de 18 anos, a liberal atriz Jeanne. A estória é de total autoria de Bertolucci que escreveu sobre suas fantasias sexuais e cuja premissa básica era o encontro destes dois estranhos que iniciam uma série de encontros sexuais sem divulgar seus nomes um ao outro, desta forma, o teor de adentrar o desconhecido e erotizado chocou ainda mais a opinião pública convencional, e foi uma afronta aos tradicionais em vários sentidos, em especial, tida como uma pornográfica película pela Igreja e pelos governos totalitários que praticamente proibiram a exibição do filme, tanto pelas sórdidas cenas de sexo como também pelo texto com claras evidências libertária e anticlerical.





O Último Tango em Paris tem sua narrativa na capital Parisiense, ambientado primorosamente em uma atmosfera sensual e com um toque de mistério muito bem fotografada pelo excepcional talento de Vittorio Storaro, e com um excelente jogo de luz e sombra dado pela sofisticada câmera de Bertolucci. Estes planos sombreados, especialmente no foco dos corpos e rostos dos amantes no apartamento no qual se encontram, tornam as cenas mais libidinosas porque criam uma aura subversiva, levemente escurecida, adentrando este ambiente periférico, desconhecido, obsceno, penumbrado no qual eles, no primeiro encontro, se beijam ardentemente e transam em pé, vestidos, até relaxarem no pós-orgasmo, fatigados no chão. A consagrada trilha sonora de Gato Barbieri e sua envolvente musicalidade jazzista evoca ainda mais o tom melódico de um drama erótico, impregnado de uma sensualidade cheia de tesão, e ao mesmo tempo, traz notas musicais que se desdobram em um clima de suspense e de sofisticação. A atuação dos protagonistas tem a irresistível química do íntimo(e também distante) sexo casual, sem compromisso porém factível de se tornar um vício obsessivo, uma prazeirosa co-dependência, comprovando que alguns envolvimentos sexuais imprevisíveis, loucos, proibidos e/ou libertinos podem culminar em uma bela e trágica paixão. Maria Schneider encarna muito bem uma jovencita bem liberal, que entra facilmente na sedução de um homem experiente encarnado pelo estranho e atormentado Paul na formidável atuação de Marlon Brando. Além disso, através dos personagens de Maria Schneider e Jean-Pierre Léaud, mais uma vez, Bertolucci dialoga metalinguisticamente com o Cinema dentro de sua própria Arte cinematográfica pois Marcel (Léaud), o namorado de Jeanne, é um cineasta e a dirige em um filme.




O que torna O último Tango em Paris um clássico atemporal, valoroso além do mero Erotismo? Além da magnífica direção, do complexo roteiro e da consagrada metalinguagem "Bertolucciana" com o Cinema, este longa-metragem enfoca tabus sexuais e é orquestrado de uma forma magistral que o torna um romance com intensa densidade psicológica, por isso, independente de sua carga libidinosa, a película é um soberbo drama sobre um homem amargurado que perde a esposa Rosa (Veronica Lazar), uma mulher de passado e presente duvidosos que pôs fim a própria vida em um inexplicável suicídio. Paul sofre muito com esta perda e prova disso é contemplar a perfeição da catártica cena na qual Marlon Brando conversa com a falecida mulher , a xinga e chora em frente ao seu túmulo. Como já é comprovado no Cinema, Bertolucci faz exatamente o que outros diretores já fizeram: recorre ao sexo como uma válvula de escape em momentos de sofrimento. O desejo pela carne e o prazer do coito alivia as dores como um analgésico, preenche o vazio da existência. Dentro deste cenário, Paul encontra uma desconhecida em um apartamento e não quer saber o nome dela, assim como não quer contar o seu, afinal nomes têm relação direta com uma história, um passado e a vida dele está destroçada por uma morte. Já Jeanne é muito jovem, liberal, desinibida, curiosa sexualmente, mente aberta, tanto que não vê problemas e nem perigo em trair o namorado transando loucamente com um homem maduro, além disso há neste filme um tipo de relação Freudiana (campo psicanalítico que Bertolucci aprecia e já havia abordado em O Conformista de 1970) pois Jeanne fala da família, do seu pai. O envolvimento com um homem mais velho que poderia até mesmo ser seu pai é um recurso psicanalítico Edipiano e é muito eficaz em relacionamentos entre uma mulher muito jovem e um homem bem mais velho. Então, no apartamento secreto, eles são somente dois corpos consumidos pela libertinagem do sexo. Lá, ele a domina de forma descompromissada e tudo é permitido, inclusive escandalizar o público em cenas bem pervertidas que são abertamente "spoilerizadas" há anos: Paul sodomiza Jeanne usando manteiga como lubrificante pedindo para ela declarar uma mensagem "religiosa" em uma cena que mais parece um estupro; ele também pede a Jeanne para ser penetrado no ânus com os dedos dela enquanto ele, excitado, fala para que ela transe com um porco, enfim, tabus que são tabus até hoje no Cinema e na vida real.





