Alinhado a isso o que chama mais a atenção na película são as personas selecionadas que foram criadas a partir do projeto de pesquisa do filme que realizou entrevistas com frequentadores de salões de baile e são apresentadas em um único ambiente, como um filme-coral. Cada um tem um drama que encontra potencialmente no expectador um processo de identificação imediato, consequentemente é possível entrar em suas vidas, sentir suas dores e amores ainda que seja por minutos. Álvaro (Leonardo Villar) é o grande bailarino, ganhador de vários prêmios, e que hoje encontra-se parado no salão, mal humorado e com o pé lesionado. Sua namorada, a viúva Alice (Tônia Carreiro) já tem problemas de memórias (Alzheimer), mas vai ao baile para observar o movimento, ama muito Álvaro e evita dançar para ficar ao lado dele. Marici (Cássia Kiss) é a mulher de meia-idade que tem como parceiro o 'bom de lábia' do salão, o galanteador Eudes (Stepan Nercessian). Ela é abandonada no início do baile, trocada por uma garota bem jovem. Eudes fica fascinado pelo frescor de Bel (Maria João), namorada do DJ Marquinhos (Paulo Vilhena). Irritado e morto de ciúmes, Marquinhos não pode deixar de trabalhar e correr atrás da namorada dele, mas não perde a chance de dar uma 'dura' no côroa e fazer as ceninhas passionais. Elza (Betty Faria) é a mulher que ninguém chama para dançar, senta-se ao lado da amiga Nice (Miriam Mehler) e tenta ocultar sua solidão e rejeição, mas também se esforça em insinuar-se aos homens do baile. Rita (Clarisse Abujamra) é a misteriosa mulher casada e abastada que visita o baile às escondidas e tem uma libidinosa 'pegada' com o dançarino Argentino, provavelmente porque a vida dela deve ser chata demais, precisa de aventuras. Liana (Marly Marley) é a esposa traída que convence o marido a levá-la ao salão pela primeira vez e, lá encontra o rabo de saia com a qual o esposo transa, Aurelina (Conceição Senna), a mulher com senso de liberdade que adora sair com homens, viver intensamente emcima de 'seus corpos molhados'.
Percebam que, em uma noitada (dançante), é bem provável que você já tenha se sentido como algum deles. Encostado em um canto do salão sem ninguém o convidá-lo para dançar, mirando a pessoa que lhe agrada flertando com outro e morrendo de ciúmes, com vontade de chorar ou esmurrar o concorrente, seduzido pela dança e por uma mulher(homem), entregando-se ao seu parceiro/paquera com beijos e abraços fervorosos, ficando parado porque a pessoa que você ama não quer dançar, disposto a pegar 'todos(as)' ou pelo menos um deles para sentir o calor do suor de sua pele, o prazer do sexo casual, tenha se fascinado por um homem/mulher mais velha ou mais jovem ou mergulhado na sua introspecção, com distantes e solitários pensamentos no extremo da movimentação. Toda esta miscelânea de emoções está em Chega de Saudade e são sentidas independente da idade, torna-se algo universal.
O deleite da película é assistí-la de forma envolvente e também descontraída, afinal, ela tem a energia que faz com que a gente se envolva naturalmente com este baile de sentimentos de pessoas tão comuns, de carne e osso como todos nós. Tanto que o mérito do roteiro de Luiz Bolognesi é o que ele faz muito bem: espontaneidade de ser com uma leveza de linguagem, bem realista. Ele não se aprofunda na densidade dos relacionamentos porque estamos em um baile de salão em constante movimento, mas os personagens são filmados com um viés que não os tornam superficiais, há uma harmonia satisfatória neste roteiro no drama e no humor considerando este ambiente fechado que é bem fotografado por Walter Carvalho, mas que ainda limita o desenvolvimento de uma história com vários personagens em um salão de dança ao longo de 95 minutos. Com a câmera de Laís Bodanzky, é como estar no Baile Chega de Saudade e, a cineasta tem a sensibilidade fílmica de enfatizar alguns detalhes fundamentais que colaboram para a emoção da cena, como por exemplo, Cássia Kiss, suas rugas profundas, bem marcadas ao chorar ao som de Carinhoso de Pixinguinha e, ao olhar para as suas mãos já desgatadas pelas linhas de expressão, e o close nos pés femininos de Clarisse Abumjara trajando uma sexy sandália de salto alto. Ela chega ao local de óculos escuros como que ocultando sua 'vida dupla' e já tem uma mesa e uma garrafa reservadas para flertar em um lugar privativo. Finalmente, por conta destas nuances, é possível sensibilizar-se com eles, compreendê-los em sua intimidade.
Título Original: Chega de Saudade
Origem: Brasil
Gênero(s): Drama
Duração: 95 min
Diretor(a): Laís Bodanzky
Roteirista(s): Luiz Bolognesi (e equipe)
Elenco: Leonardo Villar, Tônia Carrero, Cássia Kiss, Betty Faria, Stepan Nercessian, Maria Flor, Paulo Vilhena, Elza Soares, Marku Ribas, Conceição Senna, Marcos Cesana, Clarisse Abujamra, Luiz Serra, Miriam Mehler, Marly Marley
Madame, eu simplesmente amo este filme.
ResponderExcluirCompletamente simples e com uma história tão humana e envolvente!
Completamente delicioso. Assim como vc mesma ressaltou em seu texto, o filme dá uma vontade louca de dançar e etc, rs, minha mãe depois de ver o filme, ficou louca pra conhecer o BAILE da Terceira Idade.HAHSUHAHUSA
Um ótimo filme !
Abs.
Um filme é uma delícia mesmo, como você falou e a gente acaba se identificando com cada personagem nos bailes da vida.
ResponderExcluirRealmente esta dupla é de respeito. Eles melhoram a cada filme. Contudo, no escopo geral, Chega de saudade é o filme mais fraco (e talvez mais pretensioso) de Laís. Gosto do filme como espectador, no entanto, como crítico tenho algumas restrições.
ResponderExcluirbeijos
Lais Bodanzky e Luiz Bolognesi é uma dupla que realmente vem se destacando cada vez mais.
ResponderExcluirAinda não assisti a esse filme, mas fiquei com vontade dps de ler teu review e a descrição de algumas cenas!
O cinema nacional tá cada vez melhor, isso é certeza!
Madame Dietrich,
ResponderExcluiré mesmo uma delicia assistir este que é o filme mais simpático de Laís Bodanzky.
Para minha avó foi muito nostálgico.
Eu não sei dançar, mas admiro um filme como 'Chega de saudade'.
Bodanzky matou a saudade de muita gente com seu filme. Luiz Bolognesi é um excelente roteirista, sempre com a esposa, sou fã de seus filmes. 'As Melhores Coisas do Mundo' também é ótimo e 'Bicho de 7 Cabeças'(sem contar que revelou o Rodrigo Santoro) foi o UP do cinema nacional, até antes de Cidade de Deus.
Gostei de como você aborda o filme, pontuando a naturalidade que é a fita e como o filme nos envolve mesmo!
Vamos dançar? rs!
Bjs,
Rô
Ainda não assisti "Chega de Saudade", mas, incluindo seu texto, só li elogios a esta obra. Espero poder conferir em breve!
ResponderExcluirOlá MaDame... tô visitando seu blog por recomendação do Raspante.
ResponderExcluirSe topar parceria ficaria mt honrado...
Bjus