O final é surpreendemente assustador e trágico, porém sublime e romântico como as grandes tragédias de amor, e reafirma o triste destino deste casal, principalmente o de Paul que, esplendidamente é eternalizado na crível intepretação de Marlon Brando, uma atuação tão bela como bailar um passional Tango Argentino.



Avaliação MaDame Lumière



Título original: Ultimo Tango a Parigi/The Last Tango in Paris
Origem:
França
Gênero:
Drama
Duração:
123 min
Diretor(a):
Bernardo Bertolucci

Roteirista(s): Bernardo Bertolucci e Franco Arcalli, baseado em estória de Bernardo Bertolucci
Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider, Maria Michi, Giovanna Galletti, Gitt Magrini, Catherine Allégret, Luce Marquand, Marie Hélene Breillat, Catherine Breillat, Jean-Pierre Léaud, Massimo Girotti, Veronica Lazar, Rachel Kester.

5 comentários:

  1. Eu ia dormir..pq estou canssado pelas vuvuzelas e o jogo de HJ,rs. Quando resolvo dar uma passada no blog da minha amiga DIVA vizinha e leio a melhor definição deste clássico amanteigado do Bertolucci.

    O que é este filme?

    Que coragem ao realizá-lo e quanda maestria do scrip, direção e atuações soberbas de Brando e Schneider.

    Não existiria '9 semanas e meia de Amor' ou qualquer outra fita do Adrian Lyne, rs..se não fosse Último tango. E Paris é a capital do sexo né?

    Ai Madame..ficou ótimo. Resenha excepcional.

    Bjs Dietrich!

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  2. A primeira vez em que assisti a este filme fiquei meio chocada, mas, hoje, vejo que a obra nem tem nada demais. A realidade é que ela segue bem o estilo do Bernardo Bertolucci. Ele é ousado como diretor. E isso pode ser bom, às vezes.

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  3. Perfeita resenha madame. Vc fez justiça a essa obra atemporal. E concordo plenamente quanto ao significado do sexo no filme.
    bjs

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  4. Delícia esse filme, Madaminha!
    Muito bem torneado e escrito por ti aqui, diria que foi um dos seus posts mais "orgásticos", rs

    Preciso revê-lo, pois é uma abordagem muito bem expressa - e como disse Rodrigo, o cinema posterior usou de seu argumento para produzir outros filmes sexualizados...

    Ainda que eu prefira Os Sonhadores a este, reconheço seu valor!

    beijos

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  5. CLARO QUE SIM VITOR
    Estevan, vc é meu ídolo!
    Mais uma vez MUUUUUUITO OBRIGADO!

    Consegui agora capturar todas as fotos!

    E que vizinho seu esse!

    A última foto então... nossa! Me acabei nela!

    Não acreditava que ele tivesse toda essa potência. Imagina ele enfiando tudo e depois gozando!

    Sinceramente eu fiquei com uma ENORME VONTADE DE conhecer esse seu vizinho... mas como estou deveras longe pra caramba, me contendo só com o que já vi e vou ficar sonhando, sonhando...

    Como promessa feita tem que ser cumprida, vou contar o que aconteceu com um vizinho meu!

    Teve uma época em que onde eu morava (com meus pais, claro) que havia uma boa vizinhança. Nossa casa tinha o muro do quintal que dividia o nosso com os que moravam ao lado. Até aí tudo bem.

    Um certo dia de manhã, me deparei com uma visão que sobresaltou meu coração: o vizinho (corpulento, forte e machão) estava se banhando debaixo da caixa d'água só de sunga branca clara. Eu percebi um enorme volume que se mostrava entre as pernas dele. Que que é isso???? Fiquei paralizado na hora com aquilo que nessa distração, não percebi quando um dos meus irmãos chegou perto de mim e por pouco ele não sacou o que eu estava olhando naquela hora.

    Mas a surpresa maior eu ia ter depois de algum tempo. Havia perto de um canto no muro em que tinha um buraco que se podia espiar. Certa vez eu estava no quintal quando ouço um barulho parecendo de água caíndo de uma torneira. Quando eu olho pro buraco do muro, o que vejo????

    SIMPLESMENTE o vizinho (aquele machão corpulento e forte) que estava com uma bermuda vermelha curta, com todo o seu PAU pra fora dando uma mijada!

    Aquilo pra mim foi uma visão INESQUECIVEL de um grande pau que até hoje lembro com saudade...

    Era um pau bem grosso, devia ter seus 15cm, mas o espetacular era a cabeça da pica. Enorme e saliente quase como um cogumelo e aquelas dobras da beirada... nossa! Quanta loucura aquilo. O pau estava todo pra fora. O saco então era proporcional ao tamanho do cacete. Simplesmente, um conjunto perfeito.

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